Acreditar em si mesmo

Acreditar em si mesmo

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Não vou fingir que a simulação da deficiência funciona.

2014-03-10-walk_and_wheel300x200.jpg
Crédito da foto: dominikgolenia / Foter / CC BY-ND


Não vou fingir que a simulação da deficiência funciona



As atividades destinadas a simular a experiência da deficiência são muitas vezes louvadas como experiências emocionantes, poderosas e que servem para abrir os olhos das pessoas.

Com apenas algumas horas em uma cadeira de rodas, usando tampões de ouvido, ou vestindo uma venda nos olhos, as pessoas supostamente ganham uma compreensão mais profunda do que é a vida de quem tem uma deficiência.

Eu, por exemplo, não concordo com isso.

O objetivo por trás de aumentar a sensibilidade e a conscientização é respeitável, mas há muito tempo me pergunto se a simulação de deficiências realmente consegue fazer isso.

Como um jogo de faz-de-conta pode conscientizar alguém sobre uma deficiência que carrego por toda minha vida?

Claro, sei que existem várias pessoas e organizações que tentam fazer o melhor ao usar atividades de simulação para criar mudanças positivas.

Mas, no final do dia, o vislumbre temporário da deficiência que esses exercícios fornecem é apenas isso – temporário.

É simplesmente impossível mergulhar totalmente no ser de outra pessoa.

É aqui que reside o problema da simulação de deficiência.

Pode tornar uma pessoa mais consciente das experiências do outro, mas não mergulha profundamente até a raiz da discriminação contra pessoas com identidades minoritárias.

Em vez disso, é mais provável evocar empatia ou piedade do que a verdadeira aceitação.

Várias vezes ouvi reações que apontam isso.

Por exemplo, conversando com uma amável amiga minha que teve que circular em cadeira de rodas por Washington para um projeto da escola, ela me disse:

Eu não sei como você faz .

Quando eu tentei entrar no trem, desisti e saí da cadeira para erguê-la sobre o vão entre o trem e a plataforma.

É tão difícil usar uma cadeira de rodas!”.

Supondo que a maioria das pessoas que participam de atividades de simulação tenham reações semelhantes (o que mais encontrei), por que isso não causa mudanças realmente visíveis ao acabar com as barreiras de estigma e acessibilidade que enfrento todos os dias?

Vinte e três anos após a aprovação do American with Disabilities Act (lei americana dos direitos das pessoas com deficiência), a comunidade de pessoas com deifiência física ainda enfrenta a falta de acessibilidade em tantos lugares.

Claramente, a mensagem de viagem que se espera da simulação de deficiência não está funcionando.

Alguns podem argumentar que isso ocorre porque muitas atividades de conscientização da deficiência simplesmente não estão sendo feitas da maneira correta, ou que não há muitas pessoas envolvidas nelas.

Bem, para mim elas simplesmente não funcionam.

A simulação não é a maneira ideal de transformar a visão da sociedade sobre a deficiência.

Considere o fato de que, para muitos, a deficiência é uma identidade e uma cultura, assim como a raça, a religião, a etnia, o gênero, a orientação sexual, etc.

Agora, imagine se as escolas e as organizações começassem a realizar eventos de consciência negra em todos os lugares, durante os quais pessoas brancas pintassem a cara de preto e passeassem nas ruas por algumas horas para entender as experiências dos negros.

Penso que é um eufemismo dizer que isso despertaria forte indignação por diversos motivos.

Em primeiro lugar, o termo “consciência” faz com que os grupos minoritários pareçam um problema.

Em segundo lugar, uma breve atividade nunca pode substituir uma vida de experiências.

Se ser negro e ser deficiente são identidades, por que os eventos de conscientização da deficiência são considerados únicos aceitáveis, enquanto os eventos de conscientização para outras identidades seriam, sem dúvida, considerados ofensivos?

Para mim, ter minha identidade como pessoa com deficiência física reduzida a uma experiência de simulação isolada é o oposto da aceitação .

Se essa lógica não o convenceu de que a simulação de deficiência não é eficaz, reflita sobre a situação em sentido inverso: minha deficiência enfraquece severamente as articulações e os músculos nas pernas, então a única maneira de experimentar a caminhada é vestindo pesados aparelhos de perna feitos de metal e plástico.

O perambular estranho que faço ocasionalmente em minha cozinha durante a fisioterapia, de maneira alguma, me dá uma verdadeira compreensão sobre o que é, para uma pessoa sem deficiência, andar, subir escadas ou transpor os obstáculos do dia a dia.

Da mesma forma, uma pessoa sem deficiência que usa uma cadeira de rodas para se locomover desajeitadamente, de modo algum terá uma compreensão genuína do que é ser uma pessoa com deficiência rolando em duas rodas e sendo impedida de prosseguir por um meio-fio alto todos os dias.

Em cada caso, a simulação não é natural ou precisa.

Tanto eu como a pessoa sem deficiência estaríamos usando nada mais do que dispositivos externos feitos de metal e plástico para fazer algo que normalmente não fazemos, e isso não se traduz na compreensão de experiências internas profundas de alguém que não somos.

Além disso, seria tolo se, ao falar com alguém que andasse, eu dissesse:

Eu não sei como você faz isso.

Andar é tão difícil.

Claro que é difícil para mim.

Mas para uma pessoa sem deficiência é instintivo.

E usar uma cadeira de rodas é difícil para uma pessoa sem deficiência.

Para mim, que sempre me locomovi desta forma, é inato.

Fora isso, ser deficiente não é só um desafio por causa das minhas circunstâncias físicas, um estereótipo que uma simulação normalmente leva os participantes a acreditar;

É difícil também por causa de barreiras ambientais, sociais e de atitudes.

Então, você pode estar “consciente” de mim o quanto quiser.

Você pode tentar rolar um quilômetro na minha cadeira de rodas.

Você pode analisar e discutir e dissecar a experiência de um milhão de ângulos diferentes.

Mas precisamos parar de confundir a empatia com aceitação.

Devemos abraçar as diferenças como um fato da existência humana sem primeiro precisar imitá-las, pois esses tipos de atividades não contribuem efetivamente para avanços de longo prazo no movimento dos direitos das pessoas com deficiência.

Emily Ladau escreve regularmente para The Mobility Resource, onde este texto foi publicado originalmente em 2014.


Fonte – inclusive.org.br



Cadeirante encontra no crossfit adaptado um novo modo de vida:


Cadeirante encontra no crossfit adaptado um novo modo de vida:
"Me salvou"

Veja o vídeo


Recuperado de acidente de carro, que lesionou sua medula e o fez perder os movimentos da perna, Diego Coelho emagrece 75kg, fica entre os cinco melhores do mundo na modalidade e inspira atletas

Por Igor Christ e Juliano Ceglia, São Paulo


Com exercícios de alta intensidade, o crossfit exige dedicação total de seus praticantes. Imagine, então, a dificuldade enfrentada por uma atleta cadeirante na modalidade que une treinamento funcional, levantamento de peso e ginástica olímpica.

O acupunturista Diego Coelho, que disputa competições usando somente mãos e braços e impressiona ao fazer exercícios sem sair da cadeira de rodas, sabe bem como é isso.

Click AQUI para ver o vídeo.


Diego Coelho em ação no crossfit (Foto: Divulgação)
Diego Coelho em ação no crossfit (Foto: Divulgação)

Antes de conhecer o crossfit, Diego, que é de São Bernardo do Campo-SP e tem 31 anos, passou por um período difícil.

Após sofrer um acidente de carro em outubro de 2011, ele acabou tendo complicações no hospital e ficou paraplégico.

Teve de começar a sua dura luta pela recuperação e reabilitação.

Melhorou o controle do tronco com o tratamento, mas chegou a pesar 135kg nesta fase.

Sabia que precisava mudar de vida.

Resultado de imagem para Cadeirante encontra no crossfit adaptado um novo modo de vida: "Me salvou"
Diego participa do Programa Eu Atleta sobre esporte adaptado

+ Faz crossfit? Confira cinco dicas para iniciantes

Decidi fazer uma cirurgia bariátrica e comecei a malhar, pois só estava fazendo fisioterapia.

Um ano depois, com 75kg a menos, fui campeão da "Wings For Life" e virei embaixador da corrida, que tem como objetivo levantar recursos para a pesquisa em prol da cura de lesões na medula.

O primeiro contato com o crossfit aconteceu numa exibição na feira fitness Arnold Classic Brasil, mas não sabia nada sobre a modalidade.

As pessoas ficam surpresas, pois além de perder peso virei um atleta de verdade.

Foi paixão à primeira vista e digo sempre que o crossfit me salvou - afirmou.

O antes e depois do Diego: mudança após cirurgia bariátrica e treinos de crossfit (Foto: Esporte Arte)
O antes e depois do Diego: mudança após cirurgia bariátrica e treinos de crossfit (Foto: Esporte Arte)



Diego lembra com sorriso no rosto da primeira visita a um box.

Com pouco mais de um mês de treino, decidiu organizar o primeiro evento de crossfit para cadeirantes do Brasil.

E não demorou para ele começar a se destacar em competições, ganhando títulos e se classificando para torneios no exterior.

Para treinar e competir, o paratleta explica que usa uma cadeira de rodas adaptada:

Ela tem um encosto um pouco mais alto para dar estabilidade no tronco e tem rodinhas atrás para a cadeira não virar.

É segurança e independência na hora de treinar e competir.

Faço vários movimentos, até mesmo um snatch (movimento de levantamento de peso olímpico que consiste em elevar a barra do chão para cima da cabeça de um jeito contínuo) - destacou Diego.

Diego em seus melhores momentos no crossfit (Foto: Esporte Arte)
Diego em seus melhores momentos no crossfit (Foto: Esporte Arte)

Henrique encara nova vida através do surfe adaptado

No ano passado, o paratleta foi ao Canadá competir como único cadeirante brasileiro classificado para um evento internacional de crossfit e ficou entre os cinco melhores participantes.

Este ano, ele foi pela segunda vez seguida ao Mundial da modalidade e ficou novamente no top 5.

Agora, começou a estudar educação física e quer passar o seu conhecimento a outras pessoas.

Tenho visitado inúmeros boxes de crossfit pelo Brasil buscando mais acessibilidade, pois tenho recebido muitas mensagens de cadeirantes que me viram nas redes sociais e querem lugares para treinar e mudar de vida.

Afinal, tudo é possível, as pessoas podem tudo, basta ter força de vontade e querer serem melhores.

O importante é sempre ter novos desafios para serem superados - encerrou.


Fonte – globoesporte.globo.com











4 comentários:

  1. A simulação de fingir que se é um deficiente vem a ser uma atitude benéfica, porque aquele que se põe no lugar de um deficiente verá a dificuldade deste no dia a dia na sua locomoção e ao mesmo tempo ver como as pessoas o tratam nas repartições; a dificuldade de acesso aos locais; locomoção no transporte coletivo e outros setores; chegando a conclusão que não existe uma infraestrutura e nem mobilidade urbana para estes se locomoverem em nossas cidades.

    ResponderExcluir
  2. Para se ter noção e conhecimento de como é a vida e o dia a dia de uma pessoa deficiente que tal nos colocarmos no lugar deste e sentir na pele as dificuldades que estes enfrentam e como são vistos e tratados pelas pessoas, como lidam com seu ir e vir e outras situações. Uma atitude como esta vai nos dá uma nova visão sobre a deficiência.

    ResponderExcluir
  3. Eu entendo todas as questões levantadas no primeiro artigo, mas penso que ele foi feito em outro país, onde as leis funcionam de maneira superior ao Brasil. A experiência com cadeira de rodas acaba levando um brasileiro a pensar e ver a estrutura que não temos, as adaptações necessárias que serão benéficas, para todos, mas que infelizmente por ignorância e total invisibilidade midiática, as pessoas não conseguem perceber até que tenham uma experiência miníma prática. Essa invisibilidade faz com tivéssemos respostas absurdas na prova de redação do Enem sobre surdez e acredito que a coisa seguiria o mesmo rumo se tratasse das outras deficiências.

    Então, acabo achando válido esse tipo de experiência no brasil.

    P.S: O artigo fala sobre o negro e hoje em dia há um experimento chamado jogo dos privilégios que acabam demonstrando a dificuldade de ser negro em determinadas sociedades (https://www.youtube.com/watch?v=6U04cSyyJCo).


    Abraços, Ludmila Bahia.

    http://submundosliterarios.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Concordo plenamente com o seu comentário bem especifico e a suas colocações; apesar de estarmos no século XXI ainda prevalece em nossa sociedade certos conceito arcaicos que ainda provocam o preconceitos e as discriminação das diferenças; eles se esquecem que vivemos num mundo repleto de diversidades e muitos ainda não aprenderam respeitar o seu meio ambiente e nem as diversidades que nele existe porque se acham únicos infelizmente; quando aprendemos conviver com as diferenças teremos um planeta melhor.

      Excluir