A história de Juliana e Stefan é a prova de que o amor supera tudo.
O
olhar da foto acima diz muito, mas não diz tudo sobre a história da
empresária Juliana Françozo, uma bambambã da decoração de festas
infantis, e do engenheiro mecatrônico Stefan Janzen.
Ele
ficou paraplégico num acidente, em 2001.
Os
dois se conheceram um ano depois – foi ela que insistiu para
namorar.
Stefan
apostou que Ju desistiria ao deparar com sua rotina de deficiente.
Mas
ela enxergou o homem, e não a deficiência.
“Meu
príncipe não chegou em cavalo branco, mas numa cadeira de rodas”
Bati
o olho no Stefan pela primeira vez em meados de 2002.
Ele
passou por mim de cadeira de rodas.
Estávamos
na igreja que ele frequentava e eu visitava pela primeira vez.
Falei
para a minha mãe, em tom de piada:
“Poderia
namorar esse cara...”.
Só
tornaria a vê-lo no ano seguinte, quando voltei à igreja depois de
um período conturbado.
Estava
me curando de uma dengue e havia perdido dez quilos...
Apesar
do desânimo que sentia, observei de longe uma cena que me tocou: o
Stefan tirou o próprio casaco e ofereceu a um morador de rua que
apareceu na igreja com frio.
Passados
alguns dias, quando chegou o aniversário dele de 21 anos, uma amiga
em comum me ligou pedindo que eu telefonasse para levantar seu astral
– Stefan estava chateado por passar mais um ano na cadeira de rodas
[o acidente de moto que o deixou paraplégico foi em abril de 2001, e
ele ainda não havia se conformado.
O
momento mais importante na vida do casal
Conversamos
muito, e falei para ele me ligar quando quisesse.
E
não é que Stefan ligou de novo no mesmo dia?
Começaram
aí longos bate-papos diários com hora marcada.
Eu
não entendia bem o que ele queria comigo...
Conversávamos
como amigos, mas óbvio que eu esperava algo mais.
Até
que finalmente marcamos um cinema.
Lembro
que, na hora de me arrumar, cogitei escolher um sapato baixo, mas
pensei:
“Se
estivesse saindo com outro cara, eu deixaria de usar meu salto?
Não!”.
Então me vesti, me perfumei e fui.
Entrei
no carro [Stefan dirige um veículo adaptado], e bateu um
arrependimento:
“O
que eu estou fazendo aqui?”.
Mas
ele logo quebrou o gelo, colocou um CD e falou qualquer coisa que me
deixou à vontade.
Fiquei
bem atenta a seus movimentos, curiosa para entender quanto ele se
movimentava, quão independente era.
Stefan
não move do peito para baixo e só precisou de ajuda para retirar a
cadeira do carro.
Assistimos
ao filme de mãos dadas, bem namoradinhos.
Um
pouco antes dos créditos, ele me deu um beijo no rosto... que virou
um beijo de verdade!
Combinamos
de nos ver de novo.
Nunca
esqueço que, quando estava a caminho desse segundo encontro, fui
abordada na rua.
Levei
um susto.
Um
rapaz que não conhecia me olhou fundo nos olhos e disse:
“Deus
manda dizer que está chegando sua vez, que tudo está perto de
acontecer!”.
Achei
o cara apenas doido, mas ele estava certo.
Fico
arrepiada ao me lembrar disso.
Bem,
saí desse date completamente apaixonada, mas Stefan me jogou um
balde de água fria logo depois, ao telefone: avisou com todas as
letras que não queria nada sério.
Mas
não passava um só dia sem ligar.
Precisei
dar uma intimada:
“E
aí, vamos namorar?
Do
contrário, pode me esquecer!”.
Como
ele reagiu?
Aparecendo
em casa com lírios laranjas para me pedir em namoro.
O
casal em momentos de diversão já depois de casados
Veio
então a fase de conhecer as famílias, trocar alianças de
compromisso...
E,
como era de se esperar, apareceram as primeiras dificuldades.
Ouvi
coisas bem absurdas por causa da deficiência dele!
Tinha
gente que dizia que eu nunca seria feliz, que teria de cuidar dele
para sempre.
Uma
pessoa chegou a perguntar à minha mãe como eu, “uma mulher
vivida”, poderia ficar sem sexo.
Como
assim?
Aquilo
me machucava e me indignava na mesma medida.
Na
igreja que frequentávamos, boa parte dos “amigos” do Stefan se
afastou.
Alguns
abusavam de seu jeito gentil, e comigo por perto ficava mais difícil
se aproveitarem dele.
Quando
completamos quatro meses de namoro, a família dele viajou para a
Alemanha, para o casamento de sua irmã.
Ele
preferiu ficar.
E
foi aí que vivi com Stefan todas as limitações de sua deficiência.
Como
ele acreditava num milagre, a casa não havia sido adaptada, e eu
tinha de ajudá-lo a entrar e sair do banho, a coletar a sonda...
Mas
nunca pensei algo do tipo “onde foi que me enfiei?”.
Ao
contrário: nesse momento tive certeza de que queria viver com ele.
Amava
aquele homem com todo o pacote que ele me oferecia.
Simplesmente
não conseguia isolar sua condição física de todo o resto.
Era
o Stefan inteiro, por acaso com uma limitação.
Ficamos
noivos e, naquele mesmo ano, Stefan se formou engenheiro mecatrônico.
Ele,
que estava na faculdade na época do acidente, fez provas em casa no
início da reabilitação para não perder o ano letivo.
Só
impus uma condição para nos casarmos: queria que a casa fosse
adaptada.
Acredito,
sim, numa possível recuperação, mas, enquanto ela não chega,
defendo que o Stefan tenha qualidade de vida.
Foram
dez meses de preparação e uma enxurrada de gente se metendo na
nossa vida, palpitando maldosamente.
Cheguei
a desconvidar uma pessoa para o casamento por ela dizer na minha cara
que “casar com cadeirante era acabar com o próprio futuro”.
Paciência
e carinho fizeram com que esse relacionamento desse certo
Esse
tipo de coisa, por mais que me desgastasse, só me dava ainda mais
certeza do meu amor e da minha vontade de fazer dar certo.
E
deu: em 2005, numa festa para 300 pessoas, confirmamos nosso amor com
um sonoro “sim”.
Estamos
há nove anos juntos.
Minha
rotina é bem corrida com a Happy Happenings, empresa de festas
infantis que criei em 2006.
Me
esforço muito, como toda mulher, para sempre achar um tempinho só
para nós dois.
Nos
entendemos pelo olhar, sabemos quando falar e quando calar.
Só
um amor maduro traz isso.
E
como amadureci!
Hoje,
valorizo o simples fato de tomar banho sozinha ou vestir uma meia...
Aprendi
a me colocar no lugar dele.
Na
reforma da casa, por exemplo, sentei na cadeira de rodas e percorri o
ambiente para saber onde era preciso mexer.
Nossa
rotina é quase como a dos outros casais.
Não dá para irmos a
qualquer restaurante, cinema, hotel...
Quando
vamos sair, precisamos ligar, confirmar se o local pode nos receber
com dignidade.
Tem
muito estabelecimento que acha que um banheiro com barras basta para
ser considerado adaptado...
E
o que era para ser um programa bacana, leve, se torna um horror!
É
cada vez menos frequente, já que aprendi a deixar a vida do Stefan
mais confortável.
Por
exemplo, carrego material de higiene e roupa extra para ele no carro,
porque às vezes há imprevistos – por causa da paralisia, ele não
controla as necessidades fisiológicas.
Acidentes
acontecem.
Também
não podemos fazer de tudo juntos.
Dançar
abraçados de pé é impossível.
Mas
e daí?
Adaptamos
a nossa dança.
Ele
fica na cadeira e me vira com as mãos, eu sento no seu colo e o giro
também.
É
mais uma bagunça que uma dança propriamente dita, mas eu adoro.
No
sexo, também tivemos de... ser criativos.
Não
temos a mesma mobilidade de um casal comum, então aprendemos quais
posições nos favorecem e recorremos a remédios que nos ajudam a
ter uma vida sexual saudável.
O
Stefan lesionou as vértebras T7 e T8 e, apesar de ter perdido os
movimentos do peito para baixo, isso não significa que ele não
tenha nenhum tipo de sensibilidade.
Como
a ereção natural dura pouco tempo, usamos uma injeção no pênis.
É
ele que aplica porque sabe direitinho a área onde sangra menos.
É
um sangramento pequeno, nada que interfira no sexo.
Temos
de uma a três horas de estímulo.
E
é sempre bom, a despeito dessas “dificuldades técnicas”.
O
prazer dele também está em me ver, então é como se eu tivesse
orgasmo por mim e por ele.
Como
não há ejaculação, não poderemos ter filhos pelas vias normais –
quando decidirmos que é hora de aumentar a família, faremos
inseminação artificial.
Mas
é engraçado, as pessoas se surpreendem quando digo que não me
falta sexo!
Muito
pelo contrário, eu é que fujo das investidas dele, na maioria das
vezes.
Ou
seja: enfrentamos percalços, mas nunca nos vitimizamos.
Quem
não tem nossos problemas tem outros.
A
única coisa que nos tira do sério é preconceito.
As
pessoas apontam, comentam quando nos veem de mãos dadas.
Não
entendem que o que sentimos é simplesmente amor, querem nos rotular.
Quando
eu era criança, me disseram que o príncipe encantado viria num
cavalo branco, e não numa cadeira de rodas.
Mas
isso não me impediu de encontrá-lo, amá-lo e ser feliz para
sempre a seu lado.
Com
a palavra... Stefan Janzen
Em
abril de 2001, derrapei numa poça de óleo numa curva da Rodovia
Anchieta, em São Paulo, meu corpo se prendeu na moto e acabei
parando só quando a minha cabeça bateu no concreto.
Fiquei
paraplégico.
Nunca,
porém, me passou pela cabeça que poderia morrer e sempre acreditei
que voltaria a andar.
Ainda
acredito, aliás.
Comecei
a ir à igreja que minha mãe frequentava e entrei para o grupo de
louvor (toco saxofone e guitarra).
Foi
lá que conheci a Juliana.
No
início, claro, fiquei inseguro, mas sabia que quem se aproximasse de
mim naquelas circunstâncias estaria com o coração puro.
Óbvio
que passou pela minha cabeça que ela desistiria assim que conhecesse
meus altos e baixos emocionais, deparasse com meu descontrole
fisiológico.
Mas
tenho a sorte de ter uma esposa que não mede esforços para me
ajudar e aliviar as coisas para mim.
Tivemos
momentos inesquecíveis, brigamos um pelo outro, nos unimos e
amadurecemos.
Seria
mais fácil desistir.
Só
que sabemos que a vitória só vem com a luta.
“Stefan
perdeu os movimentos do peito para baixo, mas tem sensibilidade!
Quase
sempre sou eu que fujo de suas investidas sexuais”.
Olha que história maravilhosa e comovente desse casal lindo, apesar das dificuldades e o preconceito da sociedade, foram a luta e assim mostraram que se amam verdadeiramente; isso por que para o amor puro, sincero e verdadeiro não existe limites ou barreiras intransponíveis, ele supera tudo isso; é linda a história desse casal
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