Acreditar em si mesmo

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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Ser deficiente e ser feliz: isso é possível?



Ser deficiente e ser feliz: isso é possível?

Por Rogério Andreolli

Quem nunca ouviu a aquela famosa frase?

Mesmo preso a uma cadeira de rodas, fulano leva uma vida normal.”

Tal sentença, se me permitem o trocadilho, é por si só um contrassenso, pois como pode alguém “preso” levar uma vida normal ou ser feliz?

Um dos princípios que nos define como seres humanos são a nossa postura ereta e bípede.

Ela nos diferencia dos demais animais que na sua maioria são quadrúpedes e nos confere um status mais elevado no tanto no sentido vertical, quanto no sentido hierárquico da evolução.

Assim sendo, é fácil entender que quando uma pessoa perde a capacidade de andar e passa a se locomover em uma cadeira de rodas, seus semelhantes passem a olha-la de cima para baixo, o que causa uma impressão de inferioridade, tanto para quem olha, quanto para quem está sentado.

Isso muda a relação até mesmo no que diz respeito à visibilidade real do outro, pois ele sai da linha de visão média de quem está de pé, conferindo ao cadeirante uma invisibilidade não só física quanto social.

Por outro lado, a força gerada pela empatia faz com que as pessoas se coloquem no lugar do cadeirante e imaginem que seria devastador perder a independência e autonomia geradas pela capacidade de andar e que tal coisa as tornaria um “peso” para a sociedade e para a família.

Sendo assim as pessoas em geral, enxergam o cadeirante com certa dose de paternalismo, quando não com pena, dando-lhes a falsa impressão de que a pessoa está incapacitada e não pode mais fazer as coisas do cotidiano, como dirigir um carro, tomar banho sozinho, etc.

Talvez por falta de informação, a maioria acha que uma deficiência implica necessariamente na paralisia não só de todas as funções locomotoras, como também da vida do outro em geral.

Ledo engano, pois o ser humano tem uma enorme capacidade de adaptar-se, que aliada a sua inteligência e inventividade o torna tenaz e capaz de superar as mais adversas situações.

Tomarei o exemplo o Físico Teórico e Cosmólogo Stephen Hawking, considerado uma das mentes mais brilhantes do nosso tempo, que mesmo “preso a uma cadeira de rodas” por uma doença degenerativa viaja em sua mente até as mais distantes galáxias, desvendando os segredos mais profundos do universo, viagem essa que a maioria de nós jamais poderá sequer supor.

Como se não bastassem os inúmeros títulos e as mais altas honrarias recebidas, escreveu dois livros, se casou duas vezes teve filhos e netos e ainda viaja pelo mundo dando conferencias sobre física quântica.

Então neste caso tenho que fazer a inevitável pergunta:

Ele está mesmo “preso a uma cadeira de rodas”???

Admito o impacto que deve ser para alguém de repente se ver sentado em uma cadeira de rodas e também que essa não é a condição mais confortável do mundo, contudo também não é o fim dele!

É possível ser feliz,amar, trabalhar, ter uma vida prospera e produtiva fazendo-se tudo que se fazia antes, apenas tendo em mente que você o fará de outra forma, por exemplo, dirigir um carro.

Você poderá dirigi-lo com comandos manuais de freio e acelerador.

Poderá continuar viver normalmente, comer com a sua própria mão, apenas terá que usar uma órtese para auxilia-lo a segurar o garfo e assim por diante.

Você poderá casar-se e ter quantos filhos se quiser, seja pelos métodos tradicionais ou por fertilização “in vitro”, como tantas outras pessoas.

Como diria Fernando Pessoa:

Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.

Com certeza, a capacidade de resiliência do ser humano é a maior arma que dispomos para superar as adversidades impostas por alguma deficiência e sem dúvida é ela que pode realinhar nossas potencialidades frente a um evento que nos traga alguma deficiência.

Por fim, a cadeira de rodas não prende ninguém a nada, é apenas uma forma de locomoção diferente, assim como a deficiência não torna ninguém mais ou menos dependente do outro, pois como seres sociais estamos o tempo todo dependendo em maior ou menor grau uns dos outros.

A deficiência é apenas uma particularidade do ser humano, assim como ser alto ou baixo, gordo ou magro, branco ou negro e se ela traz limitações estas estão mais nas nossas mentes do que em nossos corpos.

Portanto, ser deficiente e ser feliz não só é possível quanto necessário.




O mundo (ainda) não está preparado para o cadeirante.

Escrito por Camila

Estou vendo o tema ‘cadeirante’/’pessoas com deficiência’ ser um pouco mais abordado nos programas de televisão, filmes e livros recentemente lançados e que estão fazendo sucesso considerável, principalmente entre jovens.

Por esse motivo, resolvi pegar o gancho e escrever um pouquinho aqui para vocês, mas de uma forma mais real, dando uma percepção mais concreta sobre a realidade da situação.

Muitos de vocês devem estar se questionando sobre como eu tenho essa “percepção mais concreta”, certo?

Não sei se vocês lembram, mas algum tempo atrás, em um dos posts da Bruna, ela comentou sobre a irmã que tem uma limitação física.

Bom, como ela tem uma só irmã (que a gente saiba, hehe), a pessoa em questão era eu.

Sou uma cadeirante.

Já passou da hora de todos saberem como o nosso mundo – que é o mesmo mundo das chamadas “pessoas normais” – funciona.

Nós precisamos que todos prestem um pouco mais de atenção em questões e situações do dia a dia para que nossas necessidades sejam (melhor) atendidas.

Dessa forma, vou tentar trazer para vocês algumas situações que aconteceram comigo, com pessoas também portadoras de alguma deficiência conhecidas minhas ou que tenham chegado ao meu conhecimento sobre a forma como a sociedade vê/trata um cadeirante.

(Mas sem generalização, ok?)

Obstáculos no dia a dia

Vocês assistiram às Paralimpíadas que ocorreram no Rio de Janeiro no mês de setembro?

Acompanhei todos os dias e todas as modalidades que consegui, conforme o meu tempo livre, e gostei demais.

Me impressionei como aquelas pessoas, mesmo com tantas dificuldades, conseguiam se superar e alcançar resultados incríveis – às vezes é um grande tapa na cara, não é mesmo?

Porém, não é exatamente das competições que eu queria falar, mas sim sobre algumas coisas que foram (e que não foram) mostradas.

Algumas também que geraram uma polêmica que, na minha opinião, deixou claro o que uma parcela (infelizmente razoavelmente considerável) da população do país pensa sobre o assunto.

A cerimônia de abertura foi linda e, indiscutivelmente, de um ótimo gosto. (Inclusive, muito melhor do que a da Copa do Mundo – competição mais reconhecida, divulgada e, especialmente, patrocinada).

Foi nela que um dos maiores ‘dramas’ de cadeirantes ou de pessoas com mobilidade reduzida foi retratado: a dificuldade de acesso.

O ex-nadador Clodoaldo Silva, medalhista Paralímpico em várias edições dos Jogos e responsável pelo acendimento da Tocha Paralímpica, se deparou um uma escada enorme que impossibilitaria sua chegada até a Pira.

Porém, a escada se desencaixou, formando uma rampa, e ele pode, enfim, realizar o procedimento para o qual tinha sido escalado.

(Para quem não viu ou para quem quiser rever, o vídeo pode ser acessado neste link.)

Eu não vou entrar no mérito de que eu, sozinha, na cadeira manual, não conseguiria subir aqueles lances de rampa, ainda mais na chuva torrencial que caia no Rio de Janeiro naquele dia; me reservo ao direito de ficar (super) feliz por essa realidade ter sido mostrada naquele momento, porém, infelizmente, esse momento fundamental como uma tentativa de melhorar algumas coisas – ainda que mínimas – não foi televisionado pela mídia aberta.

Nós temos, sim, obstáculos em praticamente todos os momentos dos nossos dias.

Vocês já pensaram sobre como deve ser não poder entrar, sozinho, em um lugar?

Eu tenho um birra de dizer que, se o esforço for demais e/ou se eu precisar de ajuda de outra pessoa para ter acesso a um estabelecimento, por exemplo, nem me convidem.

Claro que, com a cabeça fria, eu entendo que tal pensamento não é correto, pois minha condição não deve me privar de ter uma vida ~normal~, entretanto, seria TÃO mais fácil (e justo) um acesso igualitário, não é mesmo?

Portas estreitas e degraus em toda a parte em construções novas me tiram do sério.

Além disso, a maioria das pessoas, quando tem a opção de acesso tanto por escada quanta por rampa, acabam utilizando a rampa.

Por quê?

Bom, porque é mais fácil.

#PorUmMundoSemEscadas?

Visibilidade

Eu vejo muita gente opinando sobre várias coisas das quais não entendem, mas, ei, pelo menos, assim, um assunto importante pode entrar em evidência.

Ainda sobre as olimpíadas, vocês devem lembrar de que, alguns dias antes dos jogos começarem, foi lançada a campanha “Somos Todos Paralímpicos”, estrelada pela Cleo Pires e pelo Paulo Vilhena (a Cleo estava sem um braço e o Paulo sem uma perna).

No dia do lançamento da campanha, o Facebook lotou de comentários e compartilhamentos – vi inúmeras vezes a reportagem, mas, em um primeiro momento, não dei muita atenção (mais por estar bastante ocupada no dia em questão).

Quando tive a oportunidade de entrar nas matérias sobre o assunto, resolvi que, primeiro, iria ler os comentários.

Não faço muito isso, pois geralmente os comentários não acrescentam positivamente na minha vida, mas estava curiosa demais.

Constatei o que eu já esperava: apesar dos elogios, eram muitas as críticas.

A maioria dizia que atletas deviam ter sido pegos para realizar a campanha, e não os atores ‘perfeitos’, mesmo eles sendo Embaixadores do Comitê Paralímpico Brasileiro.

Esse mesmo pensamento passou pela minha cabeça inicialmente, mas depois de ler bastante sobre o assunto, refletir e, posteriormente, ouvir o depoimento dado pela atriz, cheguei à conclusão de que a decisão foi acertada.

O fato de terem sido usados atores conhecidos no país para realizar a campanha deu visibilidade ao movimento paralímpico e, também, para todos os portadores de deficiências.

Isso, infelizmente, é algo que não seria possível caso tivessem escolhido pessoas ‘comuns’.

Nós conhecemos muito pouco de seus nomes e menos ainda da realidade em que esses atletas vivem.

Não foi a primeira nem a última vez em que coisinhas ‘polêmicas’ acabam sendo usadas para chamar a atenção do público.

E, entendam, tudo o que faz pelo menos uma pessoa pensar sobre uma realidade diferente é bastante válido.

Algum de vocês lembra de situações em que fizeram tal reflexão?

Eu gostaria de saber.

Algumas de minhas experiências

Recentemente realizei uma viagem (que eu vou contar direitinho os detalhes aqui no Moderando em algum próximo post) e ela acabou sendo um pouco diferente do que estou acostumada.

Normalmente viajamos (em família) de carro, mas, dessa vez, meu pai não poderia nos acompanhar e acabou ficando mais fácil ir de ônibus com a minha mãe.

Eu tenho sorte de ter outras opções, pois tem muita coisa errada e atrasada por aí – coisas que precisam ser urgentemente revistas, até porque, na maioria das vezes, são coisas simples.

Começando pelos ônibus.

Mesmo novos, nenhum deles tinha elevador (inclusive, a Bru está esperando até hoje uma resposta da empresa) e, ainda assim, apresentam o adesivo de acessibilidade para dar a falsa impressão de que a empresa se preocupa com essa questão.

Na minha percepção, tal adesivo só serve para dizer que, ok, nós podemos andar de ônibus, porém, para entrar nele, precisamos que alguém nos carregue (e precisa ser alguém forte, já que aquela escadinha é bem apertada).

Espero que vocês entendam meu desânimo nessa questão, pois já pensaram em como vocês se sentiriam tendo que ser carregados por um estranho?

Não é legal.

Os motoristas que nos ajudaram foram, em sua maioria, bastante prestativos, entretanto, a situação pode ser chata para eles também.

(E não só para a pessoa que precisa de ajuda.)

As pessoas, de uma forma geral, também costumam ser ~difíceis~.

Não me entendam mal; eu sei que tem muita gente legal e preocupada com o bem estar do próximo, mas o que mais se percebe é que incômodo para muitos coisas simples como ceder seu lugar para que pessoas com quaisquer tipos de dificuldades tenham um atendimento preferencial.

No avião podemos entrar antes, mas somos os últimos a sair, pois adoram formar filas antes mesmo de a aeronave parar por completo.

Eu nunca na minha vida pedi para passar na frente em alguma fila, pois me sinto desconfortável e não gosto disso, afinal, não me acho diferente de ninguém e recuso um tratamento diferenciado – aliás, esse sentimento é compartilhado por todos os cadeirantes que eu conheço.

Porém, tratamento diferenciado não significa a mesma coisa que tratamento preferencial, e não se pode negar que existem situações em que precisamos de um maior auxílio.

O tempo e a forma de acomodação é só um exemplo disso.

Diquinhas da Mi

Não quero deixar o post longo e cansativo, por isso não vou entrar a fundo em algumas questões no momento.

Entretanto, há algumas coisinhas que eu gostaria que todos soubessem, entendessem e levassem para a vida:

1 - Nós somos normais, peeps.

Eu garanto que eu sou – quer dizer, mais ou menos, tenho tendência a ser ~levemente louca~ às vezes, mas que pessoa nos seus 20 anos não é?

De resto, a pessoa que vos escreve aqui é igual a cada um de vocês, leitores.

A diferença é que eu rodo (e isso pode ser muito legal).

2 - Cadeirante não é radioativo e deficiência não é contagiosa.

Pode chegar perto, pode conversar, pode perguntar (desde que com respeito, sem ser muito invasivo e sem fazer muita insistência em um primeiro momento, já que, como somos pessoas como quaisquer outras, podemos não querer abrir muitos detalhes pessoais para desconhecidos).

Pode também, especialmente, ser nosso amigo – nós somos amorzinhos! <3 #EuMeVoluntario

3 - Cuidem com as palavras, pois elas realmente machucam.

Eu nunca dei muita bola para isso e realmente não me importo se alguém me chamar de deficiente, mas muitos portadores de deficiência acham a palavra bastante pesada.

Porém, eu (e muitos outros) me sinto mal quando escuto alguém chamando outra pessoa de deficiente em tom pejorativo para substituir palavras como ‘idiota’.

Vi conhecidos fazerem isso várias vezes e fico feliz que, após explicar meus motivos para achar a atitude errada, tal situação não voltou a acontecer.

Se alguém aqui faz, já fez e/ou conhece alguém que faz isso, eu peço que parem, pensem e entendam que não é legal, gente.

(Eu garanto que não.)

Eu também já fui chamada de paralítica, algo que doeu no fundo do coração, de verdade.

Levei um choque na hora, não sabia nem como responder à pergunta que havia sido feita, por ter sido pega de surpresa pela expressão.

Tudo bem que era um senhor mais velho, que ele muito provavelmente não falou por mal, que a palavra devia ser usada nos seus tempos de juventude e que deve ter sido a forma como ele aprendeu a chamar pessoas com deficiência, mas eu nunca tinha ouvido ela diretamente para mim e fiquei um bom tempo sem saber lidar com a situação.

Foi um baque bem grande e eu espero que ninguém tenha que passar por uma situação tão chata quanto essa foi para mim.

Outra coisa: nunca, jamais, sob hipótese alguma, usem a palavra ‘especial’ para se referir a um portador de deficiência, seja ela do tipo ou grau que for.

De novo, eu sei que a maioria das pessoas fala isso na melhor das intenções e por achar que é o correto (ou por ter sido ensinada que essa é a palavra correta ou por n motivos), mas não é.

Especial’ é o oposto do que a gente quer, pois, como a palavra mesmo diz, torna as coisas especiais, diferentes, desiguais, quando tudo o que queremos é igualdade.

Então, se possível, risquem essas palavras dos seus dicionários, a Mi agradece. ?

Por fim…

Eu ficaria muito feliz se vocês resolvessem dar uma atenção especial para assuntos como esse.

Nós queremos que mais discussões sejam feitas nos meios em que nos são habituais, pois muitas das nossas vivências depende das condições que nos são oferecidas.

Não é vitimismo – bem longe disso –, é apenas um desejo de que haja mais respeito e empatia em nossa sociedade.

Não falam há anos que os idosos, em sua maioria, acabam tendo limitações em certa altura da vida?

Não espere chegar lá para reclamar sobre como as calçadas são um caos ou sobre como aquelas escadas lindas na entrada de um prédio são um obstáculo.

Em outros momentos, vou contar um pouquinho mais sobre questões do tipo.

Se for de seu interesse, eu fico à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas ou curiosidades?

E só uma última observação: não podemos focar apenas no que está errado, concordam?

Tem MUITA gente boa por aí, que se preocupa verdadeiramente com os outros e que tenta transformar o caótico em um lugar melhor.

*Estrelinha no caderninho de todas.*

E eu sou muito grata por elas todas.

Precisamos de vocês no mundo.

Fonte – moderando.com


Eu estava navegando pela internet a procura de matéria para mais uma postagem, quando me deparei com essas duas postagem; elas são muito interessantes por falar com clareza e honestidade sobre como é a vida de cadeirante, ao esclarecer muitos pontos que são uma espécie de mito ou tabu para as pessoas.

Então resolvi compartilhar com todos vocês.

Um abraço a todos.








2 comentários:

  1. Sim, o deficiente pode ser feliz basta que este aceite a sua condição de nascença ou por motivo de acidente, doença e outros; pode-se fazer inúmeras atividades desde que você respeite as suas limitações; portanto podemos viver bem e feliz, constituir família, estudar, trabalhar, se divertir em fim se pode realizar várias atividades. Tudo depende de cada um de nós.

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  2. Olha no meu modo de ver eles são felizes como qualquer outra pessoa; tenho um cunhado que após um acidente com bicicleta ficou tetraplégico, ele vive bem com a minha irmã, tem uma vida agitada no dia a dia sempre as voltas de defender as pessoas com deficiência, não para um instante é mais ativo do que muitas pessoas que conheço, já fez vários cursos pela internet com certificados validos em todo o país, além de estar estudando inglês sozinho pela internet e está sempre de bom humor; acho que isso é ser feliz.

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