Sexualidade na deficiência.
A
deficiência é só uma característica, diz Lúcia.
Como
a cor da pele ou os piercings Bruno Lisita
A
Internet ocupa um papel relevante entre as pessoas com diversidade
funcional, uma população que desafia as convenções culturais no
ato sexual, valorizando outras zonas erógenas.
O
que se pode fazer para mudar a aceitação da sociedade?
A
Internet assume-se, para alguma desta população, como uma "forma
alternativa de contornar um sistema silenciador", reconhece Aba
Cristina Santos, que o concluiu no estudo Intimidade e Deficiência
- Cidadania Sexual e Reprodutora de Mulheres Deficientes em
Portugal.
Muitas
das entrevistadas desta investigação encontravam em redes sociais
ou sites eventuais parceiros.
"Em
situações de mobilidade reduzida ou restrição imposta no
hospital, em algum período de internamento prolongado ou por
imposições familiares, a Internet era fundamental , sublinha a
investigadora.
Atualmente,
Lúcia Fisteus Marques está solteira, mas foi precisamente pela
Internet, num "chat" de conversação, que começou a
falar com um rapaz, sem qualquer tipo de limitação, com quem viria
a namorar durante alguns anos.
"Para
testar disse logo ao rapazinho que era deficiente.
Por
incrível que pareça não fugiu."
Muitas
conversas param a partir desse momento, por isso há quem esconda a
sua incapacidade.
"Não
o dizem porque têm na cabeça que a outra pessoa não vai querer
nada.
Porque,
por exemplo, se a família não o aceita, o que farão os outros?",
questiona a jovem de 29 anos com paralisia cerebral, acrescentando
que se tratam de "situações que levam a um desespero e a uma
fragilidade emocional grande".
Por
outro lado, na falta de contacto físico, muitos refugiam-se na
Internet para viver a sua intimidade, seja para sexo virtual,
pornografia ou masturbação (quando tal é possível).
Foi,
aliás, no universo digital que João Lomar, de 42 anos, também com
paralisia cerebral, aprendeu muita coisa.
Sobre
sexo.
Costuma
ir a "chats" procurar mulheres para conversar:
"Gosto
de o fazer, tenho prazer naquilo."
Às
vezes, as conversas aquecem; e quando assim é, masturba-se:
"Não
é vergonha nenhuma, é uma coisa normal."
De
quando em quando diz que tem deficiência: há quem continue a
conversa, há quem fuja.
Certo
é que nos encontros presenciais que marcou, ninguém apareceu.
Está
longe de ser o cenário ideal, mas…
"No
meu caso é bom porque não tenho mais nada."
Um
novo mapa das zonas erógenas.
Também
Ana Garrett se depara e deparou com muitas referências ao meio
online, quer na sua atividade como psicóloga clínica no Hospital
de Vila Franca de Xira, quer na sua carreira acadêmica enquanto
investigadora do ISCTE e, antes, em 2011, enquanto bolsista de
doutorado da FCT.
'Sim
há muitos encontros online, mas também há muito o "faz de
conta' que são o que não são.
Sobretudo
os jovens, infelizmente. Sentem que é a única maneira de alguém
gostar deles, de alguém se interessar por eles.
Porque
ali ninguém os precisa ver em pé.
É
neste universo digital que se escondem muitas das pessoas com
deficiência com orientações sexuais não normativas, universo a
que Ana Garrett se quer dedicar numa próxima investigação.
"Existem
muitos, atrás de uma bela tela de um computador, de dia e de noite,
em profundo silêncio para com o mundo exterior".
Um
deles ainda que bem loquaz é Bruno(nome fictício).
Em
2011, no âmbito do doutoramento feito na Universidade Fernando
Pessoa, Ana Garrett desenhou um modelo de reabilitação da
sexualidade em pessoas com alterações sensitivas, o
Mo-Re-Sex(ouvir som à esquerda).
Dirigindo
a todas as pessoas com deficiência, este programa (em pdf), que
contínua a ser aplicado em universidades, hospitais e instituições
particulares de segurança social. permite aos participantes ter
acesso a um mapa personalizado das suas zonas erógenas, de forma a
usufruírem a fundo da sua sexualidade, "desfocalizando as
limitações e aproveitando as potencialidades".
Porque
se há zonas do corpo que não têm sensibilidade, há outras que
são hipersensíveis (o que também pode ser extremamente
incomodativo, avisa a investigadora).
É
preciso explorar tudo isto e mapear, explica Ana Garrett.
Para uns,
uma carícia uma cicatriz pode ser altamente excitante.
Para
outros, os sentidos são um mundo a explorar
"Há
quem prefira ouvir, ver.
Há
muitos casos em que já não há sensibilidade peniana ou vaginal,
mas a simples observação(do ato) é extremamente erógena.
Isto
é fabuloso e temos de pegar nisto e aproveitar".
É
o caso do supracitado bruno, que sofreu uma lesão medular depois de
um acidente de viação:
Eu
costumo dizer que os meus genitais são as minhas orelhas e o meu
pescoço (....)
Não
tenho o chamado orgasmo, não tenho ejaculação.
No
entanto, tenho uma parte que normalmente as pessoas não trabalham
tão bem com ela... a minha cabeça".
Serve
o aviso para o mundo em geral: há vida sexual para além do coito.
"Como
as pessoas com deficiência não são capazes de fazer amor de uma
forma 'simples' ou numa posição convencional, foram impelidas para
experimentar e desfrutar de uma vida sexual mais interessante",
escrevia, já em 1996, o sociólogo Tom Shakespeare no livro "The
Sexual Politics of Disability: Untold Desires".
Estas
pessoas fogem à "excessiva concentração nos genitais e na
penetração", tão característica da sociedade
hetero-normativa em que vivemos, conclui também Ana Cristina
Santos.
"Há
uma obsessão do sexo penetrativo, uma lineariedade na forma como o
sexo se deve processar.
E
estas mulheres [o centro da investigação Intimidade e Deficiência]
desafiam-na.
Demonstram,
na forma como vivem a sua sexualidade, que estas questões são no
fundo culturais."
Como
se mudam as mentalidades?
João
não esconde o pessimismo.
Está
"cansado da teoria" porque, na prática, tudo se mantém
inalterável.
"Nunca
nenhuma mulher 'normal' me pediu para tocar nela. Isto não muda, a
mentalidade não muda."
Achas
que algum dia vais ter uma relação estável?
Com
quem? — responde, demolidor.
O
que é preciso fazer então para que isto mude?
Para
que a sexualidade na deficiência deixe de ser tabu?
Um
dos principais obstáculos é, apontam as investigadoras, o sistema
biomédico atual, que de tão concentrado na performance física se
esquece de outras dimensões.
"Entende-se
que a sexualidade na deficiência não é uma problemática
prioritária.
Prioritário
é que andem, falem porque isso é que dá nas vistas, considera
Daniela Lopes, terapeuta ocupacional na Associação do Porto de
Paralísia Cerebral.
A
reabilitação é fundamental e salva vidas, reconhece Ana Cristina
santos, mas não conta a história toda.
Há
que mudar a visão.
Neste
momento o modelo dominante da deficiência é um modelo biomédico
que considera a deficiência como um problema individual, explica a
investigadora.
Ou
seja, a intervenção é feita ao nível d e um indivíduo que tem
um problema e que tem de aprender a viver em sociedade, a
adaptar-se.
Mas
a deficiência é sim um problema coletivo.
Esquece-se
totalmente o lado A disto: apostar numa formação social e cultural
que permita a todas as pessoas valorizar a diferença.
Ao
contrário dos restantes profissionais de saúde, geralmente "muito
receptivos", os médicos, ressalva a terapeuta ocupacional
Daniela Lopes, "não estão totalmente direcionados para
trabalhar todas as problemáticas".
"Olhar
para alguém que não comunica verbalmente e explicar como toma a
pílula, que métodos contraceptivos existem, quais são as soluções
que tem. Isto não é ágil e devia ser."
Por
isso, se os médicos não falam de sexo, há que pô-los a falar de
sexo, exorta Ana Garrett:
"Os
próprios deficientes não devem ter vergonha de abordar os
profissionais de saúde sobre este assunto.
Não
esperem que sejam eles a fazê-lo porque há muitos colegas meus que
não falam sobre isso.
Porque
não se sentem preparados, não conseguem lidar bem com os seus
próprios fantasmas, consideram-no um tabu.
E
porque não percebem que o padrão do ser humano engloba a
sexualidade como comer e beber."
Depois,
é certo que, a partir da maioridade, "não é importante
envolver a família quando se está a falar de cidadania íntima ou
do direito individual de as pessoas viverem a sua sexualidade",
assegura Ana Cristina Santos.
Acontece
é que por cá muitas pessoas com deficiência — inclusive com
incapacidade motora, o foco desta reportagem — vivem em meio
familiar por diversas razões: falta de autonomia física,
incapacidade económica e devido à "inexistência de um
movimento de vida independente sustentado".
Nem
sempre os familiares adotam as melhores práticas para promover uma
sexualidade saudável.
Porque,
por exemplo, se tornam hiper protetores por recearem abusos; ou
porque lhes reconhecem uma "sexualidade invisível".
Nesses
casos, poderiam ser promovidas ações de sensibilização dentro
das famílias, mas também entre pessoas com deficiência e nas
escolas.
"É
preciso vencer a utopia que existe educação sexual.
Não
existe. (…)
Educar
implica mudar alguma coisa", critica Daniela Lopes. A
existência de assistentes sexuais é um outro aspecto defendido
pelas entrevistadas.
No
fundo, há que "mudar mentalidades" — aquilo em que João
Lomar já não parece acreditar e que Lúcia estima só acontecer
daqui a uns 50 anos.
"Parece
um clichê — e é — mas é muito complexo e demora séculos",
reconhece Garrett.
"A
sexualidade tem de ser vista como um direito e uma componente
saudável.
E
a partir daí esse direito não pode estar ameaçado pela
circunstância de alguém ser 'deficientizando' ou não.
É
inegociável.", conclui Ana Cristina Santos.
"'Deficientizando'"
e não "deficiente" — eis a terminologia que a
investigadora defende.
Porque
o que "inabilita ou desabilita as pessoas é um sistema social,
cultural, que, por regra, não acolhe a diversidade como uma
mais-valia".
Ou
seja, é a própria sociedade que "deficientizar" as
pessoas.
"É",
indica, por sua vez, Ana Garrett, "olhar para as
potencialidades da pessoa com deficiência em vez de estar
constantemente a apontar as limitações".
"É
só uma característica", repete Lúcia.
É
esse o conselho que deixa, não aos portadores de incapacidade, mas
a todas as outras pessoas.
"Que
comecem a olhar para a deficiência como uma característica.
Como
se vê a cor da pele ou os 'piercings'.
É
só uma característica."
Fonte:p3.publico.pt
O
que é sexualidade
Sexualidade
é um termo amplamente abrangente que engloba inúmeros fatores e
dificilmente se encaixa em uma definição única e absoluta.
Teoricamente,
a sexualidade assim como a conhecemos, inicia-se juntamente à
puberdade ou adolescência, o que deve ocorrer por volta dos 12 anos
de idade (Art. 2º - Estatuto
da Criança e do Adolescente).
Entretanto,
em prática, sabemos que não se configura exatamente desta forma.
O
termo “sexualidade” nos remete a um universo onde tudo é
relativo, pessoal e muitas vezes paradoxal.
Pode-se
dizer que é traço mais íntimo do ser humano e como tal, se
manifesta diferentemente em cada indivíduo de acordo com a realidade
e as experiências vivenciadas pelo mesmo.
A
noção de sexualidade como busca de prazer, descoberta das sensações
proporcionadas pelo contato ou toque, atração por outras pessoas
(de sexo oposto e/ou mesmo sexo) com intuito de obter prazer pela
satisfação dos desejos do corpo, entre outras características, é
diretamente ligada e dependente de fatores genéticos e
principalmente culturais.
O
contexto influi diretamente na sexualidade de cada um.
Muitas
vezes se confunde o conceito de sexualidade com o do sexo
propriamente dito.
É
importante salientar que um não necessariamente precisa vir
acompanhado do outro.
Cabe
a cada um decidir qual o momento propício para que esta sexualidade
se manifeste de forma física e seja compartilhada com outro
indivíduo através do sexo, que é apenas uma das suas formas de se
chegar à satisfação desejada.
Sexualidade
é uma característica geral experimentada por todo o ser humano e
não necessita de relação exacerbada com o sexo, uma vez que se
define pela busca de prazeres, sendo estes não apenas os
explicitamente sexuais.
Pode-se
entender como constituinte de sexualidade, a necessidade de admiração
e gosto pelo próprio corpo por exemplo, o que não necessariamente
signifique uma relação narcísica de amor incondicional ao ego.
Existem
diferentes abordagens do tema que variam de acordo com concepções e
crenças convenientes a cada um.
Em
alguns lugares pode-se encontrar visões preconceituosas sobre o
assunto.
Em
outros, é discutido de forma livre e com grande aceitação de
diferentes olhares ao redor do termo.
Algumas
vertentes da psicologia, como a psicanálise Freudiana, consideram a
existência de sexualidade na criança já quando nasce.
Propõe
a passagem por fases (oral ,anal, fálica) que contribuem ou definem
a constituição da sexualidade adulta que virá a desenvolver-se
posteriormente.
Seja
qual for a sua visão íntima sobre o assunto, é interessante que se
possa manter uma relação de compreensão e aceitação de sua
própria sexualidade.
O
esclarecimento de dúvidas e a capacidade de se sentir vontade com
seus desejos e sensações, colabora imensamente ao amadurecimento
desta, o que gera sensação de conforto e evita conflitos internos
provenientes de dúvidas e medos, gerando uma experiência positiva e
saudável.
Por
Cintia Favero
Na minha opinião e visão sobre os deficientes acho normal a pratica do sexo, afinal este faz parte das necessidades humanas e não vejo o porque se espantarem com os deficientes que são ativos; preciso que se mude a mentalidade das pessoas e o preconceito sobre esse ato em relação aos deficientes.
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