Perguntas,
frases e termos cretinos em relação à deficiência.
Ao
longo dos meus 27 anos, acumulei (e vou continuar acumulando)
"pérolas" que as pessoas dizem ou perguntam em relação
à deficiência.
Sempre
levei com bom humor, tranquilidade e relevei as koisas
mais absurdas/cômicas que ouvi.
Nunca
me senti agredida por acreditar que, em cem por cento dos casos, as
pessoas disseram ou perguntaram por falta de conhecimento mesmo
- não por maldade.
O
fato é que, como trabalho com a deficiência e essa também é
a minha identidade, adotei uma postura mais política (ou seria
politizada?) nos últimos tempos... o que, automaticamente, levou-me
à irritação com o uso indiscriminado de termos inadequados ao
mundo dos deficientes.
Tenho
absoluta certeza de que muitas (ou quase todas) pessoas com
deficiência vão se identificar com o conteúdo desse texto, sejam
elas surdas, cegas, cadeirantes, que nasceram já com a lataria
amassada e/ou meio kapenga
(tipo eu... ho
ho
ho).
Talvez
as pessoas sem
deficiência também se identifiquem em algum momento por terem
dito/perguntado alguma "pérola" dessas que vou citar e
comentar abaixo.
Termos
cretinos:
Portador
de deficiência.
Recorri
ao bom o velho dicionário para não ficar só na minha impressão
(que estava correta).
"Portar"
significa carregar, conduzir ou trocar.
Agora
me diz, karo
leitor,
desde quando eu porto meu joelho remendado?
Desde
quando os cadeirantes podem simplesmente se desfazer da cadeira
de rodas como se tirassem o sapato?
É
tudo uma koisa
só, um estado de viver o mundo.
Ou
será que daqui a pouco teremos que tirar porte de deficiência?
Portador
de necessidades especiais.
Gentem,
quem não tem uma necessidade especial nessa vida?
Eu
tenho tantas!
Tenho
necessidade de água, chocolate, amendoins e livros.
Para
alguns, a necessidade especial é uma rampa, para outros é ter uma
bolsa Victor Hugo, para outros é simplesmente ter o que comer.
Termo
muito relativo, não?
Especial / excepcional.
Bom,
vejo aí uma tentativa (ridícula) de supervalorizar a deficiência
como forma de compensar "a desgraça do coitadinho do
deficiente".
Dispenso
maiores explicações.
Então
qual é a forma correta de se referir aos 'matrixianos'?
Diga
apenas "pessoa com deficiência" ou
"deficiente" e esqueça todo o resto!
Kombinado
com Ká?
Frases
e perguntas cretinas:
Fulano
tem problema (é deficiente).
Quem
tem problema é quem pensa isso.
Aliás,
o que é problema?
E
quem não tem problema?
Tadinho,
ficou com problema (tornou-se deficiente).
Ninguém
é coitado, minha gente.
Sem
mais.
É
mais fácil nascer com deficiência do que adquiri-la depois de
certa idade.
Sinceramente
não acredito nisso.
É
muuuuito relativo.
Ter
perdido uma capacidade pode ser tão frustrante (ou não) quanto
nunca tê-la tido.
As
dificuldades e as condições de enfrentamento à deficiência
dependem de uma série de questões e variam de pessoa pra pessoa.
Portanto,
não sejamos generalistas!
Com
quantos caras "normais" você já se relacionou?.
Isso
eu ouvi de um cara (supostamente "normal") metido a
intelectual (aham!), não faz muito tempo, com quem eu tive um
affair
(chique demais essa palavra... risos).
O
fato é que a pergunta dele me chamou a atenção por parecer que,
como sou deficiente, só devo ter me relacionado com outros
'malacabados'.
Que
ingênuo!
Logo
virou desaffair...
risos.
Tal
lugar é deficiente
ou
Polícia
deficiente.
Infelizmente,
esse é um termo ainda bastante usado, inclusive na rede entre as
próprias pessoas com deficiência na internet.
Muitos
se expressam desse modo para se referirem a um lugar precário ou um
serviço que não funciona bem, o que acaba remetendo à ideia de
que ser deficiente significa ineficiência.
Que
mentira!
O
contrário de eficiente é ineficiente, certo?
Então
vamos parar de escrever "dEficiente"
e querer riscar o "d"
daquilo que somos.
Então
como se irritar menos diante de tanta koisa
absurda?
Bem,
apesar de não poder usar salto, eu não desço da sapatilha, retoco
o batom e informo as pessoas.
Na
medida do possível, eu explico as koisas
com muita educação, pois, fazendo a linha rebelde, só ganhamos a
antipatia dos outros.
Então
todo cuidado é pouco para não criarmos o movimento inverso: com
intenção de incluir e acabar segregando ainda mais.
Acredito
que informação
é o grande remédio
e a grande vacina
contra todas as bobagens que ouvimos ou dizemos por aí.
Bora
lá disseminar as doses?
Fonte
– koisascomka.blogspot.com.br
Descobrindo a própria força
Rachel
tinha apenas dezesseis anos quando, certa noite, recolheu-se ao
leito, no dormitório da escola.
Acordou
seis meses depois, numa cama de hospital, na cidade de Nova Iorque.
Ela
sofrera um forte sangramento intestinal que a fez mergulhar num
longo estado de coma.
Era
o fim de sua vida como uma pessoa saudável e o início de uma vida
como pessoa portadora de doença crônica.
Foi
nessa época que Rachel se recorda de ter verdadeiramente conhecido
sua mãe.
Até
então, lembrava-se dela como a profissional que passava longas
horas trabalhando.
Rachel
a via quando chegava em casa, tarde da noite, para lhe dar banho,
ler uma história, dar-lhe um beijo de boa noite.
Era
uma figura passageira que tinha um perfume gostoso e tomava conta
dela nos finais de semana.
Durante
os seis meses de seu coma, seus pais se tomaram de temores.
O
prognóstico médico era sombrio.
Se
saísse do coma, viveria como uma inválida, limitada por uma doença
que os médicos não compreendiam, nem controlavam.
Teria
que se submeter a uma série de cirurgias importantes.
Não
deveria viver além dos quarenta anos.
Sem
chance de retornar aos estudos.
Mas
Rachel desejava ser médica.
Ali,
deitada na cama, ouvindo seu pai lhe dizer tudo isso, ela ficou
zangada.
Não
importava o que diziam os médicos, ela iria voltar aos estudos, à
faculdade.
Queria
ser médica.
Nada
a impediria.
Ah,
disse o pai, uma
coisa a impedirá, sim.
Não
pagarei os seus estudos.
Foi
então que a mãe de Rachel, sem alteração na voz, afirmou:
Eu
pago a faculdade.
Tenho
uma conta no banco há muitos anos.
É
toda sua, Rachel.
Vinte
e quatro horas depois, ela assinou um termo de responsabilidade e
retirou a filha do hospital, contra a recomendação médica.
Tomou
um pequeno avião e levou Rachel de volta à faculdade.
Nos
seis meses seguintes, ficou levando a filha para as salas de aula,
muitas vezes empurrando a cadeira de rodas, porque ela não
conseguia andar.
Então,
quando percebeu que ela poderia cuidar de si mesma, a deixou.
Telefonava
todos os dias.
Os
dois anos seguintes foram de muitas lutas.
Rachel
não conseguia comer direito e tomava medicamentos fortes para
controlar os sintomas.
Mas
foi descobrindo uma força que desconhecia.
Encontrou
uma maneira de viver essa nova vida e seguir em frente.
Concluiu
a faculdade e passou a clinicar.
Anos
depois, conversando com sua mãe, lhe perguntou porque a deixara
sozinha em momento tão difícil.
Afinal,
ela era a sua única filha.
Eu
temia por você.
– Disse-lhe a mãe.
Mas
temia ainda mais pelos seus sonhos.
Se
eles morressem, essa doença dominaria a sua vida.
A
pior morte é permitir que sejam sepultados os próprios sonhos.
Amparar
a vida, por vezes, é algo muito complexo.
Há
momentos em que o melhor é oferecer a nossa força e a nossa
proteção.
No
entanto, acreditar numa pessoa num momento em que ela não consegue
acreditar em si mesma, tem uma importância toda especial.
Essa
nossa crença poderá se tornar o seu barco salva-vidas.
Fonte: - Momento
Espírita, com base no cap. Uma
questão de vida ou morte,
do livro As
bênçãos do meu avô,
de autoria de Rachel Naomi Remen, ed. Sextante. Em 9.12.2015.
Acho
que a segunda matéria responde toda indignação da anterior; pois
para se mudar qualquer coisa depende única e exclusivamente de nós.
Pensem
nisso!
Um
abraço a todos e um bom começo de ano.
|
|
Eu acho que se deve olhar para o deficiente como uma pessoa normal, que apenas precisa de uma cadeira de rodas para se locomover e não como se fosse um demente, ou uma pessoa com doença contagiosa porque a deficiência não é transmissível, e assim para de fazer comparações, insinuações e outras atitudes estranhas e ridículas; vamos respeitar as diferenças.
ResponderExcluirSe houvesse a convivência e interação mais frequente das pessoas com os deficientes não haveria tanta estranheza com elas; muitos ainda tem receios de se aproximar de um deficiente como se fosse uma doença contagiosa; outros o tratam como se fosse um doente mental e outras situações; agora porque não se aproximar e levar um papo normal com eles, você pode se surpreender com sua inteligência e conversação.
ResponderExcluir