Crédito
da foto: dominikgolenia / Foter / CC BY-ND
Não
vou fingir que a simulação da deficiência funciona
As
atividades destinadas a simular a experiência da deficiência são
muitas vezes louvadas como experiências emocionantes, poderosas e
que servem para abrir os olhos das pessoas.
Com
apenas algumas horas em uma cadeira de rodas, usando tampões de
ouvido, ou vestindo uma venda nos olhos, as pessoas supostamente
ganham uma compreensão mais profunda do que é a vida de quem tem
uma deficiência.
Eu,
por exemplo, não concordo com isso.
O
objetivo por trás de aumentar a sensibilidade e a conscientização
é respeitável, mas há muito tempo me pergunto se a simulação de
deficiências realmente consegue fazer isso.
Como
um jogo de faz-de-conta pode conscientizar alguém sobre uma
deficiência que carrego por toda minha vida?
Claro,
sei que existem várias pessoas e organizações que tentam fazer o
melhor ao usar atividades de simulação para criar mudanças
positivas.
Mas,
no final do dia, o vislumbre temporário da deficiência que esses
exercícios fornecem é apenas isso – temporário.
É
simplesmente impossível mergulhar totalmente no ser de outra pessoa.
É
aqui que reside o problema da simulação de deficiência.
Pode
tornar uma pessoa mais consciente das experiências do outro, mas não
mergulha profundamente até a raiz da discriminação contra pessoas
com identidades minoritárias.
Em
vez disso, é mais provável evocar empatia ou piedade do que a
verdadeira aceitação.
Várias
vezes ouvi reações que apontam isso.
Por
exemplo, conversando com uma amável amiga minha que teve que
circular em cadeira de rodas por Washington para um projeto da
escola, ela me disse:
“Eu
não sei como você faz .
Quando
eu tentei entrar no trem, desisti e saí da cadeira para erguê-la
sobre o vão entre o trem e a plataforma.
É
tão difícil usar uma cadeira de rodas!”.
Supondo
que a maioria das pessoas que participam de atividades de simulação
tenham reações semelhantes (o que mais encontrei), por que isso não
causa mudanças realmente visíveis ao acabar com as barreiras de
estigma e acessibilidade que enfrento todos os dias?
Vinte
e três anos após a aprovação do American with Disabilities Act
(lei americana dos direitos das pessoas com deficiência), a
comunidade de pessoas com deifiência física ainda enfrenta a falta
de acessibilidade em tantos lugares.
Claramente,
a mensagem de viagem que se espera da simulação de deficiência não
está funcionando.
Alguns
podem argumentar que isso ocorre porque muitas atividades de
conscientização da deficiência simplesmente não estão sendo
feitas da maneira correta, ou que não há muitas pessoas envolvidas
nelas.
Bem,
para mim elas simplesmente não funcionam.
A
simulação não é a maneira ideal de transformar a visão da
sociedade sobre a deficiência.
Considere
o fato de que, para muitos, a deficiência é uma identidade e uma
cultura, assim como a raça, a religião, a etnia, o gênero, a
orientação sexual, etc.
Agora,
imagine se as escolas e as organizações começassem a realizar
eventos de consciência negra em todos os lugares, durante os quais
pessoas brancas pintassem a cara de preto e passeassem nas ruas por
algumas horas para entender as experiências dos negros.
Penso
que é um eufemismo dizer que isso despertaria forte indignação por
diversos motivos.
Em
primeiro lugar, o termo “consciência” faz com que os grupos
minoritários pareçam um problema.
Em
segundo lugar, uma breve atividade nunca pode substituir uma vida de
experiências.
Se
ser negro e ser deficiente são identidades, por que os eventos de
conscientização da deficiência são considerados únicos
aceitáveis, enquanto os eventos de conscientização para outras
identidades seriam, sem dúvida, considerados ofensivos?
Para
mim, ter minha identidade como pessoa com deficiência física
reduzida a uma experiência de simulação isolada é o oposto da
aceitação .
Se
essa lógica não o convenceu de que a simulação de deficiência
não é eficaz, reflita sobre a situação em sentido inverso: minha
deficiência enfraquece severamente as articulações e os músculos
nas pernas, então a única maneira de experimentar a caminhada é
vestindo pesados aparelhos de perna feitos de metal e plástico.
O
perambular estranho que faço ocasionalmente em minha cozinha durante
a fisioterapia, de maneira alguma, me dá uma verdadeira compreensão
sobre o que é, para uma pessoa sem deficiência, andar, subir
escadas ou transpor os obstáculos do dia a dia.
Da
mesma forma, uma pessoa sem deficiência que usa uma cadeira de rodas
para se locomover desajeitadamente, de modo algum terá uma
compreensão genuína do que é ser uma pessoa com deficiência
rolando em duas rodas e sendo impedida de prosseguir por um meio-fio
alto todos os dias.
Em
cada caso, a simulação não é natural ou precisa.
Tanto
eu como a pessoa sem deficiência estaríamos usando nada mais do que
dispositivos externos feitos de metal e plástico para fazer algo que
normalmente não fazemos, e isso não se traduz na compreensão de
experiências internas profundas de alguém que não somos.
Além
disso, seria tolo se, ao falar com alguém que andasse, eu dissesse:
“Eu
não sei como você faz isso.
Andar
é tão difícil.
Claro
que é difícil para mim.
Mas
para uma pessoa sem deficiência é instintivo.
E
usar uma cadeira de rodas é difícil para uma pessoa sem
deficiência.
Para
mim, que sempre me locomovi desta forma, é inato.
Fora
isso, ser deficiente não é só um desafio por causa das minhas
circunstâncias físicas, um estereótipo que uma simulação
normalmente leva os participantes a acreditar;
É
difícil também por causa de barreiras ambientais, sociais e de
atitudes.
Então,
você pode estar “consciente” de mim o quanto quiser.
Você
pode tentar rolar um quilômetro na minha cadeira de rodas.
Você
pode analisar e discutir e dissecar a experiência de um milhão de
ângulos diferentes.
Mas
precisamos parar de confundir a empatia com aceitação.
Devemos
abraçar as diferenças como um fato da existência humana sem
primeiro precisar imitá-las, pois esses tipos de atividades não
contribuem efetivamente para avanços de longo prazo no movimento dos
direitos das pessoas com deficiência.
Emily
Ladau escreve regularmente para The Mobility Resource, onde este
texto foi publicado originalmente em 2014.
Fonte
– inclusive.org.br
Cadeirante
encontra no crossfit adaptado um novo modo de vida:
"Me
salvou"
Veja
o vídeo
Recuperado
de acidente de carro, que lesionou sua medula e o fez perder os
movimentos da perna, Diego Coelho emagrece 75kg, fica entre os cinco
melhores do mundo na modalidade e inspira atletas
Por
Igor Christ e Juliano Ceglia, São Paulo
Com
exercícios de alta intensidade, o crossfit exige dedicação total
de seus praticantes. Imagine, então, a dificuldade enfrentada por
uma atleta cadeirante na modalidade que une treinamento funcional,
levantamento de peso e ginástica olímpica.
O
acupunturista Diego Coelho, que disputa competições usando somente
mãos e braços e impressiona ao fazer exercícios sem sair da
cadeira de rodas, sabe bem como é isso.
Diego
Coelho em ação no crossfit (Foto: Divulgação)
Antes
de conhecer o crossfit, Diego, que é de São Bernardo do Campo-SP e
tem 31 anos, passou por um período difícil.
Após
sofrer um acidente de carro em outubro de 2011, ele acabou tendo
complicações no hospital e ficou paraplégico.
Teve
de começar a sua dura luta pela recuperação e reabilitação.
Melhorou
o controle do tronco com o tratamento, mas chegou a pesar 135kg nesta
fase.
Sabia
que precisava mudar de vida.
Diego
participa do Programa Eu Atleta sobre esporte adaptado
+
Faz crossfit? Confira cinco dicas para iniciantes
Decidi
fazer uma cirurgia bariátrica e comecei a malhar, pois só estava
fazendo fisioterapia.
Um
ano depois, com 75kg a menos, fui campeão da "Wings For Life"
e virei embaixador da corrida, que tem como objetivo levantar
recursos para a pesquisa em prol da cura de lesões na medula.
O
primeiro contato com o crossfit aconteceu numa exibição na feira
fitness Arnold Classic Brasil, mas não sabia nada sobre a
modalidade.
As
pessoas ficam surpresas, pois além de perder peso virei um atleta de
verdade.
Foi
paixão à primeira vista e digo sempre que o crossfit me salvou -
afirmou.
O
antes e depois do Diego: mudança após cirurgia bariátrica e
treinos de crossfit (Foto: Esporte Arte)
Diego
lembra com sorriso no rosto da primeira visita a um box.
Com
pouco mais de um mês de treino, decidiu organizar o primeiro evento
de crossfit para cadeirantes do Brasil.
E
não demorou para ele começar a se destacar em competições,
ganhando títulos e se classificando para torneios no exterior.
Para
treinar e competir, o paratleta explica que usa uma cadeira de rodas
adaptada:
Ela
tem um encosto um pouco mais alto para dar estabilidade no tronco e
tem rodinhas atrás para a cadeira não virar.
É
segurança e independência na hora de treinar e competir.
Faço
vários movimentos, até mesmo um snatch (movimento de levantamento
de peso olímpico que consiste em elevar a barra do chão para cima
da cabeça de um jeito contínuo) - destacou Diego.
Diego
em seus melhores momentos no crossfit (Foto: Esporte Arte)
Henrique
encara nova vida através do surfe adaptado
No
ano passado, o paratleta foi ao Canadá competir como único
cadeirante brasileiro classificado para um evento internacional de
crossfit e ficou entre os cinco melhores participantes.
Este
ano, ele foi pela segunda vez seguida ao Mundial da modalidade e
ficou novamente no top 5.
Agora,
começou a estudar educação física e quer passar o seu
conhecimento a outras pessoas.
Tenho
visitado inúmeros boxes de crossfit pelo Brasil buscando mais
acessibilidade, pois tenho recebido muitas mensagens de cadeirantes
que me viram nas redes sociais e querem lugares para treinar e mudar
de vida.
Afinal,
tudo é possível, as pessoas podem tudo, basta ter força de vontade
e querer serem melhores.
O
importante é sempre ter novos desafios para serem superados -
encerrou.
Fonte
– globoesporte.globo.com
A simulação de fingir que se é um deficiente vem a ser uma atitude benéfica, porque aquele que se põe no lugar de um deficiente verá a dificuldade deste no dia a dia na sua locomoção e ao mesmo tempo ver como as pessoas o tratam nas repartições; a dificuldade de acesso aos locais; locomoção no transporte coletivo e outros setores; chegando a conclusão que não existe uma infraestrutura e nem mobilidade urbana para estes se locomoverem em nossas cidades.
ResponderExcluirPara se ter noção e conhecimento de como é a vida e o dia a dia de uma pessoa deficiente que tal nos colocarmos no lugar deste e sentir na pele as dificuldades que estes enfrentam e como são vistos e tratados pelas pessoas, como lidam com seu ir e vir e outras situações. Uma atitude como esta vai nos dá uma nova visão sobre a deficiência.
ResponderExcluirEu entendo todas as questões levantadas no primeiro artigo, mas penso que ele foi feito em outro país, onde as leis funcionam de maneira superior ao Brasil. A experiência com cadeira de rodas acaba levando um brasileiro a pensar e ver a estrutura que não temos, as adaptações necessárias que serão benéficas, para todos, mas que infelizmente por ignorância e total invisibilidade midiática, as pessoas não conseguem perceber até que tenham uma experiência miníma prática. Essa invisibilidade faz com tivéssemos respostas absurdas na prova de redação do Enem sobre surdez e acredito que a coisa seguiria o mesmo rumo se tratasse das outras deficiências.
ResponderExcluirEntão, acabo achando válido esse tipo de experiência no brasil.
P.S: O artigo fala sobre o negro e hoje em dia há um experimento chamado jogo dos privilégios que acabam demonstrando a dificuldade de ser negro em determinadas sociedades (https://www.youtube.com/watch?v=6U04cSyyJCo).
Abraços, Ludmila Bahia.
http://submundosliterarios.blogspot.com.br
Concordo plenamente com o seu comentário bem especifico e a suas colocações; apesar de estarmos no século XXI ainda prevalece em nossa sociedade certos conceito arcaicos que ainda provocam o preconceitos e as discriminação das diferenças; eles se esquecem que vivemos num mundo repleto de diversidades e muitos ainda não aprenderam respeitar o seu meio ambiente e nem as diversidades que nele existe porque se acham únicos infelizmente; quando aprendemos conviver com as diferenças teremos um planeta melhor.
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