O
botulismo é uma doença pouco comum, potencialmente fatal,
resultante da ação de uma neurotoxina (toxina que ataca os
neurônios) elaborada pela bactéria Clostridium botulinum.
A
neurotoxina botulínica é um dos venenos mais letais que conhecemos.
Neste
artigo vamos abordar os seguintes pontos sobre o botulismo e a toxina
botulínica:
O
que é o botulismo.
Qual
é a bactéria responsável pela infecção.
O
que é a Toxina botulínica.
Como
se dá a transmissão.
Quais
são os Sintomas.
Como
é feito o Diagnóstico.
Quais
são as opções de Tratamento.
O
que é botulismo
O
botulismo é uma doença infecciosa, porém não contagiosa (não é
transmissível entre pessoas), causada pela ação de toxinas
produzidas pela bactéria Clostridium botulinum.
O
botulismo é uma doença rara, mas que pode ocorrer em qualquer parte
do mundo.
Apesar
de ser pouco comum, é uma doença importante, pois os pacientes
contaminados apresentam elevada mortalidade e precisam iniciar
tratamento rapidamente.
O
botulismo é, portanto, uma emergência médica.
A
doença não é provocada diretamente pela bactéria, mas sim pelas
neurotoxinas por ela produzidas.
O
botulismo é uma doença de instalação súbita, com acometimento
predominantemente neurológico, caracterizada por paralisia motora
progressiva.
O
principal modo de transmissão é através de alimentos mal
conservados (explicaremos adiante).
O
botulismo é doença de notificação compulsória.
Entre
1999 a 2011 foram registrados 68 casos no Brasil, com 20 óbitos, uma
mortalidade próxima de 30%.
Dados
ainda não definitivos de 2012 indicam mais 4 casos de botulismo e
duas mortes durante o ano.
Devido
à gravidade da doença e à possibilidade da ocorrência de
múltiplos casos resultantes da ingestão de uma mesma fonte de
alimentos contaminados, basta a notificação de um único caso para
que seja considerada a existência de um surto de botulismo.
Bactéria
do botulismo – Clostridium botulinum
O
Clostridium é um gênero de bactérias anaeróbicas (que não
precisam de oxigênio para viver) em forma de bastonete, cuja algumas
espécies podem causar doenças, como nos casos:
Clostridium
tetani
– causadora do tétano (leia: TÉTANO
| Vacina e sintomas).
Clostridium
botulinum
– causadora do botulismo.
Clostridium
perfringens
– causadora da gangrena gasosa.
Clostridium
difficile
– causadora da colite pseudomembranosa (leia: COLITE
PSEUDOMEMBRANOSA | Clostridium difficile).
O
Clostridium botulinum é uma bactéria que pode estar presente
em qualquer local, mas é mais facilmente encontrada no solo, em
sedimentos de lagos e mares, nos intestinos de peixes e crustáceos,
produtos agrícolas, mel ou nas superfícies de vegetais, frutas e
outros alimentos.
O
Clostridium botulinum se encontra no ambiente sob a forma de
esporos, que são muito resistentes ao calor, podendo sobreviver até
temperaturas de 100ºC durante cinco ou mais horas.
Os
esporos só são destruídos por aquecimentos acima de 120ºC, por
pelo menos 15 minutos.
Quando
condições ambientais adequadas estão presentes, os esporos
conseguem germinar e evoluir para a forma vegetativa, que é a forma
ativa da bactéria, capaz de multiplicar-se e produzir toxinas. As
melhores condições para sobrevivência do Clostridium botulinum
são:
Pouca
exposição ao oxigênio.
Locais
de baixa acidez.
Temperatura
entre 25 e 37ºC.
No
entanto, algumas cepas podem crescer em temperaturas tão baixas
quanto 4°C.
Alguns
alimentos, principalmente aqueles em conserva, se não forem
adequadamente manipulados e estocados, podem se transformar em um
excelente meio para a proliferação do Clostridium botulinum.
Algumas
cepas desta bactéria produzem enzimas que desnaturam e “estragam”
os alimentos por elas habitadas, deixando-os com cheiro e aparência
desagradáveis.
Todavia,
há cepas de Clostridium botulinum que podem colonizar
alimentos sem provocar grandes alterações no seu aspecto, sendo
difícil suspeitar que estejam contaminados.
Toxina
botulínica
O
Clostridium é uma bactéria que provoca doença através da
produção de toxinas.
No
caso do Clostridium botulinum, a toxina é uma neurotoxina que ataca
os nervos periféricos, impedindo o funcionamento normal dos mesmos.
A
neurotoxina botulínica produzida pelo Clostridium botulinum é
um dos venenos mais potentes que conhecemos.
Apenas
como comparação, para que o cianureto seja letal em ratos é
preciso uma dose 10000 microgramas por quilo. Já a toxina botulínica
é capaz de matar com apenas 0,0003 microgramas por quilo.
São
conhecidos oito tipos de toxinas botulínicas: A, B, C1, C2, D, E, F
e G, das quais as do tipo A, B e E são as mais tóxicas para os
seres humanos.
As
formas F e G também podem provocar doença, mas é raro.
A
toxina botulínica não tem cheiro nem sabor, não sendo possível
saber de antemão se o alimento ingerido está ou não contaminado.
As
toxinas se ingeridas causam doença porque conseguem resistir ao
ácido do estômago e às enzimas naturais do processo digestivo.
Porém,
ao contrário da bactéria, que consegue resistir a altas
temperaturas sob a forma de esporos, a toxina costuma ser inativada
quando exposta a temperaturas maiores que 80ºC por pelo menos 10
minutos.
A
toxina absorvida no trato gastrintestinal alcança a circulação
sanguínea e viaja até os nervos, onde ela age bloqueando a ação
de neurotransmissores responsáveis pelos movimentos musculares,
resultando em paralisia flácida dos músculos.
A
toxina botulínica passou a ser usada na medicina para pacientes cuja
a paralisação controlada de alguns músculos mostrava-se benéfica.
Porém,
para ser administrada de modo seguro, foi preciso primeiro isolar e
purificar a toxina para que esta pudesse ser sintetizada.
Surgiu
então o Botox®, a forma farmacêutica da toxina botulínica A.
Para
saber mais sobre o Botox® e seus usos na medicina e na estética,
leia:
BOTOX
| Aplicações e complicações.
Transmissão
do botulismo
Existem
basicamente três formas de se adquirir o botulismo: botulismo
alimentar, botulismo por ferimentos, botulismo intestinal (também
chamado de botulismo infantil)
Botulismo
por ferimentos
Esta
forma de transmissão ocorre pela contaminação de feridas com o
Clostridium
botulinum
proveniente do ambiente, geralmente do solo. As principais portas de
entrada são úlceras dos membros, lesões traumáticas ou mesmo
feridas cirúrgicas.
O
botulismo também pode ser transmitido através do uso de drogas
injetáveis, como heroína, ou drogas aspiráveis, como cocaína
(leia: COCAÍNA
| CRACK | Efeitos e complicações).
Botulismo
alimentar
Palmito
em conserva – Fonte potencial de botulismo.
Ocorre
quando o paciente ingere alimentos contaminados com a toxina
botulínica.
Esta
contaminação ocorre geralmente com alimentos conservados de maneira
inadequada.
Os
mais envolvidos são: conservas vegetais artesanais, como palmito e
picles; produtos de carne cozidos, curados e defumados de forma
artesanal, como salsicha, presunto e carne de lata; pescados
defumados, salgados e fermentados; queijos e mel artesanal.
O
botulismo também pode ocorrer em alimentos enlatados
industrializados.
Botulismo
intestinal (botulismo infantil)
Ocorre
geralmente em crianças com idade entre 1 semana e 1 ano (maioria dos
casos entre 3 e 26 semanas) e resulta da ingestão dos esporos de
Clostridium botulinum presentes nos alimentos ou solo.
Esta
forma é comum no mel, que é um alimento que frequentemente está
contaminado com o Clostridium botulinum.
Porém,
a grande quantidade de açúcar do mel impede a transformação dos
esporos para a sua forma vegetativa, não havendo, portanto, produção
de toxinas.
Após
a ingestão, ao chegarem aos intestinos, os esporos encontram um meio
mais propício para ficarem ativos, passando a se multiplicar e a
produzir toxinas.
Crianças
pequenas ainda não possuem um flora de bactérias no intestino capaz
de protegê-las contra a invasão do Clostridium botulinum,
permitindo que o mesmo se estabeleça facilmente e passe a produzir
toxinas diretamente dentro do intestino.
Esta
forma não costuma acometer adultos saudáveis, pois os esporos não
conseguem se fixar aos intestinos.
Todavia,
adultos com doenças dos intestinos também podem adquirir este tipo
de botulismo. Os fatores de risco costumam ser: cirurgias
intestinais, doença de Crohn (leia: DOENÇA
DE CROHN | RETOCOLITE ULCERATIVA) ou uso de antibióticos por
tempo prolongado, o que provoca eliminação da flora intestinal
natural.
Sintomas
do botulismo
O
período de incubação do botulismo varia de acordo com a forma de
transmissão.
No
botulismo alimentar, como as enzimas já estão prontas nos
alimentos, o período de incubação costuma ser curto, na maioria
dos casos entre 12 e 36 horas, mas pode variar entre 2h até 10 dias,
dependendo da quantidade de toxinas presentes. Já no botulismo por
ferimentos, o tempo médio de incubação é de 7 dias, podendo
variar entre 4 a 21 dias.
No
botulismo infantil não temos informações precisas sobre o período
de incubação, pois é muitas vezes difícil identificar quando os
esporos foram ingeridos.
Em
geral, este período é mais longo que na forma alimentar, já que os
esporos ingeridos precisam primeiro se fixar ao intestino, para
depois passarem para forma vegetativa e, somente então, começarem a
produção de neurotoxinas.
a.
Sintomas do botulismo alimentar
O
botulismo é uma doença de início súbito e progressivo,
caracterizado por sintomas gastrointestinais e neurológicos.
As
manifestações gastrintestinais costumam ocorrer no início do
quadro, mas isso não é obrigatório.
Os
sintomas mais comuns são: náuseas, vômitos, diarreia e dor
abdominal.
As
manifestações neurológicas costumam ser as mais importantes,
caracterizadas por uma paralisia muscular que atinge inicialmente os
nervos cranianos e vai descendo para o resto do corpo.
O
quadro é bem parecido com a síndrome de Guillain Barré, a
diferença é que o botulismo começa na cabeça e progride de forma
descendente, enquanto que no GB a paralisia muscular começa nas
pernas e vai subindo (leia: SÍNDROME
DE GUILLAIN-BARRÉ | Sintomas e tratamento).
Os
sintomas neurológicos do botulismo costumam se iniciar com visão
borrada ou visão dupla, paralisia das pálpebras, dilatação das
pupilas e limitação dos movimentos dos olhos.
A
partir dos olhos, a doença começa a atingir também o resto da
cabeça, comprometendo a fala, a mastigação, a capacidade de
engolir e os movimentos da língua.
O
próximo passo é o acometimentos dos músculos do pescoço,
impedindo o paciente de sustentar o peso da cabeça.
Quando
chega ao tronco, a paralisia pode comprometer o funcionamento dos
músculos do diafragma, responsáveis pela respiração, levando o
paciente à insuficiência respiratória aguda e necessidade de
ventilação mecânica (respirador artificial).
Junto
com o tronco, a paralisia costuma acometer também os braços e
depois o abdômen e membros inferiores, levando o paciente a uma
tetraplegia flácida (paralisia flácida dos 4 membros).
Boca
seca, paralisia dos intestinos, hipotensão e retenção urinária
também são sintomas comuns.
Como
a neurotoxina ataca somente os nervos musculares, não há
comprometimento da sensibilidade, isto é, o paciente sente tudo, ele
apenas não consegue mover os músculos.
Também
não há cegueira e o indivíduo permanece consciente o tempo
inteiro.
Os
sintomas do botulismo costumam progredir durante uma ou duas semanas,
estabilizando-se por mais 2 semanas antes de iniciar uma lenta fase
de recuperação, que costuma durar até 3 meses. Nos casos mais
graves, a recuperação completa pode levar até um ano.
A
gravidade do quadro depende da quantidade e do tipo de toxina
ingerida (A e B costumam ser as mais agressivas).
A
gravidade do botulismo pode variar desde um quadro leve, com sintomas
intestinais e apenas mínimo acometimento dos nervos cranianos, até
uma doença fulminante, com óbito em apenas 24 horas.
A
paralisia respiratória ocorre em 30 a 50 % dos casos.
As
internações costumam ser de no mínimo 1 mês, porém, podem haver
pacientes que precisem ficar hospitalizados por até 3 meses.
b.
Sintomas do botulismo por ferimento
O
quadro clínico do botulismo por ferimentos é praticamente igual ao
botulismo alimentar, exceto pelo período de incubação mais longo e
ausência de sintomas gastrointestinais.
A
febre pode ocorrer também, mas ela costuma ser devido à infecção
da ferida e não pela ação direta das toxinas.
c.
Sintomas do botulismo infantil (botulismo intestinal)
O
botulismo infantil ataca preferencialmente os bebês e manifesta-se
geralmente com constipação e irritabilidade, que evoluem para
sinais neurológicos, como dificuldade de controlar os movimentos da
cabeça, sucção fraca, engasgos, choro fraco, prostração e
paralisias bilaterais descendentes, que podem provocar paradas
respiratórias.
A
gravidade do botulismo infantil também é variável, podendo haver
casos leves caracterizados apenas por dificuldade alimentar e
discreta fraqueza muscular, até casos graves com morte súbita da
criança.
Diagnóstico
do botulismo
O
diagnóstico do botulismo é habitualmente feito com isolamento das
toxinas nas fezes ou no sangue.
A
pesquisa da própria bactéria Clostridium botulinum nas fezes
também é possível. Nos casos de botulismo por ferimentos, não
adianta examinar as fezes, é preciso procurar pela bactéria da
ferida ou no sangue.
Quanto
mais precoce for a coleta de material, maior será a chance de
encontrar toxinas ou bactérias presentes.
Por
questões de saúde pública é importante também pesquisar pela
toxina ou esporos em alimentos recentemente ingeridos pelo
paciente, principalmente os de maior risco, como mel, alimentos em
conserva, peixes em lata mal conservados, etc.
No
últimos anos, em todo mundo, houve casos relatados de botulismo
provocados por queijos, sardinha enlatada, pimenta, palmito em
conserva, mortadela, tofu, produtos suínos, azeitonas em conserva e
jiló.
Tratamento
do botulismo
Todo
paciente com suspeita de botulismo deve ser imediatamente internado
para acompanhamento da função respiratória.
Existe
um antídoto para a toxina botulínica, chamado soro anti botulínico
(SAB).
Este
tratamento, porém, só atua contra a toxina circulante no sangue, ou
seja, contra aquelas que ainda não se fixaram aos nervos. Portanto,
quanto mais precocemente o soro anti botulínico for iniciado, maior
será a sua eficácia.
Antibióticos,
como a penicilina, podem ser usados nos casos de botulismo por
feridas, ajudando a eliminar qualquer bactéria que esteja se
reproduzindo dentro das lesões.
Nos
pacientes alérgicos à penicilina, o Metronidazol é uma opção
(leia: ALERGIA
À PENICILINA).
Em
geral, a maioria dos pacientes que recebem atendimento médico e
cuidados respiratórios precoces apresentam uma recuperação
completa ou quase completa, podendo voltar a exercer qualquer tipo de
atividade.
Por
outro lado, os pacientes com doença grave e/ou demora no início do
tratamento poderão permanecer com sequelas.
O
botulismo não fornece imunização permanente.
Uma
mesma pessoa pode ter botulismo mais de uma vez na vida.
Fonte:
- www.mdsaude.com
Olha achei esta matéria sobre botulismo causa e sintomas muito interessante devido a explicação sobre o tema abrangendo parte a parte do assunto ao explicar o que é botulismo, suas causas e seus sintomas abrangendo um leque de fácil compreensão do assunto. Matérias assim são muito interessante para leigos sobre o assunto dando uma melhor visão.
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