Ninguém assovia para a mulher
na cadeira de rodas
Texto de Kayla Whaley
Publicado originalmente com o título:"Nobody Catcalls The Woman In The Whelchair", no site The Establishment em 26/01/2016.Tradução de Bia Cardoso para as blogueiras feministas.
Publicado originalmente com o título:"Nobody Catcalls The Woman In The Whelchair", no site The Establishment em 26/01/2016.Tradução de Bia Cardoso para as blogueiras feministas.
Dentro
dos espaços feministas, é assumido que #TodasAsMulheres
experimentam assédio em locais públicos.
As
maneiras pelas quais esse assédio se manifesta — a idade em que
começa, sua intensidade ou forma, as consequências de denunciar —
podem variar dependendo das diferentes características da pessoa.
Mas
todas as mulheres, segundo nos dizem, conhecem o medo, a vergonha
e/ou a raiva que vem junto com a atenção sexual indesejada.
É
compreensível a existência dessa presunção.
Quando
trabalhamos a partir de um fato da realidade sendo uma verdade
coletiva é mais fácil discutir as nuances, as diferenças e as
complexidades envolvidas nesse miolo.
É
mais fácil construir discussões dinâmicas internas a partir da
sólida base de uma experiência em comum.
Esta
é uma suposição útil — mas também é prejudicial.
Eu
sou uma mulher de 26 anos de idade que nunca foi assediada na rua.
Eu
nunca recebi assovios em meu caminho para a escola, ninguém buzinou
para mim num estacionamento, ninguém me olhou de forma maliciosa
num trem, não me apalparam na fila da Starbucks, ou qualquer outro
tipo de assédio sexual que ocorrem em locais públicos.
Eu
não tenho medo de sair de casa porque terei que evitar homens
agressivos ou insistentes.
Eu
não preciso mapear mentalmente várias rotas para casa, procurando
locais onde eu possa ser menos abordada.
Eu não sei o que são o medo, a vergonha e/ou a raiva que vêm junto com a atenção sexual não desejada.
Entretanto, uma parte de mim, que não insignificante, deseja sentir isso.
Eu não sei o que são o medo, a vergonha e/ou a raiva que vêm junto com a atenção sexual não desejada.
Entretanto, uma parte de mim, que não insignificante, deseja sentir isso.
Eu
não sou excepcionalmente sortuda, nem estou exagerando, ou
sublimando isso tudo.
Eu
sou uma usuária de cadeira de rodas: uma mulher que visivelmente
tem uma deficiência física.
E,
minha cadeira de rodas age como um estranho tipo de campo de força.
As
pessoas veem primeiro a “deficiente” antes de perceberem a
“mulher”, e a primeira impressão é a que fica, porque em nossa
sociedade capacitista um corpo com deficiência é automaticamente
um corpo dessexualizado.
Somos
pessoas grotescas ou trágicas, excêntricas ou anjos, existimos
para sermos temidos ou lamentados dependendo de como o olhar
capacitista nos vê naquele dia.
Porém,
não importa como nos olham, não somos desejáveis.
Mesmo
aos vinte e poucos anos, o fato de eu nunca ter sido assediada nas
ruas parecia ser mais uma evidência para sustentar a crença de que
eu não poderia ser sexualmente desejável.
Alguma
parte traiçoeira e insistente de mim obviamente acreditava que eu
nunca poderia atrair nenhum homem decente, sendo assim, atrair os
piores tipos de homens era o melhor que eu poderia esperar.
Se
eu não conseguisse fazer nem mesmo isso, então talvez realmente
meu corpo fosse totalmente inútil.
Eu
invejava minhas amigas quando elas falavam sobre o quanto dói ser
reduzida a nada além de um objeto sexual.
Eu
odiava que isso as machucasse e na maioria das vezes entendia porque
isso acontecia.
Eu
também sabia que o assédio em locais públicos era frequente e
estava aumentando; que as mulheres que rejeitavam essas abordagens
podiam ser feridas ou até mesmo mortas.
Porém,
da mesma maneira que odiava meu ciúme, eu ansiava por um assovio
desconhecido direcionado para mim.
Apenas
uma vez, eu queria que um homem olhasse para mim de soslaio em algum
lugar, obviamente imaginando todas as coisas que ele poderia fazer
com meu corpo.
Eu
criei fantasias com homens me seguindo pelo campus da universidade,
dizendo:
“Oi,
gostosa!
Por
que não vem aqui um minuto, gatinha?”.
Por
que minha experiência é tão invisível para a comunidade
feminista?
Quando
procurei abrigo em espaços feministas na internet — supostamente
espaços seguros — à procura de apoio, o que encontrei foram
discussões intermináveis sobre a onipresença do assédio em
locais públicos.
Ali
estava uma verdade universal de que o assédio é uma consequência
do sexismo, da misoginia e da cultura do estupro.
E
que isso era algo que todas as mulheres podiam entender e reagir
contra.
Ali
estava nossa experiência unificadora.
Encontrei
o feminismo e pensei: talvez eu também seja ignorada aqui.
Eu
não espero que todos os debates sobre assédio em locais públicos
tenham que começar com uma nota explicativa, e eu certamente não
espero me ver refletida em cada texto, artigo ou tweet sobre o
assunto.
Mas
essa notória suposição útil de que “Todas as Mulheres
Vivenciam o Assédio Nas Ruas” é inevitavelmente excludente.
Essa
não é a intenção, mas como as feministas devem saber, a intenção
não elimina os danos.
Ninguém
tem a intenção de dizer que se uma mulher não estiver dentro da
maioria que enfrenta o assédio em locais públicos, então elas não
contam, mas no entanto, essa conclusão está lá.
Apesar
das melhores intenções, a forma como as feministas tendem a
discutir o assédio em locais públicos, como um fato concreto para
todas, reforça conceitos capacitistas dentro do feminismo, porque é
apenas um elemento da questão se o seu corpo é visto pelo
patriarcado como um objeto sexual.
O
meu não é.
Além
disso, esta suposição ignora uma forma diferente de assédio
enfrentada pelas pessoas com deficiências.
O
assédio, afinal, não é realmente sobre sexo, mas sobre poder —
e meus assediadores me machucam pelo poder da dessexualização.
Eles
usam comigo a mesma voz que usariam com uma criança de 3 anos.
Eles
passam a mão na minha cabeça como fariam com um cachorro.
Eles
olham para minha cadeira enquanto mandam suas crianças ficarem
quietas e não fazerem perguntas.
É
mais preconceito que assédio sexista (vindo de todos os gêneros)
que experimento em abordagens frequentes nas ruas.
Essa dessexualização também me torna vulnerável ao abuso.
Embora as mulheres com deficiência não sejam frequentemente vistas como objetos sexuais, há maior probabilidade de que sejamos estupradas e abusadas sexualmente do que as nossas semelhantes sem deficiências.
Quando você internaliza em conjunto a ideia sexista de que as mulheres são valiosas por causa de seu potencial sexual (para os homens) e a ideia de que você não tem qualquer potencial sexual, você pode se tornar uma presa fácil.
Essa dessexualização também me torna vulnerável ao abuso.
Embora as mulheres com deficiência não sejam frequentemente vistas como objetos sexuais, há maior probabilidade de que sejamos estupradas e abusadas sexualmente do que as nossas semelhantes sem deficiências.
Quando você internaliza em conjunto a ideia sexista de que as mulheres são valiosas por causa de seu potencial sexual (para os homens) e a ideia de que você não tem qualquer potencial sexual, você pode se tornar uma presa fácil.
Eu
não fantasio mais sobre ser assediada, mas eu senti uma emoção
inegável uma vez no ano passado quando um cara me enviou mensagens
no OKCupid dizendo: “chupa meu pau, gostosa”.
Eu
não respondi, mas mantive isso guardado por um tempo.
Sua
presença era quase reconfortante.
Naturalmente,
esse conforto estava atrelado com a insuportável culpa e ódio por
mim mesma, mas eu me apeguei com força.
Eu
não sei se vou parar de querer esse selo patriarcal de aprovação
— ou a aprovação feminista para esse assunto.
Talvez
um dia, a maneira com que eu me relaciono e interaja com o meu corpo
vai significar mais para mim do que o modo como o resto do mundo me
trata.
Por
enquanto, talvez, seja suficiente falar e ser ouvida.
Reconhecimento.
Isso
é tudo que eu peço.
Autora.
Kayla Wheley tem formação na Clarion Writers workshop e é editora na Disability in Kidlit. Também tem textos publicados nos sites: The Toast,The Establishment e Uncanny Magazine.
Ela vive fora de Atlanta com muitos livros e um número ainda não suficiente de gatos, mas pode ser encontrada com mais frequência sendo sincera na Internet.
Twitter @PunkinOnWhels
Fontes: - blogueirasfeministas.com - cantinhodoscadeirantes.com.br
Autora.
Kayla Wheley tem formação na Clarion Writers workshop e é editora na Disability in Kidlit. Também tem textos publicados nos sites: The Toast,The Establishment e Uncanny Magazine.
Ela vive fora de Atlanta com muitos livros e um número ainda não suficiente de gatos, mas pode ser encontrada com mais frequência sendo sincera na Internet.
Twitter @PunkinOnWhels
Fontes: - blogueirasfeministas.com - cantinhodoscadeirantes.com.br
DESABAFO
DE UMA JOVEM CADEIRANTE
Ser
deficiente é mais difícil para você, do que pra mim...
Quando
eu era menor, sempre me faziam a mesma pergunta:
“você
acha que um dia vai andar normalmente?...
” E
eu sempre respondia: “sim!...”.
Porém,
isso foi até eu me dar conta que esse desejo de eu andar
normalmente lá no fundo não era meu, pois percebi que cadeirante é
considerado fora do normal para as outras pessoas.
Antigamente
eu não me via diferente, sempre aceitava ser quem eu sou e aceitava
o meu corpo exatamente como ele é e achava que todas as pessoas a
minha volta faziam o mesmo...
Até
perceber que não era bem assim
Entretanto,
todos nós, temos que passar por essa fase cheia de turbulência
chamada adolescência, não é mesmo?
Você
já parou para pensar o que é ser um(a) adolescente cadeirante?
Eu
posso garantir para vocês que não é nenhum milagre transcendental
ou divino de qualquer tipo.
É,
basicamente, a mesma coisa para todo mundo.
Contudo,
a maior dificuldade não é a física, mas sim, a social.
É
perceber que apesar de eu me sentir como uma pessoa comum, na
maioria das vezes, eu sinto como se as pessoas que não me conhecem
e me tratam como algo menor do que eu realmente sou por causa da
deficiência, ou ainda me enxergam como "super heroína" e
da mesma forma me distancia do ser normal que eu sou.
As
pessoas que me veem e sempre me dizem frases tipo: “Como você é
inteligente!” ou “nossa você é bonita!” e eu não consigo
deixar de completar mentalmente: “...para uma cadeirante.” Como
se, qualquer uma dessas qualidades fosse algum tipo de milagre!
Existe
um estigma muito forte em relação aos PC’s (pessoas com
Paralisia Cerebral) por causa das sequelas na fala, na coordenação
motora e na habilidade cognitiva.
Existem
graus diferentes para cada um e o meu é só nos membros inferiores
e um pouco nos braços, então é natural que depois que eu diga que
tenho Paralisia Cerebral, a pessoa fique surpresa por me ver
falando.
Isso
acontece muito mais do que eu gostaria, e aposto que várias
pessoas, com outras patologias, também passam por isso.
Essas
situações só servem para reforçar o fato de que a pior parte da
deficiência, não é a dificuldade do corpo, e sim crescer e
perceber que a sociedade não te trata como a pessoa que você sabe
que é.
E
que poucos irão me conhecer realmente como sou.
Fonte:
- cantinhodoscadeirantes.com.br
Quem
se ama de verdade evita pensar ou vivenciar o passado triste e,
quando se lembra, mentaliza apenas como experiência para sua
evolução, vê de forma fria e natural tudo o que aconteceu no
passado, procura tirar proveito dos acontecimentos do passado.
Quem
se ama de verdade, mantêm o controle emocional para não deixar as
calúnias, palavras ofensivas e desarmonias caírem sobre a sua Aura.
Quem
se ama de verdade não espera ser compreendido, prefere compreender
as pessoas de um modo geral, mantêm-se de bem com a vida e não se
preocupa com a opinião alheia.
Não
dá ouvidos às críticas, para que elas não evoluam.
Quem
se ama de verdade não guarda raiva, rancor ou ressentimento, vê
tudo a sua volta como se fosse um processo de auto conhecimento, está
sempre disposto a perdoar e compreender em qualquer situação.
Quem
se ama de verdade não aceita sugestões negativas, policia seus
pensamentos e procura analisar cada um.
Quem
se ama de verdade não se magoa, não fica chorando quando é
magoada. não se entristece por qualquer razão, não perde o
controle em qualquer situação e não se deixa levar por qualquer
situação negativa.
Quem
se ama de verdade não tem medo da morte, das doenças, da pobreza ou
falta de dinheiro, não sente medo, não se apega a nada.
Quem
se ama sente coragem e segurança de sempre recomeçar, se for
necessário, sem medo do desconhecido.
Danielle
Oliveira
Infelizmente o respeito com as mulheres nos dias atuais é inexistente, tudo isso devido a sua emancipação e conquistas que vêm angariando durante os anos, deixando assim de serem meros objetos como acontecia antigamente.
ResponderExcluirSim, ninguém assovia para uma mulher cadeirante, mas, isso não quer dizer que elas não são desejadas ou jamais irão encontrar um companheiro para dividir sua vida; infelizmente as pessoas ainda são muito resistentes a aceitação das diferenças gerando aí um preconceito e receio por falta de conhecimento sobre estas; mas, a sociedade é culpada por isso, porque impõe padrões pré estabelecido de perfeição ou normal(entre aspas)agora se atentarmos bem somos todos imperfeitos.
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