Acreditar em si mesmo

Acreditar em si mesmo

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Preconceito culposo.



Preconceito culposo


Em direito, o crime culposo é aquele que resulta de ato negligente, imprudente ou inábil do indivíduo, embora não tenha tido a intenção criminosa.

Assim defino o preconceito culposo, em que a pessoa não tem a intenção, mas por negligência (ou ignorância) o comete, e acredito que na maioria das vezes sabe do risco de parecer preconceituoso.

Mas acha que o deficiente não vai levar pra esse lado.

Acho que a grande maioria dos cadeirantes já passou por isso, cito dois casos em que este tipo de preconceito é nítido.

Um é o relato do Evandro no Tocando a Vida Sobre Rodas, o outro foi uma experiência de um namorado de uma cadeirante no Assim Como Você, do Jairo Marques.

Eu também já passei por situações assim, mas da última vez tive que rir.

Fui ao cinema no BH Shopping, entrei na fila de prioridade e minha namorada pediu dois ingressos, pra mim meia entrada por ser deficiente (não há lei pra isso, mas alguns cinemas nos dão este privilégio).

Mal pude acreditar quando a atendente perguntou pra ela se eu tinha alguma "carteirinha" pra provar que eu era deficiente.

Fala sério.

Na hora eu entrei no meio e perguntei "não está vendo que estou numa cadeira de rodas?" e a moça teve a coragem de dizer "você pode só estar usando".

Se não fosse um risinho, em tom de piada que ela deu ao fim da frase, meio que brincando, eu tinha apelado.

Juro.

Mas como pareceu brincar, eu só disse "é bem capaz de eu gastar mil e quinhentos reais em uma cadeira de rodas e pagar esse mico todo pra conseguir sete reais de desconto no cinema."

Ela entregou os ingressos e sorriu sem graça.

Só pude interpretar que a moça é nova no trabalho, deve ter sido treinada exaustivamente para pedir sempre a carteirinha para estudante e identidade para idosos, quando pedirem meia entrada, que soltou essa pérola da "carteirinha de deficiente".

Não foi por mal (espero que não), mas foi extremamente preconceituosa na interpretação da regra. Incrível que pra isso treinem as pessoas, mas para tratar o deficiente com respeito, dando prioridade, sendo no mínimo atenciosa ninguém deve falar nada, pois é a minoria.

Triste, né?

Em outra situação, vivi a mesma história contada no Assim Como Você.

No mês passado, na semana santa, fui a São Paulo e quando passeava com minha namorada na Fnac, resolvemos tomar um café.

O "café bar", muito chique, ficava no andar de cima, e tinha uma escada rolante, mas pra um cadeirante... tive que dar uma volta, mobilizar três funcionários para utilizar o elevador do prédio, em outra entrada, e entrar por outra porta no andar de cima.

Tudo bem, já me acostumei com isso.

Aí tomamos nosso café, fiquei brincando com ela de adivinhar quem era rico, quem era pobre 'infiltrado' no mundo dos ricos, como nós.

Rimos bastante, e de repente a moça que estava sozinha na mesa atrás da gente levantou e disse "dá licença".

Pensei "ih, vai brigar porque falamos que ela era infiltrada, deve ter ouvido" mas a moça me solta um "não resisti, tinha que dizer que vocês formam um casal muito lindo".

Agradecemos e ela foi embora, lembrei na hora do relato no blog do Jairo.

É legal isso, ela não teve má intenção nem nada, mas em São Paulo, uma pessoa desconhecida abordar assim e falar uma coisa dessas, não é normal.

Fica parecendo que quis dizer pra minha namorada "parabéns por aceitar esse cara todo quebrado e ainda tratá-lo bem".

Não foi a primeira vez, e não condeno quem faz isso, adoro ouvir que somos um lindo casal, mas que tem um culposozinho de leve, tem.

E teve pior.

Certa vez, um cara da minha idade perguntou pra minha namorada se as pessoas não acham estranho ela ser muito bonita e estar comigo, sair pra todo lado e andar junto.

Na hora não acreditei muito no que ouvi, fiquei atônito, só falei "não, nunca aconteceu".

Se acontecesse de novo eu falaria "sim, perguntam se ela além de bonita é rica e inteligente, pra ficar com um cara tão bacana não pode ser só bonita”.

Portanto, quando passarem por isso, lembrem-se do "preconceito culposo".

Acontece muuuuito!






Ser mulher de um cadeirante!


Ser mulher de um cadeirante!

( By C. Salgado)

Ser mulher de um cadeirante pode parecer tarefa fácil, mas ser "A" mulher de um cadeirante traz algumas regrinhas.

Primeiro e mais óbvio: ame-o verdadeiramente, com seu coração.

Segundo: ame-o com seu pensamento.

Terceiro: ame-o com seu corpo.

Ser mulher de cadeirante é olhar para o lado e enxerga - lo na altura da sua cintura, o que não quer dizer que ele não possa ser MAIOR que você em muitas coisas.

Ser mulher de cadeirante significa que você sempre estará preocupada com a tal " acessibilidade" e essa palavra passará a fazer parte da sua rotina.

E se prepare, você ficará raivosa quando perceber que a acessibilidade só existe nos projetos de lei e que, na prática, vc e ele vão sempre ter que dar um jeitinho.

Ser mulher de cadeirante é reinventar o sexo e descobrir prazeres e posicoes que vc nem imaginava.

É finalmente encontrar " aquele cara" que gosta e entende de preliminares!

Uau!

Ser mulher de cadeirante é montar e desmontar cadeira muitas vezes ao dia, virar mestre em abrir espaço no porta malas, banco traseiro, etc e fazer isso com entusiasmo e alegria quase infantil.

(P.S: - Descobri que eu tenho ciúmes da cadeira dele.

Juro!

Quando alguém vem ajudar a desmontar, eu tenho vontade de morder...Grrrr.

Vai entender, né?)

Ser mulher de cadeirante é viver no desconhecido, porque por mais que você pergunte, leia, se informe, a verdade é que cada caso é um caso, e cada dia pode se apresentar diferente.

Ser mulher de cadeirante é passar dar um valor inacreditável a banheiros públicos com acessibilidade e também estar sempre preparada para caso esses banheiros não existam.

E pra ser sincera, eles de fato não existem!

Ser mulher de cadeirante é entender que apesar dele passar o dia sentado, ele chega a noite exausto, porque seus esforços físicos demandam sempre mais energia e força.

Ser mulher de cadeirante é perceber a sutil diferença entre quando ele "precisa" que você o ajude e quando ele "não quer" que você o ajude.

Ser mulher de cadeirante é você se tornar uma "expert" em fazer trocas!

Troca de rua, troca de bares, troca de calçada, troca de roupa, troca de fraldas as vezes, troca de rotina.

Ser mulher de cadeirante é você mudar o ritmo.

Desparafusar o relógio.

Mudar o passo ou o compasso.

Fazer no tempo dele.

Ser mulher de cadeirante é você conviver com os olhares curiosos e também com os fetichistas ( siiimmm, tem muito!!)

É ter vontade de saber lutar jiu - jitsu, pra se defender de tudo ou de todos.

É aprender, na marra, a conviver com caras e bocas que você nunca antes tinha reparado.

Ser mulher de cadeirante é penetrar pelo universo das readaptações e reabilitações, e finalmente entender quem é essa tal da célula -tronco.

É desejar que exista um mercado de medulas ósseas novinhas, pra você ir lá e pegar uma na prateleira... e descobrir que T4, C3, L2, não são nomes de vitaminas.

Ser mulher de cadeirante é acordar de manhã querendo fazer tudo outra vez.

É no dia em que você sai de casa sozinha e não tem cadeira pra desmontar....sentir um vazio enorme...um nó na garganta...que eu chamo de saudade, e alguém pode dizer que é amor.

Ser mulher de cadeirante é um exercício de entrega, generosidade, compreensão e parceria.

Mais que isso...

Ser mulher de cadeirante é ser absurdamente feliz e realizada com essa dupla : ele e sua cadeira de rodas (claro...vc aprende a gostar da cadeira tambem, porque eles são quase inseparáveis).

Ser mulher de cadeirante é acreditar que ele precisa de você, para só então compreender que é você quem precisa dele!





Professora Francisca Cesário diz ser tratada com descaso na escola onde atua

Professora com deficiência diz sofrer preconceito em escola de São Paulo


Secretaria da Educação do Estado nega qualquer ocorrência de discriminação.

Amanda Polato, do R7


Francisca Vivian Cesário, 29, fala, anda e escreve com dificuldade.

Ela tem paralisia cerebral, uma deficiência adquirida durante o nascimento.

Apesar de estar apta a assumir turmas de ensino fundamental, diz sofrer preconceito na Escola Estadual João Sussumu Hirata, no bairro Capão Redondo (zona sul de São Paulo).

A professora quer processar a direção da escola por assédio moral.

Ela relata ter sido tratada como incapaz pela coordenadora pedagógica do colégio, e ter recebido a sugestão de se aposentar, durante uma reunião realizada em março de 2009.

Francisca afirma ainda ser tratada com descaso e ter sido encaminhada várias vezes a perícias médicas.

Susete Figueiredo Cavalin, professora da mesma escola, conta que já acompanhou Francisca à ouvidoria da rede e a uma delegacia de ensino para fazer reclamações:

A direção da escola entende os apoios que a Francisca pede como privilégios.

A professora sofre uma grande pressão psicológica.

Francisca se surpreendeu com a forma como foi tratada na escola:

Eu esperava sofrer algum preconceito por parte dos pais dos alunos, não dos profissionais da educação.

Pais ouvidos pelo R7 se dizem satisfeitos com o trabalho da professora.

Juliana Lopes é mãe de um aluno e comentou sobre os estudos do filho:

Confira também

Ele aprendeu a ler e a escrever muito bem, não reclamava de ter dificuldades nas aulas.

Sempre que não entendia algo que a professora falava, ela repetia.

O advogado da professora, Luiz Roberto Costa Russo, afirma que está reunindo provas e testemunhas para abrir uma ação civil contra a diretora por assédio moral e preconceito.

Ele também encaminhou documentos sobre esse caso para o Ministério Público do Estado de São Paulo e aguarda resposta sobre abertura de ação penal.

Para a ouvidoria, não há qualquer problema de discriminação.

Procurada pessoalmente pela reportagem do R7, a equipe da escola disse que precisaria de autorização da rede para falar sobre o caso.

O colégio se pronunciou por meio da assessoria de imprensa da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, e negou qualquer situação de preconceito.

O órgão público não irá falar da abertura dos processos.

Condições de trabalho

Francisca é formada em pedagogia e foi contratada como temporária pela rede estadual em 2008.

Ela começou a dar aulas para a a primeira série do ensino fundamental, a única que, por ser uma classe de alfabetização, conta com um professor auxiliar.

No ano seguinte, foi deslocada para a segunda série.

A professora diz que a direção da escola prometeu uma assistente para sua turma, o que nunca aconteceu.

A assessoria de imprensa da secretaria informa que não existe nenhuma lei que garanta a presença de professores auxiliares.

E, como Francisca foi considerada apta a lecionar, não precisaria de assistente.

A secretaria diz ainda que um kit multimídia foi enviado à escola para ajudar as aulas da professora.

No entanto, Francisca conta que recebia o aparelho na classe com atrasos.

A situação só mudou quando ela procurou a ouvidoria da secretaria de Educação.

O que eu quero são condições de trabalho adequadas, com suporte pedagógico e acessibilidade.

Inclusão

Maria Teresa Mantoan, professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e especialista em inclusão, diz que os profissionais com deficiência precisam sempre deixar muito claro quais são os apoios estritamente necessários para seu trabalho.

É preciso verificar, lembra a especialista, o que o órgão ou empresa onde as pessoas com deficiência atuam preveem de adaptação ou auxílio em cada caso.

A inclusão não pode ser feita com uma bengala.

O profissional precisa ter autonomia para atuar.

Mas a sociedade nunca pode oferecer barreiras para que as pessoas exerçam seu trabalho com dignidade.


Fonte: - r7.com













Um comentário:

  1. Infelizmente a nossa sociedade não está apta para aceitar a inclusão dos deficientes, havendo uma certa resistência em relação as diferenças, porque estas fogem dos padrões e conceitos antigos que estabelecem um certo tipo padronizado do que vem a ser um ser humano"normal" e quando foge desse padrão não é aceito por muitos; mas mesmo assim eles querendo ou não, tem que aceitar as diferenças porque elas estão aí cobrando o seu espaço.

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