Acreditar em si mesmo

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sábado, 15 de julho de 2017

Bullying na escola quando o foco é a deficiência física.



BULLYING CONTRA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA


A violência moral e física contra estudantes com necessidades especiais é uma realidade velada.

Saiba o que fazer para reverter essa situação.


Um ou mais alunos xingam, agridem fisicamente ou isolam um colega, além de colocar apelidos grosseiros.

Esse tipo de perseguição intencional definitivamente não pode ser encarado só como uma brincadeira natural da faixa etária ou como algo banal, a ser ignorado pelo professor.

É muito mais sério do que parece.

Trata-se de bullying.

A situação se torna ainda mais grave quando o alvo é uma criança ou um jovem com algum tipo de deficiência - que nem sempre têm habilidade física ou emocional para lidar com as agressões.

Tais atitudes costumam ser impulsionadas pela falta de conhecimento sobre as deficiências, sejam elas físicas ou intelectuais, e, em boa parte, pelo preconceito trazido de casa.

Em pesquisa recente sobre o tema, realizada com 18 mil estudantes, professores, funcionários e pais, em 501 escolas em todo o Brasil, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) constatou que 96,5% dos entrevistados admitem o preconceito contra pessoas com deficiência.

Colocar em prática ações pedagógicas inclusivas para reverter essa estatística e minar comportamentos violentos e intolerantes é responsabilidade de toda a escola.

Conversar abertamente sobre a deficiência derruba barreiras

Quando a professora Maria de Lourdes Neves da Silva, da EMEF Professora Eliza Rachel Macedo de Souza, na capital paulista, recebeu Gabriel**, a reação dos colegas da 1ª série foi excluir o menino - na época com 9 anos de idade - do convívio com a turma.

"A fisionomia dele assustava as crianças.

Resolvi explicar que o Gabriel sofreu má-formação ainda na barriga da mãe.

Falamos sobre isso numa roda de conversa com todos (leia no quadro abaixo outros encaminhamentos para o problema).

Eles ficaram curiosos e fizeram perguntas ao colega sobre o cotidiano dele.

Depois de tudo esclarecido, os pequenos deixaram de sentir medo", conta.

Hoje, com 13 anos, Gabriel continua na escola e estuda na turma da professora Maria do Carmo Fernandes da Silva.

"A exclusão é uma forma de bullying e deve ser combatida com o trabalho de toda a equipe", afirma.

De fato, um bom trabalho para reverter situações de violência passa pela abordagem clara e direta do que é a deficiência.

De acordo com a psicóloga Sônia Casarin, diretora do S.O.S. Down - Serviço de Orientação sobre Síndrome de Down, em São Paulo, é normal os alunos reagirem negativamente diante de uma situação desconhecida.

Cabe ao professor estabelecer limites para essas reações e buscar erradicá-las não pela imposição, mas por meio da conscientização e do esclarecimento.

Não se trata de estabelecer vítimas e culpados quando o assunto é o bullying.

Isso só reforça uma situação polarizada e não ajuda em nada a resolução dos conflitos.

Melhor do que apenas culpar um aluno e vitimizar o outro é desatar os nós da tensão por meio do diálogo.

Esse, aliás, deve extrapolar os limites da sala de aula, pois a violência moral nem sempre fica restrita a ela.

O Anexo Eustáquio Júnio Matosinhos, ligado à EM Newton Amaral Franco, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, encontrou no diálogo coletivo a solução para uma situação provocada por pais de alunos.

Este ano, a escola recebeu uma criança de 4 anos com deficiência intelectual e os pais dos coleguinhas de turma foram até a Secretaria de Educação pedir que o menino fosse transferido.

A vice-diretora, Leila Dóris Pires, conta que a solução foi fazer uma reunião com todos eles.

"Convidamos o diretor de inclusão da secretaria e um ativista social cadeirante para discutir a questão com esses pais.

Muitos nem sabiam o que era esse conceito.

A atitude deles foi motivada por total falta de informação e, depois da reunião, a postura mudou."

Seis soluções práticas

Conversar sobre a deficiência do aluno com todos na presença dele.

Adaptar a rotina para facilitar a aprendizagem sempre que necessário.

Chamar os pais e a comunidade para falar de bullying e inclusão.

Exibir filmes e adotar livros em que personagens com deficiência vivenciam contextos positivos.

Focar as habilidades e capacidades de aprendizagem do estudante para integrá-lo à turma.

Elaborar com a escola um projeto de ação e prevenção contra o bullying.

Antecipar o que vai ser estudado dá mais segurança ao aluno

"Passei a adiantar para o José, em cada aula, o conteúdo que seria ensinado na seguinte.

Assim, ele descobria antes o que iria aprender." Maria Aparecida de Sousa Silva Sá, professora do CAIC EMEIEF Antônio Tabosa Rodrigues, em Cajazeiras, PB. Foto: Leonardo Silva

No CAIC EMEIEF Antônio Tabosa Rodrigues, em Cajazeiras, a 460 quilômetros de João Pessoa, a solução para vencer o bullying foi investir, sobretudo, na aprendizagem.

Ao receber José, um garoto de 12 anos com necessidades educacionais especiais, a professora Maria Aparecida de Sousa Silva Sá passou a conviver com a hostilidade crescente da turma de 6ª série contra ele.

"Chamavam o José de doido, o empurravam e o machucavam.

Como ele era apegado à rotina, mentiam para ele, dizendo que a aula acabaria mais cedo. Isso o desestabilizava e o fazia chorar", lembra.

Percebendo que era importante para o garoto saber como o dia seria encaminhado, a professora Maria Aparecida resolveu mudar:

"Passei a adiantar para o José, em cada aula, o conteúdo que seria ensinado na seguinte.

Assim, ele descobria antes o que iria aprender".

Nas aulas seguintes, o aluno, que sempre foi quieto, começou a participar ativamente.

Ao notar que ele era capaz de aprender, a turma passou a respeitá-lo.

"Fiquei emocionada quando os garotos que o excluíam começaram a chamá-lo para fazer trabalhos em grupo", conta.

Depois da intervenção, as agressões cessaram.

"O caminho é focar as habilidades e a capacidade de aprender.

Quando o aluno participa das aulas e das atividades, exercitando seu papel de aprendiz e contribuindo com o grupo, naturalmente ele é valorizado pela turma.

E o bullying, quando não cessa, se reduz drasticamente", analisa Silvana Drago, responsável pela Diretoria de Orientação Técnica - Educação Especial, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.

Samara Oliboni, psicóloga e autora de tese de mestrado sobre bullying, diz que é preciso pensar a questão de forma integrada.

"O professor deve analisar o meio em que a criança vive, refletir se o projeto pedagógico da escola é inclusivo e repensar até seu próprio comportamento para checar se ele não reforça o preconceito e, consequentemente, o bullying.

Se ele olha a criança pelo viés da incapacidade, como pode querer que os alunos ajam de outra forma?", reflete.

A violência começa em tirar do aluno com deficiência o direito de ser um participante do processo de aprendizagem.

É tarefa dos educadores oferecer um ambiente propício para que todos, especialmente para os que têm deficiência, se desenvolvam.

Com respeito e harmonia.

Os nomes dos alunos foram trocados para preservar a identidade.


Fonte: - Revista Nova Escola / Edição 228 /Dezembro de 2009 / Título original: Chega de Omissão



Bullying na escola: quando o foco é a deficiência física


Atualmente a questão do bullying é, de fato, muito discutida.

E, para se falar nisso, primeiramente, temos que saber o que é, mesmo, esse fenômeno que, na verdade, trata-se, até, de uma polêmica.

Então, para essa necessária conceituação, Cézar e Barros Neta (2011, p. 4) trazem concepções e pressupostos de Fante (2005) e Guareschi (2008), afirmando que o bullying pode ser descrito como:

[...] a forma de violência mais cruel, pois tal nível de agressividade torna suas vítimas reféns da ansiedade e de emoções que interferem negativamente nos seus processos de aprendizagem e convívio social, devido à excessiva mobilização de emoções de medo, de angústia e de raiva reprimida. Isso pode ser decisivo no incentivo à evasão escolar e ao ingresso desses alunos no mundo das drogas e do crime, bem como, formar uma geração de pessoas psicologicamente desestruturadas, que poderão vir a cometer violência doméstica e adotar características antissociais.

E torna-se essencial frisar que, quando o assunto é o bullying, [...] a situação se torna ainda mais grave [...] quando o alvo é uma criança ou um jovem com algum tipo de deficiência - que nem sempre tem habilidade física ou emocional para lidar com as agressões. [...] (NOVA ESCOLA, 2009).

Assim, através desse prisma, o bullying é - ou parece ser - ainda mais facilmente oferecido, mais operante, principalmente quando se trata da Deficiência Física, mesmo que, nesse caso, a prática do referido mal se mostra, realmente, de uma maneira bem disfarçada.

Deficiência Física pode ser proveniente de diversas causas, como condições adquiridas, má-formação congênita, lesões neurológicas e neuromusculares etc., sendo que três de seus principais tipos são a Paraplegia (perda total das funções motoras dos membros inferiores), a Tetraplegia (perda total da função motora dos quatro membros) e a Hemiplegia (perda total das funções motoras de um hemisfério do corpo).

No entanto, outros aspectos da aparência e da condição física são, também, muitas vezes, motivos para chacotas, chateações, gracinhas, dentre outros abusos, para os praticantes do bullying, lembrando que “a violência moral e física contra estudantes com necessidades especiais é uma realidade velada [...]” (Nova Escola, 2009), todavia, nada impede que muitas das vítimas sejam atingidas de modo translúcido, a ponto até de sofrerem algum tipo de agressão.

Aliás, a mídia traz muitos exemplos disso.

O que aqui se coloca enfaticamente é que aquilo que está mais visível torna-se um “prato cheio” para os praticantes do bullying; ou seja, determinados aspectos físicos de alguma deficiência tornam-se esse “prato cheio”.

E, quando os referidos aspectos vêm somados a outros que lhes podem ser intrínsecos, como o comprometimento da fala ou da audição, por exemplo, o mesmo “prato”, ainda é remontado, passando a ser um “prato transbordante”.

Desde os tempos de outrora, até os dias atuais, muitos dos olhares para esses indivíduos parecem ser, fielmente, os mesmos.

O descaso, o desprezo, a aversão perduram, neles, presentes.

E foi lembrado, dessa maneira, de um passado remoto porque as deficiências sempre existiram.

Aliás, “anomalias físicas ou mentais, deformações congênitas, amputações traumáticas, doenças graves e de consequências incapacitantes, sejam elas de natureza transitória ou permanente, são tão antigas quanto a própria humanidade” (SILVA, 1987, p. 21), sendo pertinente enfatizar que, bem antigamente, se uma criança parecia “feia, disforme e franzina”, revelando algum tipo de limitação física, era levada e jogada em um abismo, “pois tinham a opinião de que não era bom nem para a criança nem para a república que ela vivesse, visto que, desde o nascimento, não se mostrava bem constituída para ser forte, sã e rija durante toda a vida” (LICURGO DE PLUTARCO apud SILVA, 1987, p. 105).

Diante dessa tamanha crueldade, é incontestável que, em épocas contemporâneas, ornam mudanças...

Aliás, mudanças muito significativas.

Entretanto, o bullying não acabou e, dificilmente, o verbo “acabar”, em relação ao referido problema, poderá ser empregado na íntegra, afinal, deficientes podem até não estar sendo jogados em abismos, contudo, eles continuam sendo vítimas de olhares que não os veem, apenas, como diferentes, mas, sim, como “desiguais”, inclusive dentro da própria Instituição Escolar que, por sua vez, tanto tem a obrigação de contribuir na promoção da Inclusão Social.

Na verdade, a “diversa diversidade” humana - permitam-me utilizar, digamos, um trocadilho - infelizmente, é motivo para que alguém se sinta ofendido a ponto, até, de praticar severos casos de violência, inclusive, contra alguém que, por alguma limitação física, não tem nem como se defender, ficando nítido, então, que, mesmo diante das tantas mudanças e transformações deste mundo globalizado, determinados aspectos da pluralidade humana ainda não são aceitos.

E, vale lembrar que, sobre isso, existem excelentes palavras que podem ser empregadas em todo o contexto da presente discussão.

São vocábulos de Santos (1995), os quais dizem que [...] “temos o direito a ser iguais quando a diferença nos inferioriza; temos o direito a ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”.

O significado dessas palavras de Santos (1995) é mais que uma verdade porque, ainda que alguém nos considere inferiores a si por algum “motivo” que para essa tal pessoa passa a ser uma “razão”, temos, mesmo, o direito a ser incluídos naquela igualdade que esse mesmo sujeito busca para si, assim como temos o direito a ser diferentes quando essa igualdade, equivocadamente, passa a nos descaracterizar, sendo que, como exemplo disso, pode-se falar do portador de Necessidades Educativas Especiais (NEE), quando o mesmo esteja na condição de não ser amparado, considerado, respeitado, protegido e atendido, sobretudo na Escola, dentro das suas características e subjetividade, sendo frisado que, de fato, tudo isso deve ocorrer em um clima de Educação Especial, mas que, realmente, esta seja contemplada numa efetiva incorporação ao Sistema Educacional do ensino comum.

Referências
CESAR, Coll; MARCHESI Álvaro; PALACIOS, Jesús & colaboradores. Desenvolvimento psicológico e educação: transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas especiais. Trad. Fátima Murad - 2. ed. 3v. Porto Alegre: Artmed, 2004.

CÉZAR, N; BARROS NETA, M. da A. P. O impacto do fenômeno bullying na vida e na aprendizagem de crianças e adolescentes.

LEANDRO, Vera Lucia Damacena. Bullying no ambiente escolar. 2011.

REVISTA Nova Escola. Bullying contra alunos com deficiência / Edição 228/Dezembro de 2009. Título original: Chega de Omissão.

SANTOS, Boaventura de Souza. Entrevista com o Prof. Boaventura de Souza Santos.

Otto Marques da. A Epopéia ignorada - a história da pessoa deficiente no mundo de ontem e de hoje. Centro São Camilo de Desenvolvimento em Administração da Saúde, 1987.


Fonte: - www.portaleducacao.com.br












Um comentário:

  1. Infelizmente o bullying é uma realidade nas escolas principalmente com as crianças deficientes as quais enfrentam muitas dificuldades na sua inserção com os coleguinhas da escola; deveriam nas escolas criarem programas que fizessem com que as crianças entendessem o que é deficiência e assim pudessem compreender e aceitar seus coleguinhas deficientes, promovendo a inclusão destes.

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