Algumas
dicas de como
ajudar
um cadeirante
Aproveitando-se
de sua experiência como cadeirante tetraplégica há mais de 20
anos, Adriana Lage dá dicas para ajudar um cadeirante em algumas
situações.
Adriana
Lage.
Como
carregar um cadeirante?
Ri
demais de um texto, que li no Blog
do Cadeirante, onde ele explicava sobre as principais diferenças
entre o cadeirante fêmea e o cadeirante macho.
Mesmo
estando sob a mesma condição de cadeirante, homens e mulheres
possuem suas particularidades.
Nunca
devemos nos esquecer disso!
Por
exemplo, o que fazer quando é preciso carregar um cadeirante?
Existem
algumas formas de se fazer isso.
Aí
entra a vantagem de ser mulher e pesar menos de 50 kg.
Sempre
encontro algum homem disposto a me carregar.
Nesse
tipo de carregamento, apenas uma pessoa entra em contato físico com
a gente.
Felizmente,
são raros os casos em que o ajudante engraçadinho resolve tirar uma
casquinha!
Mas
quando se trata de um cadeirante, nem sempre é viável esse
carregamento.
Certa
vez, estava indo a um barzinho com minha irmã caçula e prima.
Quando
ia sair do carro, apareceu um homem lindo e ofereceu ajuda pra me
tirar do carro.
Minha
prima, na mesma hora, dispensou o garoto.
Eu
reclamei e disse que era maldade dispensar um gatinho!
Ela
me respondeu dizendo que havia dispensado o menino porque eu estava
de vestido.
Nem
tinha me lembrado disso!
Mas,
depois disso, criei uma senha.
Sempre
que falo a palavra mágica, a ajuda acontece.
Assim,
nunca mais tivemos problemas de comunicação.
Por
falar em vestido, quando forem ajudar uma cadeirante, sempre se
lembrem desse detalhe!
É
preciso carregá-la com modos de forma a evitar que faça um strip
público e gratuito.
Nem
sempre saímos de casa com a melhor das lingeries!
Cansei
de fazer exposição da minha figura por causa da incompatibilidade
entre usar vestidos e ser carregada.
Atualmente,
procuro me prevenir usando um shortinho, meia calça ou uma calcinha
bem fashion.
Carregar
uma cadeirante de vestido não é nenhum bicho de sete cabeças.
Basta
se lembrar de prender o vestido junto com as pernas.
Uma
coisa que já reparei é que alguns homens ficam sem graça de ajudar
quando a mulher está com as pernas à mostra.
Muitos
já me falaram que não iriam me oferecer ajuda, pois ficariam
chateados se sua filha, mãe, irmã ou mulher fosse carregada por um
desconhecido, sabendo que este encostaria nas suas pernas.
Pelo sim, pelo não, já
que preciso sempre de ajuda para realizar minhas transferências,
tenho evitado usar vestidos para ir trabalhar.
Assim
não deixo os bombeiros que me carregam sem graça e nem corro o
risco de fazer um strip no banco.
A
segunda forma que mais me agrada nos carregamentos é aquela em que
uma pessoa segura meu tronco e outra carrega minhas pernas.
Essa
é a forma mais indicada para se carregar uma pessoa.
No
Sarah, eles sempre recomendam isso, pois, nesse caso, a coluna dos
ajudantes ficará menos comprometida.
Um
inconveniente que vejo nessa opção é que algumas pessoas se
esquecem que nós, mulheres, temos o peito sensível.
Já
cansei de ter meus seios amassados.
Quando
se está de TPM então… dá pra ver estrelas.
Na
primeira vez em que fui ao salão de beleza que frequento hoje, quase
chorei de tanto rir do meu cabeleireiro.
Quando
foi me carregar dessa forma, eu comecei a escorregar e ele teve que
me laçar pelo peito pra que não caíssemos.
Ele
morreu de vergonha.
Falou
que eu nunca mais voltaria ao salão após ter sido assediada por
ele.
É
claro que, em alguns casos, esse tipo de amasso acontece e é
inevitável.
Mas,
quando forem ajudar alguma cadeirante, lembrem-se desse detalhe!
Outra
forma de se carregar um cadeirante, também com a ajuda de duas
pessoas, é a seguinte: cada pessoa carrega um lado do corpo.
O
ajudante da esquerda carrega a perna esquerda do cadeirante e, a
outra pessoa, a perna direita.
Nesse
caso, é preciso sincronismo entre os ajudantes.
Caso
contrário, problemas à vista.
Já
passei por situações engraçadas e vexatórias com esse tipo de
carregamento.
Num
dia, por exemplo, ao descer de uma van, estava com as pernas tão
abertas que parecia estar em trabalho de parto ou fazendo exame
ginecológico.
Não
sou muito a favor de receitas.
Pra
mim, a melhor opção é sempre perguntar.
Em
caso de dúvida ou medo, nada melhor do que perguntar ao cadeirante
qual a melhor maneira de ajudá-lo.
Assim,
evitamos ajudas atrapalhadas e situações que possam deixar alguém
envergonhado.
Vale
lembrar que os cadeirantes se dividem em paraplégicos e
tetraplégicos.
Normalmente,
os paraplégicos possuem muita força nos braços e conseguem
realizar suas transferências de forma independente ou com pouca
ajuda.
As
dicas de hoje valem mais para um tetraplégico.
Como
conversar com um cadeirante?
É
preciso lembrar que o campo de visão do cadeirante é mais baixo.
Quando
for conversar por longos períodos, o ideal é se sentar ou agachar
para que o cadeirante não tenha torcicolo de tanto olhar para cima.
Lá
no banco, meus colegas de trabalho já sabem disso.
Mesmo
quando a conversa é rápida, eles procuram ficar num lugar onde eu
não precise erguer muito meu pescoço.
Alguns
poucos lugares possuem cadeiras elétricas ou guinchos para colocação
do cadeirante na piscina.
Na
maioria dos lugares, o cadeirante só chega na piscina carregado.
Nunca
é demais lembrar que, caso a cadeirante esteja de biquini, é bom
redobrar o cuidado no carregamento de forma a evitar top less.
Meu
ex técnico Tiago me ensinou a pular da borda da piscina.
Isso
facilita bastante a entrada na água.
Só
que eu acho desconfortável, sem falar no tapão que a água dá no
meu bumbum quando cai dentro da piscina feito uma jaca podre!
O
Gustavo, meu atual técnico, já faz diferente.
Ele
me senta na beira da piscina, entra dentro d’água e só depois me
carrega pelo tronco.
Assim
não corro o risco de me lesionar e evito problemas na lombar.
Durante
as competições de natação, o técnico não pode entrar na
piscina.
Com
isso, ele me carrega pelos braços para entrar na piscina.
Fico
flutuando de costas e ele segurando meu pé na parede até que seja
dado o sinal da largada.
Na
hora de sair da piscina, ele me iça pelos braços.
É
preciso muita força!
Atletas mais pesados costumam ser resgatados
com a ajuda de espaguetes e de salva vidas.
Como
subir / descer escadas?
Escadas
ou um simples degrau são verdadeiros transtornos na vida de um
cadeirante.
No
mundo ideal, que espero existir um dia, as escadas nunca seriam
utilizadas pelos cadeirantes.
Apenas
rampas, elevadores e plataformas.
Como
isso ainda não é viável, tenho três opções quando preciso
subir/descer escadas:
Até
hoje, só tive coragem de fazer isso com o Tiago e com o Gustavo, já
que a academia onde faço natação não é adaptada.
Os
dois aprenderam a subir/descer a escada sem precisar de ajuda.
Eles
sempre brincam que é a hora da musculação.
Para
tanto, eles empinam a cadeira e utilizam apenas as rodas grandes.
Sempre
fazem isso com muito cuidado. Felizmente, até hoje, nunca tivemos um
acidente.
Quando
estudava na PUC, tentei fazer isso com meu pai.
Por
sorte, testamos na primeira parte da escada, que era pequena.
A
cadeira acelerou e fomos parar na parede!
2
– Duas ou mais pessoas ajudando.
Quando
a escada é larga, costumo ser carregada por duas ou mais pessoas.
Assim
o peso fica bem dividido.
O
problema é contar com a sorte e sincronismo dos ajudantes.
Qualquer
passo em falso é um desastre.
Meu
joelho se lembra até hoje do meu tombo na escadaria da PUC com três
colegas!
Quando
são apenas duas pessoas, pode-se fazer de duas formas: na primeira,
cada pessoa carrega um braço da cadeira (digo o lugar onde a pessoa
empurra a cadeira de rodas) e um pé da cadeira (lembrete: sempre
pergunte ao cadeirante em qual local poderá segurar na cadeira sem
que ela se solte).
Ou
seja, uma pessoa cuida do lado direito e a outra do lado esquerdo da
cadeira de rodas.
Particularmente,
não gosto muito dessa opção.
Na
segunda opção, uma pessoa carrega a parte de cima da cadeira e a
outra o local de colocar os pés.
Eu
me sinto mais segura nessa opção, mas sempre complica pra quem
carrega os pés.
Às
vezes o pé da cadeira tromba nos pés da pessoa e aí salve-se quem
puder.
Quando
fui fazer minha pós graduação, tive que subir escadas dessa forma.
O
ajudante que levava os pés caiu de bunda no chão, quando faltavam
apenas dois degraus.
Por
sorte, o outro ajudante segurou a cadeira e evitou nosso tombo.
Outra opção alternativa
seria descer com a cadeira empinada, com as rodas tocando cada
degrau, e ter a ajuda de outra pessoa só pra dar um apoio
psicológico e ajudar em caso de emergência.
Como
diz minha irmã caçula, a segunda pessoa só faz figuração.
Só
finge que ajuda!
Segura
o pé da cadeira só pra dar um apoio psicológico.
Quando
a escada é estreita, tenho preferido subir/descer carregada no colo
e deixar que outra pessoa leve a cadeira de rodas vazia.
Fica
bem mais seguro!
3
– Três pessoas.
Na
minha época de faculdade, sempre usava essa opção.
O
ajudante mais forte e alto levava a parte de trás da cadeira.
Outro
ajudante segurava no lado direito da cadeira (geralmente, na barra
próxima ao assento) e o último segurava o lado esquerdo.
Nesse
caso, é preciso contar com a sorte e rezar muito para que os
ajudantes tenham sincronismo e cuidado.
Vocês
não imaginam o barulho que faz uma cadeirante com três homens
caindo escada abaixo!
Paramos
o prédio 34 nesse momento… o ideal nessa opção é que sempre
deixem a pessoa mais forte carregar a parte de trás da cadeira.
Os
carregadores laterais devem ter alturas semelhantes.
Por
conta dos inúmeros sustos que passei sendo carregada em escadas,
tive que recorrer à utilização de cintos de segurança!
As
pessoas morrem de rir de mim, mas sempre ando com eles.
Melhor
pagar o mico de andar amarrada do que correr o risco de cair e me
machucar.
Muitas
pessoas leigas acham que a rampa é a salvação do cadeirante.
Melhor
uma rampa íngreme e esburacada do que uma escada.
Na
verdade, as coisas não são bem assim!
A
rampa só é segura e confortável quando respeita a inclinação
prevista nas normas da ABNT. Já passei sustos em rampas tão
íngremes a ponto de empinar a cadeira de rodas motorizada.
Nem
preciso dizer que, nesses casos, a rua toda ouviu meus gritos de
susto!
Lembrem-se
sempre que, ao descer uma rampa, além de ter a certeza que seu
sapato não escorregará e de se sentir apto pra isso, desça sempre
de ré.
Para
subir uma rampa, suba com a cadeira de frente pra rampa.
É
sempre bom contar com pisos antiderrapantes.
Em
caso de receio, nunca tenha medo de falar que não se sente apto para
ajudar a pessoa.
Melhor
ser sincero do que dar uma de super herói atrapalhado.
O
cadeirante, a menos que seja um ser de pouca luz, entenderá na hora
e te agradecerá.
Como
subir / descer um degrau?
Para
descer um degrau com segurança, a cadeira de rodas deve ser puxada
de ré.
Já
na subida, pise no ‘tubo’ inferior da cadeira para empiná-la e
suba de frente.
Tentar
subir um degrau de ré costuma dar bons arrancos no pescoço do
cadeirante.
Nunca
puxe a cadeira de rodas sem avisar o cadeirante.
Tinha
uma ‘amiga’ na Cemig, na minha época de estágio quando estava
no CEFET, que adorava puxar minha cadeira de rodas quando eu estava
distraída e de costas pra ela.
Um
dia cheguei a cair tombada na mesa.
Ao
longo dos anos, melhorei bastante meu equilíbrio.
Mas
ele ainda é bem fraquinho.
Semana
passada, quase matei meu amigo de susto.
Estávamos trabalhando,
eu concentrada com meus programas, quando ele puxou minha cadeira de
rodas para me dar uma carona até a sala de reuniões.
Eu
dei um pulo e meus braços caíram sobre a mesa fazendo um barulhão.
O
menino ficou vermelho de vergonha.
Mas
eu é que estava mole demais e bem distraída.
Agora,
lá no banco, sempre que vão me dar uma carona e estou de costas pra
pessoa, eles me avisam!
Nunca
tenha medo de utilizar palavras como correr, andar e pular.
Tem
gente que morre de vergonha e falta de graça quando, conversando
comigo, utiliza expressões como: vamos dar uma corridinha ali, vamos
andar até no shopping
ou vamos dar um pulinho na casa de fulano?
Não
se preocupem!
Cadeirante
é gente como qualquer pessoa e utiliza as mesmas palavras.
Da
mesma forma que um cego utiliza o verbo ver, nós, cadeirantes,
utilizamos os verbos andar, pular, correr, dançar, etc.
Ao
convidar um cadeirante para algum evento, procure verificar a
acessibilidade do local.
A boa educação manda
verificar a acessibilidade do local quando for convidar pessoas com
deficiência.
Evite
locais com acesso complicado.
Caso
isso seja inevitável, avise ao convidado com deficiência sobre as
condições do local previamente.
Assim,
ele poderá decidir se irá ou não, já sabendo o que encontrará no
local.
Desse
jeito, evitaremos qualquer saia justa.
Outros
inimigos dos cadeirantes são os carpetes e tapetes.
Sempre
que viajo, peço para retirarem os tapetes dos quartos onde me
hospedo.
Dos
carpetes, nem sempre posso fugir.
Mas
procuro evitá-los.
Pergunte
sempre ao cadeirante qual a melhor forma de ajudá-lo e como fazê-lo.
A
conversa é sempre o melhor caminho.
O
ideal é sempre oferecer ajuda ao cadeirante perguntando qual a
melhor maneira de fazer isso.
Nem
todas as pessoas precisam ou gostam de ajuda.
Não
fique chateado caso a ajuda seja recusada!
Para
finalizar, uma dica da minha mãe e da minha irmã:
Nunca
dê ouvidos aos dramas, exageros e reclamações.
Enfim,
espero que essas dicas sejam úteis para marinheiros de primeira
viagem.
Elas
servem para dar uma ideia de como agir.
Mas
vale lembrar que a conversa e a naturalidade são sempre a melhor
opção!
Fonte:
Rede Saci
A maioria das pessoas por falta de conhecimentos ao se ver a frente com um cadeirante ou deficiente não sabe como agir ou como lidar com este em caso de transporte, conversar e etc; é preciso entender que o cadeirante é uma pessoa normal como qualquer outra apenas tem dificuldades de locomoção e além disso se lhe perguntar este lhe explica o melhor jeito de ajudá-lo, não é tão difícil assim; se houvesse mais interação e inclusão que facilitassem o convívio das pessoas com eles não haveria essa dificuldade e nem estranhamento para se lidar com os deficientes; a prova disso é que nem nos hospitais, clínicas, laboratórios, institutos de imagem e outros não tem funcionários habilitados para lidar com o deficiente e muitos locais não há infraestrutura para facilitar o acesso; é preciso cursos para ensinar como agir e lidar com o deficientes e espaços adequados que facilitem o acesso.
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