BULLYING
CONTRA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA
A
violência moral e física contra estudantes com necessidades
especiais é uma realidade velada.
Saiba
o que fazer para reverter essa situação.
Um
ou mais alunos xingam, agridem fisicamente ou isolam um colega, além
de colocar apelidos grosseiros.
Esse
tipo de perseguição intencional definitivamente não pode ser
encarado só como uma brincadeira natural da faixa etária ou como
algo banal, a ser ignorado pelo professor.
É
muito mais sério do que parece.
Trata-se
de bullying.
A
situação se torna ainda mais grave quando o alvo é uma criança ou
um jovem com algum tipo de deficiência - que nem sempre têm
habilidade física ou emocional para lidar com as agressões.
Tais
atitudes costumam ser impulsionadas pela falta de conhecimento sobre
as deficiências, sejam elas físicas ou intelectuais, e, em boa
parte, pelo preconceito trazido de casa.
Em
pesquisa recente sobre o tema, realizada com 18 mil estudantes,
professores, funcionários e pais, em 501 escolas em todo o Brasil, a
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) constatou que
96,5% dos entrevistados admitem o preconceito contra pessoas com
deficiência.
Colocar
em prática ações pedagógicas inclusivas para reverter essa
estatística e minar comportamentos violentos e intolerantes é
responsabilidade de toda a escola.
Conversar
abertamente sobre a deficiência derruba barreiras
Quando
a professora Maria de Lourdes Neves da Silva, da EMEF Professora
Eliza Rachel Macedo de Souza, na capital paulista, recebeu Gabriel**,
a reação dos colegas da 1ª série foi excluir o menino - na época
com 9 anos de idade - do convívio com a turma.
"A
fisionomia dele assustava as crianças.
Resolvi
explicar que o Gabriel sofreu má-formação ainda na barriga da mãe.
Falamos
sobre isso numa roda de conversa com todos (leia no quadro abaixo
outros encaminhamentos para o problema).
Eles
ficaram curiosos e fizeram perguntas ao colega sobre o cotidiano
dele.
Depois
de tudo esclarecido, os pequenos deixaram de sentir medo",
conta.
Hoje,
com 13 anos, Gabriel continua na escola e estuda na turma da
professora Maria do Carmo Fernandes da Silva.
"A
exclusão é uma forma de bullying e deve ser combatida com o
trabalho de toda a equipe", afirma.
De
fato, um bom trabalho para reverter situações de violência passa
pela abordagem clara e direta do que é a deficiência.
De
acordo com a psicóloga Sônia Casarin, diretora do S.O.S. Down -
Serviço de Orientação sobre Síndrome de Down, em São Paulo, é
normal os alunos reagirem negativamente diante de uma situação
desconhecida.
Cabe
ao professor estabelecer limites para essas reações e buscar
erradicá-las não pela imposição, mas por meio da conscientização
e do esclarecimento.
Não
se trata de estabelecer vítimas e culpados quando o assunto é o
bullying.
Isso
só reforça uma situação polarizada e não ajuda em nada a
resolução dos conflitos.
Melhor
do que apenas culpar um aluno e vitimizar o outro é desatar os nós
da tensão por meio do diálogo.
Esse,
aliás, deve extrapolar os limites da sala de aula, pois a violência
moral nem sempre fica restrita a ela.
O
Anexo Eustáquio Júnio Matosinhos, ligado à EM Newton Amaral
Franco, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte,
encontrou no diálogo coletivo a solução para uma situação
provocada por pais de alunos.
Este
ano, a escola recebeu uma criança de 4 anos com deficiência
intelectual e os pais dos coleguinhas de turma foram até a
Secretaria de Educação pedir que o menino fosse transferido.
A
vice-diretora, Leila Dóris Pires, conta que a solução foi fazer
uma reunião com todos eles.
"Convidamos
o diretor de inclusão da secretaria e um ativista social cadeirante
para discutir a questão com esses pais.
Muitos
nem sabiam o que era esse conceito.
A atitude deles foi motivada por
total falta de informação e, depois da reunião, a postura mudou."
Seis
soluções práticas
Conversar
sobre a deficiência do aluno com todos na presença dele.
Adaptar
a rotina para facilitar a aprendizagem sempre que necessário.
Chamar
os pais e a comunidade para falar de bullying e inclusão.
Exibir
filmes e adotar livros em que personagens com deficiência vivenciam
contextos positivos.
Focar
as habilidades e capacidades de aprendizagem do estudante para
integrá-lo à turma.
Elaborar
com a escola um projeto de ação e prevenção contra o bullying.
Antecipar
o que vai ser estudado dá mais segurança ao aluno
"Passei
a adiantar para o José, em cada aula, o conteúdo que seria ensinado
na seguinte.
Assim,
ele descobria antes o que iria aprender." Maria Aparecida de
Sousa Silva Sá, professora do CAIC EMEIEF Antônio Tabosa Rodrigues,
em Cajazeiras, PB. Foto: Leonardo Silva
No
CAIC EMEIEF Antônio Tabosa Rodrigues, em Cajazeiras, a 460
quilômetros de João Pessoa, a solução para vencer o bullying foi
investir, sobretudo, na aprendizagem.
Ao
receber José, um garoto de 12 anos com necessidades educacionais
especiais, a professora Maria Aparecida de Sousa Silva Sá passou a
conviver com a hostilidade crescente da turma de 6ª série contra
ele.
"Chamavam
o José de doido, o empurravam e o machucavam.
Como
ele era apegado à rotina, mentiam para ele, dizendo que a aula
acabaria mais cedo. Isso o desestabilizava e o fazia chorar",
lembra.
Percebendo
que era importante para o garoto saber como o dia seria encaminhado,
a professora Maria Aparecida resolveu mudar:
"Passei
a adiantar para o José, em cada aula, o conteúdo que seria ensinado
na seguinte.
Assim,
ele descobria antes o que iria aprender".
Nas
aulas seguintes, o aluno, que sempre foi quieto, começou a
participar ativamente.
Ao
notar que ele era capaz de aprender, a turma passou a respeitá-lo.
"Fiquei
emocionada quando os garotos que o excluíam começaram a chamá-lo
para fazer trabalhos em grupo", conta.
Depois
da intervenção, as agressões cessaram.
"O
caminho é focar as habilidades e a capacidade de aprender.
Quando
o aluno participa das aulas e das atividades, exercitando seu papel
de aprendiz e contribuindo com o grupo, naturalmente ele é
valorizado pela turma.
E
o bullying, quando não cessa, se reduz drasticamente", analisa
Silvana Drago, responsável pela Diretoria de Orientação Técnica -
Educação Especial, da Secretaria Municipal de Educação de São
Paulo.
Samara
Oliboni, psicóloga e autora de tese de mestrado sobre bullying, diz
que é preciso pensar a questão de forma integrada.
"O
professor deve analisar o meio em que a criança vive, refletir se o
projeto pedagógico da escola é inclusivo e repensar até seu
próprio comportamento para checar se ele não reforça o preconceito
e, consequentemente, o bullying.
Se
ele olha a criança pelo viés da incapacidade, como pode querer que
os alunos ajam de outra forma?", reflete.
A
violência começa em tirar do aluno com deficiência o direito de
ser um participante do processo de aprendizagem.
É
tarefa dos educadores oferecer um ambiente propício para que todos,
especialmente para os que têm deficiência, se desenvolvam.
Com
respeito e harmonia.
Os
nomes dos alunos foram trocados para preservar a identidade.
Fonte:
- Revista Nova Escola / Edição 228 /Dezembro de 2009 / Título
original: Chega de Omissão
Bullying
na escola: quando o foco é a deficiência física
Atualmente
a questão do bullying é, de fato, muito discutida.
E,
para se falar nisso, primeiramente, temos que saber o que é, mesmo,
esse fenômeno que, na verdade, trata-se, até, de uma polêmica.
Então,
para essa necessária conceituação, Cézar e Barros Neta (2011, p.
4) trazem concepções e pressupostos de Fante (2005) e Guareschi
(2008), afirmando que o bullying pode ser descrito como:
[...]
a forma de violência mais cruel, pois tal nível de agressividade
torna suas vítimas reféns da ansiedade e de emoções que
interferem negativamente nos seus processos de aprendizagem e
convívio social, devido à excessiva mobilização de emoções de
medo, de angústia e de raiva reprimida. Isso pode ser decisivo no
incentivo à evasão escolar e ao ingresso desses alunos no mundo das
drogas e do crime, bem como, formar uma geração de pessoas
psicologicamente desestruturadas, que poderão vir a cometer
violência doméstica e adotar características antissociais.
E
torna-se essencial frisar que, quando o assunto é o bullying, [...]
a situação se torna ainda mais grave [...] quando o alvo é uma
criança ou um jovem com algum tipo de deficiência - que nem sempre
tem habilidade física ou emocional para lidar com as agressões.
[...] (NOVA ESCOLA, 2009).
Assim,
através desse prisma, o bullying é - ou parece ser - ainda mais
facilmente oferecido, mais operante, principalmente quando se trata
da Deficiência Física, mesmo que, nesse caso, a prática do
referido mal se mostra, realmente, de uma maneira bem disfarçada.
Deficiência
Física pode ser proveniente de diversas causas, como condições
adquiridas, má-formação congênita, lesões neurológicas e
neuromusculares etc., sendo que três de seus principais tipos são a
Paraplegia (perda total das funções motoras dos membros
inferiores), a Tetraplegia (perda total da função motora dos quatro
membros) e a Hemiplegia (perda total das funções motoras de um
hemisfério do corpo).
No
entanto, outros aspectos da aparência e da condição física são,
também, muitas vezes, motivos para chacotas, chateações,
gracinhas, dentre outros abusos, para os praticantes do bullying,
lembrando que “a violência moral e física contra estudantes com
necessidades especiais é uma realidade velada [...]” (Nova Escola,
2009), todavia, nada impede que muitas das vítimas sejam atingidas
de modo translúcido, a ponto até de sofrerem algum tipo de
agressão.
Aliás,
a mídia traz muitos exemplos disso.
O
que aqui se coloca enfaticamente é que aquilo que está mais visível
torna-se um “prato cheio” para os praticantes do bullying; ou
seja, determinados aspectos físicos de alguma deficiência tornam-se
esse “prato cheio”.
E,
quando os referidos aspectos vêm somados a outros que lhes podem ser
intrínsecos, como o comprometimento da fala ou da audição, por
exemplo, o mesmo “prato”, ainda é remontado, passando a ser um
“prato transbordante”.
Desde
os tempos de outrora, até os dias atuais, muitos dos olhares para
esses indivíduos parecem ser, fielmente, os mesmos.
O
descaso, o desprezo, a aversão perduram, neles, presentes.
E
foi lembrado, dessa maneira, de um passado remoto porque as
deficiências sempre existiram.
Aliás,
“anomalias físicas ou mentais, deformações congênitas,
amputações traumáticas, doenças graves e de consequências
incapacitantes, sejam elas de natureza transitória ou permanente,
são tão antigas quanto a própria humanidade” (SILVA, 1987, p.
21), sendo pertinente enfatizar que, bem antigamente, se uma criança
parecia “feia, disforme e franzina”, revelando algum tipo de
limitação física, era levada e jogada em um abismo, “pois tinham
a opinião de que não era bom nem para a criança nem para a
república que ela vivesse, visto que, desde o nascimento, não se
mostrava bem constituída para ser forte, sã e rija durante toda a
vida” (LICURGO DE PLUTARCO apud SILVA, 1987, p. 105).
Diante
dessa tamanha crueldade, é incontestável que, em épocas
contemporâneas, ornam mudanças...
Aliás,
mudanças muito significativas.
Entretanto,
o bullying não acabou e, dificilmente, o verbo “acabar”, em
relação ao referido problema, poderá ser empregado na íntegra,
afinal, deficientes podem até não estar sendo jogados em abismos,
contudo, eles continuam sendo vítimas de olhares que não os veem,
apenas, como diferentes, mas, sim, como “desiguais”, inclusive
dentro da própria Instituição Escolar que, por sua vez, tanto tem
a obrigação de contribuir na promoção da Inclusão Social.
Na
verdade, a “diversa diversidade” humana - permitam-me utilizar,
digamos, um trocadilho - infelizmente, é motivo para que alguém se
sinta ofendido a ponto, até, de praticar severos casos de violência,
inclusive, contra alguém que, por alguma limitação física, não
tem nem como se defender, ficando nítido, então, que, mesmo diante
das tantas mudanças e transformações deste mundo globalizado,
determinados aspectos da pluralidade humana ainda não são aceitos.
E,
vale lembrar que, sobre isso, existem excelentes palavras que podem
ser empregadas em todo o contexto da presente discussão.
São
vocábulos de Santos (1995), os quais dizem que [...] “temos o
direito a ser iguais quando a diferença nos inferioriza; temos o
direito a ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”.
O
significado dessas palavras de Santos (1995) é mais que uma verdade
porque, ainda que alguém nos considere inferiores a si por algum
“motivo” que para essa tal pessoa passa a ser uma “razão”,
temos, mesmo, o direito a ser incluídos naquela igualdade que esse
mesmo sujeito busca para si, assim como temos o direito a ser
diferentes quando essa igualdade, equivocadamente, passa a nos
descaracterizar, sendo que, como exemplo disso, pode-se falar do
portador de Necessidades Educativas Especiais (NEE), quando o mesmo
esteja na condição de não ser amparado, considerado, respeitado,
protegido e atendido, sobretudo na Escola, dentro das suas
características e subjetividade, sendo frisado que, de fato, tudo
isso deve ocorrer em um clima de Educação Especial, mas que,
realmente, esta seja contemplada numa efetiva incorporação ao
Sistema Educacional do ensino comum.
Referências
CESAR,
Coll; MARCHESI Álvaro; PALACIOS, Jesús & colaboradores.
Desenvolvimento psicológico e educação: transtornos de
desenvolvimento e necessidades educativas especiais. Trad. Fátima
Murad - 2. ed. 3v. Porto Alegre: Artmed, 2004.
CÉZAR,
N; BARROS NETA, M. da A. P. O impacto do fenômeno bullying na vida e
na aprendizagem de crianças e adolescentes.
LEANDRO,
Vera Lucia Damacena. Bullying no ambiente escolar. 2011.
REVISTA
Nova Escola. Bullying contra alunos com deficiência / Edição
228/Dezembro de 2009. Título original: Chega de Omissão.
SANTOS,
Boaventura de Souza. Entrevista com o Prof. Boaventura de Souza
Santos.
Otto
Marques da. A Epopéia ignorada - a história da pessoa deficiente no
mundo de ontem e de hoje. Centro São Camilo de Desenvolvimento em
Administração da Saúde, 1987.
Fonte:
- www.portaleducacao.com.br
Infelizmente o bullying é uma realidade nas escolas principalmente com as crianças deficientes as quais enfrentam muitas dificuldades na sua inserção com os coleguinhas da escola; deveriam nas escolas criarem programas que fizessem com que as crianças entendessem o que é deficiência e assim pudessem compreender e aceitar seus coleguinhas deficientes, promovendo a inclusão destes.
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