Acreditar em si mesmo

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domingo, 11 de junho de 2017

Algumas reflexões do preconceito com as deficiências.



PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
PRECONCEITOS ENRAIZADOS:
ALGUMAS REFLEXÕES 
 


Neste ensaio teórico são propostas algumas reflexões referentes ao preconceito com as pessoas com deficiência.

Ao longo da história a atitude tomada pela sociedade em relação as pessoas com deficiência pouco mudou, o que nos leva a crer que a sociedade evoluiu em muitos aspectos, mas no que diz respeito ao preconceito ainda cultivamos antigos comportamentos.

O que se vê hoje na verdade, são atitudes estereotipadas de compreensão e humanismo que mascaram o preconceito em sua essência.

Foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema e constatou-se que a reflexão sobre as diferenças e seus impactos sedimenta a base da inclusão, visto que, são estas reflexões que nos fazem entender as causas de uma sociedade tão reativa ao diferente e ao que não se enquadra nos padrões por ela estabelecidos.

Partindo desse pressuposto, temos a inclusão como um processo alheio a cidadania, o que torna nossa realidade cada vez mais contraditória.

A cidadania é sinônimo de direitos e ela não exclui nenhum cidadão, mas mesmo assim temos que nos articular para que essa cidadania seja válida a todos: negros, pobres, crentes, descrentes, mulheres, crianças e neste estudo, em especial, o cidadão com deficiência.

Palavras-chave:

Preconceito. Deficiência. Inclusão;

Área do Conhecimento: Ciências Humanas

Introdução.

Para se refletir sobre o preconceito e seus impactos nas pessoas com deficiência é necessário fazer uma viajem no tempo e avaliar como a deficiência tem sido tratada ao longo dos anos.

Muitos relatos históricos descrevem as atitudes dispensadas às pessoas com deficiência.

Atitudes essas que em muitos momentos se mostram como aceitação, mas em outros, como abandono e extermínio.

Sendo assim, podemos observar que o preconceito não é um problema recente. Doval (2006) afirma que a exclusão passou a ocorrer com a socialização do homem, visto que as estruturas dos movimentos das sociedades favoreciam a marginalização da pessoa com deficiência.

Quando a deficiência deixa de ser um fator apenas físico/psicológico, deixamos de enxergá-la como uma questão médica e passamos a vê-la como um problema social.

Doval (2006) corrobora com esta ideia explicando que a diferença é uma construção sócio cultural que muitas vezes leva ao estigma do sujeito incapacitado.

O grande desafio é superar este estigma mostrando a pessoa com deficiência como um sujeito ativo e integrado a nossa sociedade, que hoje vive em plena competitividade.

Assim, este artigo tem como objetivo fazer uma reflexão acerca do preconceito com as pessoas com deficiência, a partir da análise e discussão de aspectos históricos e atuais sobre o tema.

Metodologia.

O método de pesquisa utilizado neste trabalho foi o bibliográfico.

Segundo Vergara (2000) este método caracteriza-se pelo estudo sistematizado, desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral.

A pesquisa bibliográfica fornece instrumental analítico para qualquer outro tipo de pesquisa, mas também pode esgotar-se em si mesma, como no caso do presente estudo.

Resultados.

Maranhão (2005) explica que na antiguidade remota e entre os povos primitivos, o tratamento destinado as pessoas com deficiência assumiu dois aspectos distintos: alguns os exterminavam, por considerá-los grave empecilho à sobrevivência do grupo e outros os protegiam e sustentavam,
para buscar a simpatia dos deuses.

Muitas destas atitudes negativas eram provenientes da ausência de informação, e mesmo quando a reação era de proteção, o que se buscava não era a valorização do ser humano, mas sim misticismo e recompensa divina.

Como não se sabia ao certo a causa da deficiência, a mesma era atribuída ora a desígnios divinos e ora a possessão pelo demônio (MARANHÃO, 2005).

A cultura grega foi uma das que mais contribuiu para o panorama da discriminação da pessoa com deficiência.

Segundo Blackburn (2006), Platão um dos mais notáveis filósofos gregos, idealizava uma sociedade perfeita pregando a união dos melhores indivíduos, ou seja, os indivíduos considerados perfeitos.

Defendia ainda que as crianças que possuissem alguma enfermidade deveriam ser levadas a um lugar desconhecido e secreto e os corpos que possuissem alguma anormalidade não deveriam continuar com sofrimento, sendo então, largados a própria sorte até o encontro com a morte.

Podemos ainda, encontrar relatos semelhantes às ideias de Platão nas histórias das cidades de Atenas e Esparta.

De acordo com Pastore (2000) para o povo guerreiro, as crianças eram propriedade do Estado, que por sua vez, examinava todas as crianças que nasciam.

As que fossem consideradas “fracas” eram jogadas em um abismo e as que fossem consideradas “fortes” eram criadas pelos pais até completarem 12 anos.

Após esta idade eram levadas para o campo, onde deveriam aprender a sobreviver sozinhos e tornarem-se guerreiros.

As ideias de Platão, misturadas ao mito da purificação da raça de Darwin (teoria da evolução pela seleção, onde os mais fracos sucumbem aos mais fortes) culminaram na eugenia.

De acordo com Gonçalves (2006) a eugenia é uma ciência que busca o aprimoramento da espécie humana através de procedimentos genéticos. Um exemplo clássico da prática da eugenia foi o que aconteceu na Alemanha Nazista, e práticas semelhantes também podem ser encontradas nos relatos
históricos de países como Estados Unidos e Inglaterra.

Avançando um pouco mais na história chegamos ao período das grandes guerras e disputas territoriais, nesta fase o número de pessoas com deficiência física aumentou consideravelmente.

A maior parte dessas pessoas era soldados mutilados em campos de batalha que quando voltavam a seu país necessitavam de integração à sociedade.

Para Pastore (2000) neste momento nasceu então o pensamento assistencialista e a reabilitação científica, gerada pela necessidade de mão de obra no período pós- guerra.

Nesta época se iniciou então os trabalhos de defesa das pessoas com deficiência e a desmistificação do preconceito.

Estes trabalhos estão vivos até hoje, mas ainda tem-se um longo caminho a percorrer até que se vença o preconceito.

Diante do exposto, podemos perceber que a ideia de que as pessoas com deficiência são obstáculos para a evolução das comunidades não é recente.

Esse pensamento tem se mantido presente nas sociedades ao longo das civilizações.

Discussão.

O corpo que apresenta alguma deficiência causa estranheza e rejeição a quem o vê.

Esse corpo é sinônimo de diferença e impossibilidade.

E como a sociedade encara a impossibilidade?

A resposta desta pergunta nos leva a uma reflexão importante.

Se a pessoa com deficiência é incapaz, então ela não atende aos requisitos de sobrevivência numa comunidade competitiva e que demanda de desgaste físico e psicológico para o sucesso.

De acordo com Silva (2006) nossa sociedade de interesse econômico vê o corpo perfeito como sinônimo de lucro.

E é esse corpo perfeito que consegue competir no mercado de trabalho.

Ainda nas palavras de Silva (2006), o corpo disforme é um empecilho a produção e os considerados fortes se sentem ameaçados pela fragilidade humana da pessoa com deficiência.

A pessoa com deficiência é a representação da fragilidade do ser humano.

E essa visão tende a ser repelida por uma sociedade que cultua o corpo perfeito e que valoriza a aparência.

Para Silva (2006) ver uma pessoa com deficiência nos remete a inferioridade e conviver com elas é o mesmo do que conviver com um espelho que nos lembra de nossa fragilidade a todo momento.

E não é só a pessoa com deficiência que não é reconhecida pela sociedade, mas também o negro, o homossexual ou qualquer outro que se diferencie dos padrões ou que de certa forma agrida a “normalidade”.

Mas que normalidade é essa?

Nossa sociedade considera normal, o corpo perfeito, magro e de músculos definidos, o cabelo liso, a barriga lisinha dentre outros padrões de beleza física.

Vivemos a era do corpo como produto, onde a moda é parecer jovem.

A negação do tempo faz com que a medicina estética avance cada vez mais, transformando velhos corpos em novos traços de beleza e sedução.

A valorização física coloca em segundo plano a competência profissional e intelectual do indivíduo.

E dentro deste conceito, fica claro o porquê da intolerância com as pessoas que apresentam alguma “anormalidade”, como é o caso da pessoa com deficiência.

A reação a esta não conformidade vem em forma de ênfase da deficiência e é comum, encontrarmos pelas comunidades pessoas conhecidas como “o ceguinho”, “a muda”, “o manco”, “a retardada”, ou ainda denominações como: excepcionais, incapacitados, impedidos, inválidos, etc.

Todas elas frizando a deficiência e criando um rótulo de incapacidade e inferioridade.

Nossa referência é sempre a anormalidade e são essas denominações que dão força as atitudes preconceituosas.

A maneira como nos referimos a pessoa com deficiência acaba criando rótulos que nos fazem associar suas atitudes ao fato da pessoa possuir alguma deficiência.

Para Maciel (2008) tudo que uma pessoa com deficiência faz é atribuído ao seu estado e não ao indivíduo.

A deficiência está na pessoa, mas não é a própria pessoa é apenas uma condição a ser considerada em relacionamentos pessoais e profissionais.

Os rótulos se tornam tão profundos que atingem os protagonistas das reações de preconceito, fazendo a pessoa com deficiência aceitar sua condição de infeliz e viver as margens da sociedade, por não pertencer aos padrões impostos pela mesma.

Se a pessoa com deficiência não consegue ver-se como ser humano e cidadão detentores de direitos, e de deveres, quem vai conseguir vê-los de forma diferente?

O mito de que a pessoa com deficiência é um ser frágil, inferior e incapaz faz com que o preconceito e exclusão sejam considerados normais.

Várias são as formas de se ver a questão da deficiência, uma delas é do ponto de vista médico, que vê a deficiência como uma anormalidade a ser corrigida, através de intervenções cirúrgicas, próteses e tratamentos psicológicos.

Mas existe também a visão assistencialista que vê a deficiência como algo que deve ser diminuindo e conciliado com a sociedade.

É da visão assistencialista que vêm a ideia de inclusão da pessoa com deficiência em todas as áreas de acesso do cidadão como: trabalho, educação, saúde e lazer.

Porém, durante muito tempo essa visão foi vista de maneira equivocada.

Segundo Pastore (2000) quando as primeiras ideias de assistencialismo começaram a surgir, a primeira atitude direcionada a pessoa com deficiência foi a segregação destes indivíduos em entidades especializadas e de apoio.

Mas condenar o indivíduo com deficiência a viver dentro de instituições, convivendo apenas com outros indivíduos semelhantes a ele era um equívoco tão grande quanto desconsiderar a capacidade contribuitiva da pessoa com deficiência.

Então, nas palavras de Pastore (2000) a questão da deficiência passou a ser problema do governo que deveria cuidar para que o cidadão possuidor de alguma deficiência fosse integrado à sociedade.

Mas como o governo podia adotar medidas de inclusão se a própria sociedade não aceitava a pessoa com deficiência em seu meio?

Chegou-se então a essência da inclusão.

Era preciso que todos fizessem seu papel para que sociedade e deficiência convivessem em harmonia.

Porém este trabalho árduo ainda precisa ser engrossado por mais e mais pessoas que participem das mesmas ideias.

Infelizmente a inclusão é mascarada pela aceitação.

Muitas pessoas se julgam instruídas e defensoras da inclusão, porém são apenas meros espectadores do processo e simplesmente aceitam o trabalho que outros realizam.

Aceitar a pessoa com deficiência em nosso meio não é praticar a inclusão, mas simplesmente observá-la acontecer.

E por traz desta aceitação estão os velhos mitos do preconceito.

Para se praticar a inclusão e superar as barreiras do preconceito é necessário que a pessoa com deficiência conviva e mantenha experiências em comunidade.

De acordo com Maciel (2008) essa convivência enfatiza o que não é igual e ao mesmo tempo mostra que é possível ser igual também na diferença.

O contato pessoal com pessoas com deficiência desafia os nossos maiores medos e dismistificar o paradigma do diferente.

Quando superamos o medo e nos confrontamos diretamente com o sofrimento, o problema se torna bem menor do que realmente é, percebemos que somos capazes de superar qualquer barreira, mesmo com dificuldades.

Entretanto, sabemos que nossa sociedade vive hoje em meio a muitas situações de desigualdades e isso faz com que o exercício da aceitação seja diário.

É como diz Rouanet (2003), tolerância é o caminho, é o cessar fogo na guerra das diferenças, porém não é a paz.

Conclusão.

Aceitar as diferenças não é apenas fazer o politicamente correto, não se trata de ter pena ou mostrar para sociedade como somos “bonzinhos”, se trata sim de termos empatia e sabermos aproveitar de cada indivíduo (inclusive as pessoas com deficiência) o que ele tem de melhor.

Considerando a aceitação como um primeiro passo para o convívio com as pessoas com deficiência, podemos concluir que a partir da aceitação chegamos as experiências pessoais de vida e de relacionamento e principalmente a informação que derruba mitos e desvenda novas formas de igualdade.

Todos nós somos pessoas com deficiências, algumas morais, outras psíquicas e outras físicas, o maior desafio é conviver e aprender com estas diferenças.











2 comentários:

  1. Mesmo com uma alta taxa da população mundial ser de deficientes e dos programas, projetos e leis que garantam os direitos das pessoas com deficiências, ainda existe uma enorme resistência da sociedade na sua aceitação, gerando assim um enorme preconceito contra os deficientes, porque estes fogem dos conceitos impostos pela sociedade do que é "perfeito" e "normal" relegando os deficientes a segundo plano em todas as áreas da nossa sociedade, faltando assim com respeito aos deficientes.

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  2. Infelizmente ainda há muito preconceito com os deficientes em nossa sociedade; este sentimento trazem consequências graves para o deficiente que se sente excluído do meio em que vive, chegando ao ponto de ficarem relegados há viver em instituições ou escondido em casa pelos familiares que sentem vergonha de ter um deficiente em casa.

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