PESSOAS
COM DEFICIÊNCIA
PRECONCEITOS
ENRAIZADOS:
ALGUMAS
REFLEXÕES
Neste
ensaio teórico são propostas algumas reflexões referentes ao
preconceito com as pessoas com deficiência.
Ao
longo da história a atitude tomada pela sociedade em relação as
pessoas com deficiência pouco mudou, o que nos leva a crer que a
sociedade evoluiu em muitos aspectos, mas no que diz respeito ao
preconceito ainda cultivamos antigos comportamentos.
O
que se vê hoje na verdade, são atitudes estereotipadas de
compreensão e humanismo que mascaram o preconceito em sua essência.
Foi
realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema e constatou-se que
a reflexão sobre as diferenças e seus impactos sedimenta a base da
inclusão, visto que, são estas reflexões que nos fazem entender as
causas de uma sociedade tão reativa ao diferente e ao que não se
enquadra nos padrões por ela estabelecidos.
Partindo
desse pressuposto, temos a inclusão como um processo alheio a
cidadania, o que torna nossa realidade cada vez mais contraditória.
A
cidadania é sinônimo de direitos e ela não exclui nenhum cidadão,
mas mesmo assim temos que nos articular para que essa cidadania seja
válida a todos: negros, pobres, crentes, descrentes, mulheres,
crianças e neste estudo,
em especial, o cidadão com deficiência.
Palavras-chave:
Preconceito.
Deficiência. Inclusão;
Área
do Conhecimento: Ciências Humanas
Introdução.
Para
se refletir sobre o preconceito e seus impactos nas pessoas com
deficiência é necessário fazer uma viajem no tempo e avaliar como
a deficiência tem sido tratada ao longo dos anos.
Muitos
relatos históricos descrevem as atitudes dispensadas às pessoas com
deficiência.
Atitudes
essas que em muitos momentos se mostram como aceitação, mas em
outros, como abandono e extermínio.
Sendo
assim, podemos observar que o preconceito não é um problema
recente. Doval (2006) afirma que a exclusão passou a ocorrer com a
socialização do homem, visto que as estruturas dos movimentos das
sociedades favoreciam a marginalização da pessoa com deficiência.
Quando
a deficiência deixa de ser um fator apenas físico/psicológico,
deixamos de enxergá-la como uma questão médica e passamos a vê-la
como um problema social.
Doval
(2006) corrobora com esta ideia explicando que a diferença é uma
construção sócio cultural que muitas vezes leva ao estigma do
sujeito incapacitado.
O
grande desafio é superar este estigma mostrando a pessoa com
deficiência como um sujeito ativo e integrado a nossa sociedade, que
hoje vive em plena competitividade.
Assim,
este artigo tem como objetivo fazer uma reflexão acerca do
preconceito com as pessoas com deficiência, a partir da análise e
discussão de aspectos históricos e atuais sobre o tema.
Metodologia.
O
método de pesquisa utilizado neste trabalho foi o bibliográfico.
Segundo
Vergara (2000) este método caracteriza-se pelo estudo sistematizado,
desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas,
jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público
em geral.
A
pesquisa bibliográfica fornece instrumental analítico para qualquer
outro tipo de pesquisa, mas também pode esgotar-se em si mesma, como
no caso do presente estudo.
Resultados.
Maranhão
(2005) explica que na antiguidade remota e entre os povos primitivos,
o tratamento destinado as pessoas com deficiência assumiu dois
aspectos distintos: alguns os exterminavam, por considerá-los grave
empecilho à sobrevivência do grupo e outros os protegiam e
sustentavam,
para
buscar a simpatia dos deuses.
Muitas
destas atitudes negativas eram provenientes da ausência de
informação, e mesmo quando a reação era de proteção, o que se
buscava não era a valorização do ser humano, mas sim misticismo e
recompensa divina.
Como
não se sabia ao certo a causa da deficiência, a mesma era atribuída
ora a desígnios divinos e ora a possessão pelo demônio (MARANHÃO,
2005).
A
cultura grega foi uma das que mais contribuiu para o panorama da
discriminação da pessoa com deficiência.
Segundo
Blackburn (2006), Platão um dos mais notáveis filósofos gregos,
idealizava uma sociedade perfeita pregando a união dos melhores
indivíduos, ou seja, os indivíduos considerados perfeitos.
Defendia
ainda que as crianças que possuissem alguma enfermidade deveriam ser
levadas a um lugar desconhecido e secreto e os corpos que possuissem
alguma anormalidade não deveriam continuar com sofrimento, sendo
então, largados a própria sorte até o encontro com a morte.
Podemos
ainda, encontrar relatos semelhantes às ideias de Platão nas
histórias das cidades de Atenas e Esparta.
De
acordo com Pastore (2000) para o povo guerreiro, as crianças eram
propriedade do Estado, que por sua vez, examinava todas as crianças
que nasciam.
As
que fossem consideradas “fracas” eram jogadas em um abismo e as
que fossem consideradas “fortes” eram criadas pelos pais até
completarem 12 anos.
Após
esta idade eram levadas para o campo, onde deveriam aprender a
sobreviver sozinhos e tornarem-se guerreiros.
As
ideias de Platão, misturadas ao mito da purificação da raça de
Darwin (teoria da evolução pela seleção, onde os mais fracos
sucumbem aos mais fortes) culminaram na eugenia.
De
acordo com Gonçalves (2006) a eugenia é uma ciência que busca o
aprimoramento da espécie humana através de procedimentos genéticos.
Um exemplo clássico da prática da eugenia foi o que aconteceu na
Alemanha Nazista, e práticas semelhantes também podem ser
encontradas nos relatos
históricos
de países como Estados Unidos e Inglaterra.
Avançando
um pouco mais na história chegamos ao período das grandes guerras e
disputas territoriais, nesta fase o número de pessoas com
deficiência física aumentou consideravelmente.
A
maior parte dessas pessoas era soldados mutilados em campos de
batalha que quando voltavam a seu país necessitavam de integração
à sociedade.
Para
Pastore (2000) neste momento nasceu então o pensamento
assistencialista e a reabilitação científica, gerada pela
necessidade de mão de obra no período pós- guerra.
Nesta
época se iniciou então os trabalhos de defesa das pessoas com
deficiência e a desmistificação do preconceito.
Estes
trabalhos estão vivos até hoje, mas ainda tem-se um longo caminho a
percorrer até que se vença o preconceito.
Diante
do exposto, podemos perceber que a ideia de que as pessoas com
deficiência são obstáculos para a evolução das comunidades não
é recente.
Esse
pensamento tem se mantido presente nas sociedades ao longo das
civilizações.
Discussão.
O
corpo que apresenta alguma deficiência causa estranheza e rejeição
a quem o vê.
Esse
corpo é sinônimo de diferença e impossibilidade.
E
como a sociedade encara a impossibilidade?
A
resposta desta pergunta nos leva a uma reflexão importante.
Se
a pessoa com deficiência é incapaz, então ela não atende aos
requisitos de sobrevivência numa comunidade competitiva e que
demanda de desgaste físico e psicológico para o sucesso.
De
acordo com Silva (2006) nossa sociedade de interesse econômico vê o corpo
perfeito como sinônimo de lucro.
E
é esse corpo perfeito que consegue competir no mercado de trabalho.
Ainda
nas palavras de Silva (2006), o corpo disforme é um empecilho a
produção e os considerados fortes se sentem ameaçados pela
fragilidade humana da pessoa com deficiência.
A
pessoa com deficiência é a representação da fragilidade do ser
humano.
E
essa visão tende a ser repelida por uma sociedade que cultua o corpo
perfeito e que valoriza a aparência.
Para
Silva (2006) ver uma pessoa com deficiência nos remete a
inferioridade e conviver com elas é o mesmo do que conviver com um
espelho que nos lembra de nossa fragilidade a todo momento.
E
não é só a pessoa com deficiência que não é reconhecida pela
sociedade, mas também o negro, o homossexual ou qualquer outro que
se diferencie dos padrões ou que de certa forma agrida a
“normalidade”.
Mas
que normalidade é essa?
Nossa
sociedade considera normal, o corpo perfeito, magro e de músculos
definidos, o cabelo liso, a barriga lisinha dentre outros padrões de
beleza física.
Vivemos
a era do corpo como produto, onde a moda é parecer jovem.
A
negação do tempo faz com que a medicina estética avance cada vez
mais, transformando velhos corpos em novos traços de beleza e
sedução.
A
valorização física coloca em segundo plano a competência
profissional e intelectual do indivíduo.
E
dentro deste conceito, fica claro o porquê da intolerância com as
pessoas que apresentam alguma “anormalidade”, como é o caso da
pessoa com deficiência.
A
reação a esta não conformidade vem em forma de ênfase da
deficiência e é comum, encontrarmos pelas comunidades pessoas
conhecidas como “o ceguinho”, “a muda”, “o manco”, “a
retardada”, ou ainda denominações como: excepcionais,
incapacitados, impedidos, inválidos, etc.
Todas
elas frizando a deficiência e criando um rótulo de incapacidade e
inferioridade.
Nossa
referência é sempre a anormalidade e são essas denominações que
dão força as atitudes preconceituosas.
A
maneira como nos referimos a pessoa com deficiência acaba criando
rótulos que nos fazem associar suas atitudes ao fato da pessoa
possuir alguma deficiência.
Para
Maciel (2008) tudo que uma pessoa com deficiência faz é atribuído
ao seu estado e não ao indivíduo.
A
deficiência está na pessoa, mas não é a própria pessoa é apenas
uma condição a ser considerada em relacionamentos pessoais e
profissionais.
Os
rótulos se tornam tão profundos que atingem os protagonistas das
reações de preconceito, fazendo a pessoa com deficiência aceitar
sua condição de infeliz e viver as margens da sociedade, por não
pertencer aos padrões impostos pela mesma.
Se
a pessoa com deficiência não consegue ver-se como ser humano e
cidadão detentores de direitos, e de deveres, quem vai conseguir
vê-los de forma diferente?
O
mito de que a pessoa com deficiência é um ser frágil, inferior e
incapaz faz com que o preconceito e exclusão sejam considerados
normais.
Várias
são as formas de se ver a questão da deficiência, uma delas é do
ponto de vista médico, que vê a deficiência como uma anormalidade a
ser corrigida, através de intervenções cirúrgicas, próteses e
tratamentos psicológicos.
Mas
existe também a visão assistencialista que vê a deficiência como
algo que deve ser diminuindo e conciliado com a sociedade.
É
da visão assistencialista que vêm a ideia de inclusão da pessoa
com deficiência em todas as áreas de acesso do cidadão como:
trabalho, educação, saúde e lazer.
Porém,
durante muito tempo essa visão foi vista de maneira equivocada.
Segundo
Pastore (2000) quando as primeiras ideias de assistencialismo
começaram a surgir, a primeira atitude direcionada a pessoa com
deficiência foi a segregação destes indivíduos em entidades
especializadas e de apoio.
Mas
condenar o indivíduo com deficiência a viver dentro de
instituições, convivendo apenas com outros indivíduos semelhantes
a ele era um equívoco tão grande quanto desconsiderar a capacidade
contribuitiva da pessoa com deficiência.
Então,
nas palavras de Pastore (2000) a questão da deficiência passou a
ser problema do governo que deveria cuidar para que o cidadão
possuidor de alguma deficiência fosse integrado à sociedade.
Mas
como o governo podia adotar medidas de inclusão se a própria
sociedade não aceitava a pessoa com deficiência em seu meio?
Chegou-se
então a essência da inclusão.
Era
preciso que todos fizessem seu papel para que sociedade e deficiência
convivessem em harmonia.
Porém
este trabalho árduo ainda precisa ser engrossado por mais e mais
pessoas que participem das mesmas ideias.
Infelizmente a inclusão é
mascarada pela aceitação.
Muitas
pessoas se julgam instruídas e defensoras da inclusão, porém são
apenas meros espectadores do processo e simplesmente aceitam o
trabalho que outros realizam.
Aceitar
a pessoa com deficiência em nosso meio não é praticar a inclusão,
mas simplesmente observá-la acontecer.
E
por traz desta aceitação estão os velhos mitos do preconceito.
Para
se praticar a inclusão e superar as barreiras do preconceito é
necessário que a pessoa com deficiência conviva e mantenha
experiências em comunidade.
De
acordo com Maciel (2008) essa convivência enfatiza o que não é
igual e ao mesmo tempo mostra que é possível ser igual também na
diferença.
O
contato pessoal com pessoas com deficiência desafia os nossos
maiores medos e dismistificar o paradigma do diferente.
Quando
superamos o medo e nos confrontamos diretamente com o sofrimento, o
problema se torna bem menor do que realmente é, percebemos que
somos capazes de superar qualquer barreira, mesmo com dificuldades.
Entretanto,
sabemos que nossa sociedade vive hoje em meio a muitas situações de
desigualdades e isso faz com que o exercício da aceitação seja
diário.
É
como diz Rouanet (2003), tolerância é o caminho, é o cessar fogo
na guerra das diferenças, porém não é a paz.
Conclusão.
Aceitar
as diferenças não é apenas fazer o politicamente correto, não se
trata de ter pena ou mostrar para sociedade como somos “bonzinhos”,
se trata sim de termos empatia e sabermos aproveitar de cada
indivíduo (inclusive as pessoas com deficiência) o que ele tem de
melhor.
Considerando
a aceitação como um primeiro passo para o convívio com as pessoas
com deficiência, podemos concluir que a partir da aceitação
chegamos as experiências pessoais de vida e de relacionamento e
principalmente a informação que derruba mitos e desvenda novas
formas de igualdade.
Todos
nós somos pessoas com deficiências, algumas morais, outras
psíquicas e outras físicas, o maior desafio é conviver e aprender
com estas diferenças.
Fonte:
- www.inicepg.univap.br
Mesmo com uma alta taxa da população mundial ser de deficientes e dos programas, projetos e leis que garantam os direitos das pessoas com deficiências, ainda existe uma enorme resistência da sociedade na sua aceitação, gerando assim um enorme preconceito contra os deficientes, porque estes fogem dos conceitos impostos pela sociedade do que é "perfeito" e "normal" relegando os deficientes a segundo plano em todas as áreas da nossa sociedade, faltando assim com respeito aos deficientes.
ResponderExcluirInfelizmente ainda há muito preconceito com os deficientes em nossa sociedade; este sentimento trazem consequências graves para o deficiente que se sente excluído do meio em que vive, chegando ao ponto de ficarem relegados há viver em instituições ou escondido em casa pelos familiares que sentem vergonha de ter um deficiente em casa.
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