COMÉDIAS DA VIDA "ALEIJADA"
Pois
é, quem é cadeirante e leva a vida com leveza tenho certeza que
tem muita história pra contar!
Têm
dias que é difícil ver o lado cômico da vida, como pra todo
mundo, mas o bom mesmo é agente tentar levar a coisa na
brincadeira, fica bem fácil!
Nas
rodas de amizade entre cadeirantes e outras deficiências, as
histórias correm soltas... quanto mais você vive, mais enfrenta
problemas e dificuldades, e automaticamente tem histórias pra
contar!
São
tragicômicas, mas são histórias nossas e que, muitas,
mereceriam um livro para contar as pérolas desta vida!
Como
diz a minha amiga e escritora bem humorada, tetraplégica, Carlena
Weber, as histórias da vida aleijada!
Resolvi
aqui contar algumas das minhas, aos olhos de quem não tem nenhuma
deficiência, pode parecer mais trágico do que cômico, mas pra
mim foi realmente divertido:
Um
dia em uma reunião para formarmos a associação de pessoas com
deficiência física da nossa cidade, um cidadão, a quem eu
conhecia de antes do meu acidente, chegou com aquela perguntinha
básica:
E
então como é que tu estás?
Eu
claro já sabia que este “estás” queria dizer:
E
daí não vai
HEIN?????
Ou
então na hora do embarque do avião:
Tá
mas tu não caminha nada mesmo???s mesmo voltar a andar???
Respondi:
Estou
ótima e tal... e a figura me disse:
Tá
mas tu nunca tentou levantar???
HEIN????
Acontecem
episódios terríveis, como sou tetraplégica preciso de ajuda
para fazer a sondagem da bexiga, nosso CAT (vem da palavra
cateterismo vesical), forma carinhosa de chamar o tal procedimento
para retirar o xixi de dentro da bexiga.
Meu
marido é craque no assunto depois de mais de 16 mil CATs que já
fez nesta minha vida aleijada, afinal como a mesma Carlena diz:
Em
terra de tetraplégico quem anda é escravo!
E
ele é o meu... hehehehehe.
Bom
seguindo a história, fazemos CATs onde dá, já que nosso país é
uma belezura em acessibilidade e os banheiros adaptados são
raridade, então fazemos no carro, no mato, em cozinhas ou
qualquer parte de uma casa, na beira da praia em uma barraquinha
feita por um bando de mulheres de cangas e onde minha bexiga
mandar!
Neste
fatídico dia tínhamos um banheiro, bem adaptadinho, no aeroporto
de Porto Alegre.
Lá
tem um sistema, em alguns dos banheiros, de uma porta com abertura
automática, apertas um botão a porta abre, ela demora um
tempinho e se fecha automaticamente.
Advinha???
Estou
eu em uma posição linda e maravilhosa na minha cadeira de rodas
para que o maridão enxergasse a uretra... dá pra imaginar a
cena?
Então
inesperadamente a porta se abre, uma mocinha da limpeza resolveu
abri-la, e lá estou EU, estatelada de pernocas abertas, e pior
tive que esperar o tempo passar pra linda porta se fechar
automaticamente!
UFA!
Todo
mundo que fica tetra sabe como é ter uma “pochete”
automaticamente embutida.
Isso
porque a lesão medular sendo bastante alta não se tem controle
algum sobre os músculos do abdômen.
Se
já é difícil ter uma barriguinha sequinha antes da lesão,
depois dela chega a pochete tetra, se instala e “adeus Mariana”,
nunca mais sai dali!
Ás
mulheres que resolvem ser mães o presente vem em dobro!!
Eu
então, já tinha um pneu de bicicleta, dos fininhos, antes da
lesão e não fui isenta deste presente de tetra.
Fui
mãe, então ganhei em dobro! Fora que, como pra todo mundo,
agente acorda de manha magrinho e vai dormir gordinho, agente
incha um pouco a mais que o normal e o abdômen se distende
durante o dia.
Minha
barriga, apesar de ter a tal “pochete” é bem lisinha, não
tem celulites e estrias então olhando realmente parece uma
barriga de grávida, um melão e as vezes uma pequena melancia.
Assim
estou super acostumada, quando vou pra praia que não uso cintas
abdominais, no dia-a-dia preciso das cintas para ajudar na
respiração e na fala, e daí acordo de manhã, coloco meu
biquíni e fico grávida de 3 meses, quando chega o fim da tarde a
barriga já está de 6 meses e a noite, depois do banho, coloco
minha cinta e apareço sem barriga (já pari a criança...)!
Adoro
ir para hotéis de beira de praia e ficar só lá, sem dar grandes
passeios, agente acaba fazendo amizades e daí vem a pergunta
fatídica:
Estás
grávida né?
Quantos
meses?
Eu
sempre planejo dizer sim!
De
4 meses!
Mas
nunca tive coragem...
Teve
uma ocasião que uma garçonete super simpática veio com a
maldita perguntinha:
Ai
que legal, estás grávida né?
Eu
rio e digo, não sou assim mesmo...
Ela
não sabia onde enfiar a cara!
Depois
voltou e disse:
Mas
tu tens certeza??
Acho
que tu estás enganada... tentando amenizar a situação...
Cômico
não?
Pois
é, então lanço aqui um desafio, conte-nos a sua história!
Fonte
– cadeirantes life
SER CADEIRANTE...
Ser cadeirante é ter o poder de emudecer as pessoas quando você passa…
Ser
cadeirante é não conseguir passar despercebido, mesmo quando
você quer sumir!
E
ser completamente ignorado quando existe um andante ao seu lado.
E
isso não faz sentido, as pernas e os braços podem não estar
funcionando bem, mas o resto está!
Ser
cadeirante é amar elevadores e rampas e detestar escadas…
Tapetes?
Só
se forem voadores, por favor!
Ser
cadeirante é andar de ônibus e se sentir como um “Power
Ranger” a diferença é que você chega ao ponto e diz:
“é
hora de MOFAR”.
Ser
cadeirante é ter alguém falando com você como se você fosse
criança, mesmo que você já tenha mais de duas décadas.
Ser
cadeirante é despertar uma cordialidade súbita e estabanada em
algumas pessoas.
É
engraçado, mas a gente não ri, porque é bom saber que ao menos
existem pessoas tentando nos tratar como iguais e uma hora eles
aprendem!
Ser
cadeirante é conquistar o grande amor da sua vida e deixar as
pessoas impressionadas…
E
depois ficar impressionado por não entender o porquê do espanto.
Ser
cadeirante é ter uma veia cômica exacerbada.
É
fato, só com muito bom humor pra tocar a vida, as rodas e o povo
sem noção que aparece no caminho.
Ser
cadeirante e ficar grávida é ter a certeza de ouvir:
“Como
isso aconteceu?”
Foi
a cegonha, eu não tenho dúvidas!
Os
pés de repolho não são acessíveis!
Ser
cadeirante é ter repelente a falsidade.
Amigos
falsos e cadeiras são como objetos de mesma polaridade se repelem
automaticamente.
Ser
cadeirante é ser empurrado por ai mesmo quando você queria ficar
parado.
É
saber como se sentem os carrinhos de supermercado!
Ser
cadeirante é encarar o absurdo de gente sem noção que acha que
porque já estamos sentados podemos esperar, mesmo!
Ser
cadeirante é uma vez na vida desejar furar os quatro pneus e o
step de quem desrespeita as vagas preferenciais.
Ser
cadeirante é se sentir uma ilha na sessão de cinema…
Porque
os espaços reservados geralmente são um tablado ou na turma do
gargarejo e com uma distancia mais que segura pra que você não
entre em contato com os outros andantes, mesmo que um deles seja
seu cônjuge!
Ser
cadeirante é a certeza de conhecer todos os cantinhos.
Porque
Deus do céu, todo mundo quer arrumar um cantinho para nós?
Ser
cadeirante é ter que comprar roupas no “olhômetro” porque na
maioria das lojas as cadeiras não entram nos provadores.
Ser
cadeirante é viver e conviver com o fantasma das infecções
urinárias.
E
desconfio seriamente que a falta de banheiros adaptados contribua
para isso.
Ser
cadeirante é se sentir o próprio guarda volumes ambulante em
passeios pelo shopping.
Ser
cadeirante é curtir handbike, surf, basquete e outras coisas que
deixam os andantes sedentários morrendo de inveja.
Ser
cadeirante é dançar maravilhosamente, com entusiasmo e colocar
alguns “pés-de- valsa” no bolso…
Ser
cadeirante é ter um colinho sempre a postos para a pessoa amada…
E
isso é uma grannndeeee vantagem!
Ser cadeirante (e mulher) é encarar o desafio de adaptar a moda pra conseguir ficar confortável além de mais bonita.
Ser
cadeirante é se virar nos trinta pra não sobrar mês no fim do
dinheiro, porque a conta básica de tudo que um cadeirante
precisa…
Ai…
Ai… Ai…
Essa
merece ser chamada de Dolorosa.
Ser
cadeirante é deixar um montão de médicos com cara de: “e
agora o que eu faço” quando você entra pela porta do
consultório…
Algumas
vezes é impossível entrar, a cadeira trava na porta…
Ser
cadeirante é olhar um corrimão ou um canteiro no meio de uma
rampa, ou se deparar com rampas que acabam em um degrau de escada
e se perguntar:
Onde
estudou a criatura que projetou isso?
Será mesmo que estudou?
Ser
cadeirante é ter vontade de grudar alguns políticos em uma
cadeira por um dia e fazer com que eles possam testar os lugares
que enchem a boca pra chamar de acessíveis…
Ser
cadeirante é ir à praia mesmo sabendo que cadeiras + areia +
maresia não são uma boa combinação!
Ser
cadeirante é sentir ao menos uma vez na vida vontade de sentar no
chão e jogar a cadeira na cabeça de outro ser humano.
O
texto acima escrito por Leticia Oliveira.
leticia-oli@hotmail.com
Fonte
– deficienteciente.com.br
SUPERAÇÃO
superar limites, sejam eles fisicos ou psicologicos,
só
depende de nós
as
pessoas quando nos conhecem,
se
esquecem de uma coisa,
nós
a conhecemos,
sabemos
de seus pontos fracos e fortes,
mas,
na
maioria das vezes,
elas
nos atingem primeiro
e
nos atordoam
e
achamos q não temos saida,
feche
os olhos,
encare
a realidade,
e
surpreenda
se
levante
Me
levanto todos os dias,
falar
o que é lindo e belo no face,
é
mole,
só
poucos conhecem a realidade,
encaram
e mostram como se levantaram,
porque
ao se levantar,
sabe
que outros ataques virão,
e
nem todos estão prontos para batalhar,
todos
os dias.
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Criei este blog com a finalidade de compartilhar as minhas experiências e a luta na minha reabilitação, também compartilhar história de vidas, artigos sobre os deficientes que abordem nossos direitos, curiosidades, denúncias e outras questões; afinal a vida continua, então vamos vivê-la da melhor maneira possível com dignidade, respeitando nossas limitações. - O bom guerreiro caminha dez mil passos para vencer uma batalha e quantos forem necessários para vencer a guerra.
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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
Comédias da vida "aleijada"
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Vai se fazer o que em certas ocasiões em que o cadeirante é abortado com perguntas, exclamações e indagações que não passam de piadas de muito mal gosto; não sei acho que as pessoas não raciocinam ou não tem noção e conhecimento para dialogar por causas das asneiras que falam; será que é difícil se dirigir diretamente ao interessado.
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