Acreditar em si mesmo

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sexta-feira, 24 de novembro de 2017

A exclusão do deficiente: as consequências para a sociedade como um todo, e consequentemente, para os indivíduos



A exclusão do deficiente:
as consequências para a sociedade como um todo, e consequentemente, para os indivíduos

Mariana Fuzaro

Vivemos tempos de individualismo extremo: o que importa é minha liberdade de fazer o que quiser, quando quiser, como quiser, e de dispor como quiser dos frutos do meu trabalho e de usufruir como quiser de minha propriedade.

Se o outro tiver que ser excluído, esmagado, deixado à míngua, não é problema meu.

O empregador deve ter o direito de contratar quem quiser, sem intervenção de leis, do Estado e de assistencialismos e paternalismos, usando seu juízo e seus preconceitos para excluir aqueles que considere menos capazes.

E nisso, grupos historicamente marginalizados pela sociedade, com uma carga de preconceitos e exclusão social — os homossexuais, os transgêneros, os negros, os índios, e, principalmente, os deficientes, que, nesse cenário, dependem da boa vontade de quem contrata, acabam excluídos do mercado de trabalho.

Muito se fala na “meritocracia” e na necessidade de “superar” as limitações e preconceitos, para “merecer” a vaga, sem depender de cotas. Isso ignora que deficientes são considerados, por definição, incapazes.

Não importa o quanto o deficiente se esforce para se qualificar: ele continuará sendo visto como incapaz, e não terá sequer a oportunidade de provar seu mérito — a menos, é claro, que lhe seja propiciada a oportunidade, suprida pelas cotas.

Historicamente, o deficiente, na maioria das sociedades, e isso inclui nossa cultura judaico cristã católica, foi considerado como um incapaz, um “coitado”, totalmente dependente da caridade alheia.

O deficiente sempre foi um “receptáculo” da caridade, existindo para que pudéssemos, por meio dela, expiar nossos pecados, e para que eles mesmos sofressem, por meio de sua dependência e indigência, sem jamais se desesperar, agradando assim a Deus.

Qualquer tentativa de mudar sua condição e lhes proporcionar os meios de ganhar a própria vida seria uma rebelião contra os desígnios de Deus, e, portanto, pecado.

Até hoje essa ideia está plenamente em voga: os deficientes são “anjos”, que existem para que possamos exercitar nossa tolerância e caridade.

A maior parte dos deficientes está longe de ser incapaz.

Um cadeirante, por exemplo, é incapaz de ficar de pé e andar com as próprias pernas, mas é plenamente capaz de usar as mãos e a mente.

Um deficiente auditivo é incapaz de ouvir, mas pode se comunicar com a linguagem de sinais, receber ordens, e executar sua função.

Um deficiente visual é incapaz de enxergar, mas pode usar a noção espacial, a audição e o tato para executar suas funções.

Possuem limitações ligadas ao sentido ou função que lhes falta — e só.

Mas, no imaginário popular, são inválidos, incapazes, condenados a depender de favores e caridade alheia, sofrer para expiar seu carma de vidas passadas ou pagar pelos pecados de terceiros, e depois, morrer.

Se não são capazes sequer de viverem, quanto mais trabalharem, produzirem alguma coisa.

No máximo, irão emperrar o andamento da produção e causar prejuízo.

Contratá-los seria uma caridade forçada, imposta por um governo comunista bolivariano que está pouco se lixando para a economia do país e com as empresas, que seriam levadas à falência.

Que se intromete em assuntos particulares, decidindo quem o proprietário deve contratar ou não.

Estes deficientes, excluídos do mercado de trabalho, no entanto, não deixam de existir.

Continuam precisando comer, beber, se vestir.

E, privados dos meios de ganharem a vida, acabam sendo sustentados por terceiros: seja por meio de impostos, pagos pela população, seja por suas famílias, seja, na ausência dos dois, por meio de esmolas, engrossando o número de pedintes e indigentes, que causam tanto incômodo e asco na população.

Terceiros que deixam de investir o dinheiro para si, compelidos a ajudar esses deficientes.

Afinal, não queremos as ruas cheias de cadáveres fétidos de indigentes que morreram de fome, e como somos cristãos e pró vida, não queremos simplesmente exterminar esses deficientes em câmaras de gás.

Privados dos meios de produzirem qualquer coisa, deixam de contribuir para o bem-estar social, produzindo bens e serviços úteis que beneficiariam a todos. Inclusive o individualista que só pensa no próprio umbigo.

Privados de renda, deixam de fazer circular a economia, concentrando ainda mais a renda e deixando de gerar mais empregos.

Quando se tenta corrigir essa situação, forçando os empregadores a contratá-los por meio de cotas, independentemente de seus preconceitos, se está “emperrando o andamento das coisas, dando prejuízo à sociedade, afinal de contas essas pessoas não fazem as coisas andarem, estão ‘roubando’ a vaga de quem realmente produz”.

Note que segundo essa visão, não é possível que ambas as pessoas sejam contratadas (afinal o deficiente, agora com renda, será também um gerador de empregos, pois passará a consumir).

Não é possível que ambos saiam ganhando.

Eu tenho que passar por cima de todos para sair na frente.

Ainda que um deficiente, por ter mais limitações, produza menos do que uma pessoa dita “normal”, seria preferível colocá-lo para trabalhar, produzindo o que pode, e recebendo conforme o que produz, tendo o restante suprido pelo Estado.

A Alemanha utiliza esse sistema: os deficientes trabalham em vagas destinadas a eles, e ganham por produção.

O restante é preenchido por um benefício do Estado, até atingir a renda mínima.

Melhor do que apenas receber sem nada produzir.

O patrão, em seu “individualismo”, não sai perdendo.

A sociedade ganha como um todo.

Para quem acha que incluir deficientes prejudicaria “pais de família” para sustentar essas “eternas crianças” que poderiam muito bem continuar sendo sustentadas pelos pais: deficientes também ajudam suas famílias e se tornam pais e mães de família, dadas as condições.

Muitos, mesmo excluídos, ajudam como podem, vendendo balas debaixo do sol quente, recebendo abaixo do salário mínimo e sem perspectiva de futuro.

E pais não duram para sempre, e nem todos os deficientes têm irmãos, ou mesmo quem queira cuidar deles.

Estes terão que ser sustentados pela sociedade, seja com impostos, seja com esmolas, seja com cadáveres, se não forem incluídos.

A inclusão do deficiente não é uma “caridade forçada”.

Não só o deficiente ganha.

Não se trata da “minoria às custas da maioria”

A sociedade ganha, a economia ganha, os demais indivíduos ganham.

Todos saem ganhando.


Fonte – medium.com


Pesquisa mostra que pessoas nessa condição são menos egoístas



Irmão deficiente se mostra mais tolerante

Pesquisa mostra que pessoas nessa condição são menos egoístas

O nascimento de uma criança deficiente é um acontecimento que modifica a estrutura de toda a família, que implica na reconfiguração para atender às necessidades e cuidados exigidos quando da convivência com uma doença.

O artigo “O impacto da deficiência nos irmãos: história de vida”, publicado na Revista Ciência & Saúde Coletiva ano passado, realizou um debate com cinco adultos que têm irmãos com deficiência, a fim de analisar como este acontecimento influenciou o andamento de suas vidas.

A pesquisa, escrita por Alcione Aparecida Messa e Geraldo Antônio Fiamenghi Jr., da Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), tentou se afastar da tendência de estudos sobre deficiência, que, segundo os pesquisadores, costumam estar “mais voltados a questões de vulnerabilidade dessa relação, ou seja, voltados para as repercussões mais dolorosas”.

Na visão dos autores, a experiência de crescimento ao lado de um irmão deficiente é única para cada indivíduo, e seus impactos dependem de múltiplas variáveis, como os recursos ao alcance da família e a própria personalidade de cada um.

Assim, tal realidade “compreende vivências negativas e positivas”, devendo ser considerada “segundo uma rede de influências e peculiaridades intrínsecas das relações familiares”.

Na conversa realizada com irmãos de pessoas com deficiência, ocorrida numa associação que “busca incluir jovens e adultos com deficiência mental na sociedade, envolvendo famílias e profissionais”, as discussões foram estimuladas a partir da pergunta: “como é a vivência com um irmão com deficiência?”.

A partir das respostas, os autores puderam descriminar como, de fato, sentimentos positivos e negativos se intercalavam e eram modificados à medida que os irmãos cresciam.

Segundo o artigo, pessoas com irmãos deficientes desenvolvem mais rapidamente o senso de responsabilidade, uma vez que se sentem “responsabilizados pelos cuidados desses irmãos e devessem educá-los, ensinar valores e protegê-los”.

Essa relação, que se aproxima mais de uma “paternalidade” do que propriamente “fraternidade”, se reflete em características positivas: irmãos de deficientes “desenvolvem o sentimento de tolerância e preocupações humanitárias, podendo desenvolver atitudes altruístas, preocupando-se mais com o bem-estar de outras pessoas”, afirmam os pesquisadores.

Ao mesmo tempo, esses benefícios convivem com sentimentos negativos como a vergonha em algum momento da deficiência do irmão, culpa pelo desenvolvimento da doença, ciúmes da maior atenção dada à criança doente pelos pais e confusão perante a doença do irmão.

Esta última característica pode ser exacerbada pela ação dos pais, que, muitas vezes, “privam os irmãos de informações, pois presumem que seus filhos não serão capazes de compreender o que se passa e as peculiaridades da deficiência”.

Os pesquisadores ressaltam ainda que irmãos com famílias maiores relatam ter maior facilidade para lidar com a deficiência, uma vez que obrigações e responsabilidades são divididas e há uma maior rede de apoio.

Além disso, experiências como a discussão promovida pela pesquisa foram avaliadas como valorosas, pois, segundo os autores, “propicia o aumento de informações, maior entendimento da condição de deficiência, conhecer e dividir experiências com outros irmãos que vivenciam a mesma condição e sentir que possuem atenção focada a eles”.






Missionários do amor.


Quando se fala em missionário, a primeira imagem que nos acode à mente é a de um religioso devotado ao bem, alguém que dedique seus dias e noites, de forma integral, para o bem dos seus irmãos, para a Humanidade.

No entanto, missionários existem de diversos portes.

E alguns muito próximos a nós.

Por vezes, pais amorosos, que recebem nos braços filhos deficientes e os sustentam por toda uma vida, com seus cuidados e extremada ternura.

De outras, amigos excepcionais, que estendem mãos de veludo para aplacar as dores dos espinhos nas carnes alheias.

Filhos dedicados que nascem para iluminar nossas vidas, à semelhança de astros luminíferos em nosso céu borrascoso.

Recordamos de uma família que conhecemos.

O segundo filho do casal nasceu portador de séria enfermidade que, a pouco e pouco, lhe foi retirando a mobilidade.

Primeiro foi o andar impreciso, depois somente com amparo forte, até à imobilidade dos membros inferiores.

Da dificuldade de coordenação motora à dependência total para as mínimas necessidades: beber um copo d'agua, levar o alimento à boca.

Enquanto o drama era vivido e sofrido pelos pais, a esposa engravidou pela terceira vez.

O diagnóstico nada animador prescrevia um abortamento, dadas as complicações cardíacas da gestante, além da possibilidade do bebê ser portador de microcefalia.

Estribado na fé, o casal aguardou o tempo.

O bebê nasceu perfeito.

Garoto feliz, demonstrou, desde os primeiros momentos, o quanto era grato por estar vivo.

Mais de uma vez, deixava dos folguedos para correr ao pescoço da mãe, abraçá-la e dizer:

Eu amo a minha vida, amo a minha casa, amo todos vocês.

A nota mais interessante começou a ser observada quando o pequeno não tinha mais que ano e meio.

Colocava-se em pé em sua cadeirinha e, com cuidado, ajudava colocar a alimentação na boca do irmão.

Na sua linguagem infantil, pronunciava:

Eu judo o mano.

E na medida em que cresceu, a ajuda se tornou mais constante e efetiva.

Hoje, quase aos sete anos, o pequeno é o guardião do seu irmão.

Dormem no mesmo quarto, por insistência dele.

Não são raras as madrugadas em que ele se levanta do leito, atravessa o corredor, se dirige ao quarto dos pais para pedir ajuda para o mano, que precisa alguma atenção maior.

Nenhuma queixa, nenhuma reclamação.

Deixa de brincar com os amigos para se dedicar ao irmão.

Busca água, conduz a cadeira de rodas, joga vídeo game, assiste filmes, comenta futebol.

Dia desses, na sua inocência infantil, olhou para a mãe e lhe disse:

Mãe, sabe por que eu nasci?

E, ante a surpresa da genitora, aduziu:

Eu nasci para cuidar do mano.



Missionários existem, sim, em nossos lares.

Anônimos, ocultos, realizam sua tarefa.

Missionário é todo aquele que se entrega em totalidade à tarefa de amor, na obscuridade da estrada ou nos palcos da ciência, da filosofia ou da religião.

Missionário é todo aquele que traz a consciência do seu dever de servir além e acima de qualquer circunstância.

Movido pelo amor, é qual chama ardente que não se extingue.

Sol de primeira grandeza que ilumina outras vidas, em barracos infectos ou em mansões suntuosas.

Sua missão é amar e servir.

Como a violeta escondida na ramagem do jardim, exala seu perfume e se esconde na capa humilde de servidor.



Quem ama, coroa as horas de luz.

Quem serve, adorna o coração de ventura imorredoura.

Saiamos na direção do sol para servir.


Fonte - Momento Espírita, com pensamento final do verbete Servir, do livro Repositório de sabedoria, v. 2, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia
de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Em 23.11.2017.











2 comentários:

  1. Ainda vemos por parte de nossa sociedade a exclusão dos deficientes e muito preconceito devido ao fato destes não se enquadrarem nos padrões que esta estabeleceu do "perfeito" e do "normal", e tudo que foge a esses padrões é rejeitado por essas; mas se esquecem que as diferenças estão aí presente no dia a dia lutando por seu espaço, a sociedade aceitando ou não estão convivendo com as diferenças.

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  2. Concordo plenamente contigo em seu comentário; infelizmente há uma enorme resistência de nossa sociedade na inclusão social dos deficientes em todos os seus setores; muitas empresas mascaram apenas para se cumprir as leis; escolas são poucas que oferecem algo ao deficientes; isso acontece em todos os setores da sociedade. Aquela inserção absoluta, concreta e real da inclusão do deficientes em nossa sociedade como um todo deixa muito a desejar; ainda há um longo caminho a se percorrer para se chegar a inclusão social.

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