Mais
tolerância e planos de carreira para pessoas com deficiência
A
busca pelo cumprimento da lei que cria cotas de 2% a 5% para
profissionais com deficiência em empresas com mais de 100
funcionários é apenas um lado da realidade da inclusão desses
profissionais no mercado de trabalho.
Enquanto
companhias alegam não encontrar colaboradores qualificados para
preencher as vagas, especialistas dizem que o que falta é mais
aceitação a todos os tipos de deficiência e oportunidades de
crescimento para eles dentro das companhias.
Para
o sócio-diretor da iSocial, empresa de recrutamento voltada para
profissionais com deficiência (PCDs), Jaques Haber, a falta de
qualificação entre PCDs não difere tanto da enfrentada pela
população brasileira como um todo.
Com
o objetivo apenas de preencher as cotas, ele diz que as companhias
costumam oferecer oportunidades somente em cargos mais baixos, e
procurar PCDs com deficiências consideradas leves.
"A
empresa busca muito mais a deficiência do que o perfil
profissional", diz.
Dessa
forma, colaboradores cadeirantes, cegos ou com surdez total costumam
ser prejudicados.
Isso
faz com que as organizações disputem sempre os mesmos trabalhadores
- que, por sua vez, acabam pulando de um trabalho para outro em busca
de um salário um pouco maior.
De
acordo com um levantamento do site de empregos vagas.com.br, que
reúne 1.700 empresas, 80% das oportunidades em cargos operacionais
ou para auxiliares e técnicos são para PCDs.
No
banco geral, esses tipos de posições representam 29% do total.
Um
levantamento da iSocial com 674 pessoas mostrou que, entre 2011 e
2012, o número de profissionais com deficiência em cargos
gerenciais caiu de 9% para 2%, enquanto o de PCDs em cargos técnicos
aumentou de 9% para 21%.
A
preferência por vagas desse perfil também gera a falta de
perspectiva de plano de carreira para quem já está no mercado.
Segundo
a pesquisa da iSocial, 74% dos PCDs empregados não haviam recebido
promoção no último trabalho ou no atual - sendo que, pelo mesmo
levantamento, quase 50% dos entrevistados estavam na companhia há
mais de dois anos.
"Essa
pessoa tem perspectivas de crescer?
Ou
só está lá para cumprir cotas?", questiona Haber.
Viviane
Araújo, gerente da Page PCD, unidade do Page Group que começou a
fazer recrutamento para profissionais com esse perfil em 2010, acha
que os próprios trabalhadores estão mais hesitantes em entrar em
empresas que não tenham um plano de desenvolvimento definido.
"As
companhias faziam treinamento e depois não sabiam mais o que fazer
com o funcionário", explica.
Viviane
começa a ver mais vagas para PCDs nas áreas de finanças, recursos
humanos e tecnologia da informação.
Mesmo
assim, ainda identifica muita resistência do lado das companhias.
"Tem
empresa que não acredita que a pessoa pode se desenvolver de forma
igualitária, e muitas não sabem que existem profissionais
qualificados", diz.
Para
isso, a Page PCD começou a fazer um trabalho de recrutamento
proativo, mandando semanalmente currículos para as organizações
mesmo que elas não tenham vagas para PCD com aquele perfil
específico.
A
consultoria tem hoje 15 mil trabalhadores mapeados, dos quais 60% têm
curso superior completo ou em andamento, e passou a procurar apenas
cargos com salários acima de R$ 1.500,00.
O
engenheiro eletrônico Thomaz S. L. Portella é hoje analista de
suporte sênior na Orbital, empresa do grupo Stefanini, onde não foi
contratado pela lei de cotas.
Ele
deixou o trabalho anterior depois de uma reestruturação na
companhia, e conseguiu a vaga atual após ter sido indicado por um
dos colegas da rede de contatos, a maioria feita na época em que
estudou no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
Aos
20 anos, Portella sofreu um acidente de carro que causou traumatismo
craniano encefálico e o deixou, por exemplo, com a fala
entrecortada.
Terminou
a graduação em outra universidade, e depois se especializou em
tecnologia.
Ao
longo da vida, ele diz que já percebeu que sua deficiência o
atrapalhou na hora de conseguir uma vaga, apesar da qualificação.
Mesmo
já tendo trabalhado em vagas para PCD, Portella tenta dar
preferência para posições sem essa especificidade - em especial
porque tem dificuldade em encontra vagas para PCD com salário
compatível à sua formação.
"Quando
eles veem meu currículo, me chamam, mas esperam um outro quadro, uma
outra pessoa.
E
quando me veem acham que não posso exercer a função", diz.
Mesmo
assim, Portella diz que não deixa mais isso incomodá-lo, pois "se
vira bem", e quando se sente nessa situação, desiste
imediatamente dos processos.
Para
Haber, da iSocial, o maior desafio para que a inclusão de PCDs seja
feita de forma mais efetiva é a percepção de quem comandará o
profissional.
"Acho
que o RH já está sensibilizado, mas ainda sinto resistência dos
gestores, que acham que o PCD vai entregar menos e dar mais
trabalho", diz.
Esse
preconceito, segundo ele, acaba vindo justamente da falta de
informação gerada pela pouca convivência com pessoas com
deficiência no dia a dia.
"Se
o ambiente estiver adaptado, ele vai produzir o mesmo que os outros."
O
engenheiro eletricista W., que prefere não se identificar, chegou a
ficar um ano sem trabalhar, depois de sair de um emprego na área de
energia quando o projeto em que atuava foi paralisado.
Durante
o período, procurou diversos tipos de vagas não voltadas para PCDs.
Recentemente,
foi contratado como profissional com deficiência em uma empresa de
telecomunicações, onde aceitou uma vaga júnior e vai recomeçar a
carreira.
"Eu
precisava trabalhar e me dispus a entrar no nível inicial, em uma
área completamente nova", diz.
W.
tem visão monocular ocasionada por um descolamento de retina que
aconteceu antes de ele começar a faculdade.
"Já
havia trabalhado sem o recurso [PCD], porém como via que estava
sendo prejudicado por causa da minha necessidade, tentei também
cargos com esse perfil para ampliar as oportunidades, e deu certo",
explica.
A
rede de lojas Magazine Luiza começou neste ano um programa de
inclusão mais intenso para contratar profissionais com deficiência
e preencher a cota legal de 5% do quadro de funcionários.
Atualmente,
a empresa não possui nem metade disso.
"Sentíamos
que faltava olhar de frente para essa questão", diz Ivone
Santana, gerente de comunicação corporativa e sustentabilidade.
Primeiro,
a rede fez uma pesquisa com todos os PCDs contratados para saber como
poderia se preparar melhor para recebê-los.
Em
seguida foi lançada uma campanha para acabar com a noção de que
PCDs não produzem da mesma forma que outros profissionais.
A
equipe de gestão de pessoas, incluindo os gestores locais espalhados
pelo Brasil responsáveis pelo recrutamento das lojas, também foi
treinada para abordar mais diretamente a inclusão.
A
companhia também está adaptando todos os softwares para que cegos e
pessoas com outros tipos de deficiência possam usá-los.
Além
disso, oferece cursos de linguagem brasileira de sinais (Libras) para
as equipes das lojas que contratarem profissionais com deficiência
auditiva.
Ivone
diz sentir dificuldade para encontrar profissionais qualificados, e
oferece capacitação para posições mais operacionais.
"Tem
um grupo grande de companhias querendo contratar, mas que não
consegue", diz.
Como
as experiências que tiveram com empresas de recrutamento não foram
bem sucedidas, o objetivo agora é criar um ambiente que atraia mais
PCDs, para atingir a cota em um ano.
Em
2013, a meta é efetuar 800 contratações.
No
Itaú Unibanco, que hoje emprega mais de quatro mil profissionais com
deficiência e já cumpriu a cota de 5% há cerca de dois anos, o
foco agora é desenvolver os contratados.
"Como
já temos o número, trabalhamos na qualidade", diz Marcele
Correia, superintendente de atração e seleção.
Os
PCDs podem receber aulas de português, no caso de surdos,
informática com turmas específicas e bolsa de estudo para quem
ainda não terminou a graduação.
Também
é oferecido treinamento em Libras para a equipe e pessoas da
família.
O
banco, ainda, trabalha o assunto com os gestores por meio de um curso
de liderança.
Segundo
Marcele, encontrar profissionais é um desafio, mas hoje, além de
usar consultorias de recrutamento como parceiros, o banco recebe
muitas indicações por causa da boa reputação dos programas de
inclusão.
Foi
o que atraiu Cristiane de Lima Sanches, que entrou no Itaú por meio
de um programa de capacitação voltado para PCDs em 2009.
Aos
33 anos na época da contratação, este foi seu primeiro emprego.
Casada
aos 16, e hoje com quatro filhos, Cristiane estava há dez anos sem
procurar trabalho.
No
Itaú, começou como técnica administrativa na área de
recrutamento, pois estava decidida a trabalhar com recursos humanos.
"Os
desafios foram chegando e eu fui abraçando", diz.
Hoje
é analista júnior da área de pessoas, e já planeja continuar a
formação - no meio do ano quer começar a faculdade de psicologia,
um sonho antigo.
"Sempre
tive que passar por psicólogos na infância e adolescência por
causa da minha deficiência", explica.
Cristiane
sofreu um derrame aos seis meses de idade, o que a impossibilitou de
usar a mão direita da mesma forma que a esquerda.
"Desde
pequena fui estimulada a ser independente e me aceitar", diz.
Mesmo
assim, enfrentou resistência ao longo da vida, principalmente quando
o assunto era trabalho.
"Sempre
fui barrada dos processos seletivos e percebia que as pessoas ficavam
arredias quando viam que eu tinha essa deficiência", diz.
Hoje,
além da promoção, já recebeu três prêmios por cumprimento de
metas.
Fonte
– www.apabb.org.br
Cadeirantes
dão exemplo de superação
por
- Lígia Valezi
Há
pouco mais de um mês Beatriz Radomille, 15 anos, vai ao São Caetano
Esporte Clube às sextas-feiras para ter aulas de tênis.
A
estudante é atleta desde pequena, porque já praticou basquete e
natação, além de ter disputado alguns campeonatos.
Cadeirante,
Beatriz é uma das alunas do programa de esporte adaptado, promovido
pelas secretarias de Esportes e Turismo e Direitos da Pessoa com
Deficiência de São Caetano.
Além
do tênis, a cidade também oferece cursos em outras modalidades, que
ocorrem desde o ano passado.
Fizemos
um levantamento com os alunos cadeirantes das escolas da cidade.
Eles
escolheram os esportes que gostariam de praticar e o tênis foi um
deles.
As
aulas começaram agora porque estávamos esperando as cadeiras
chegarem", contou a secretária de Direitos da Pessoa com
Deficiência, Lilian Fernandes.
O
projeto também tem apoio da CR Tênis, empresa que presta serviços
para o município.
A
prefeitura comprou duas cadeiras de rodas apropriadas para a prática
esportiva.
De
acordo com a secretária, elas são suficientes para a demanda de
alunos que são atendidos no momento (duas, mas outros cinco devem
começar as aulas nas próximas semanas).
As
cadeiras são mais baixas, com rodas mais inclinadas, há ainda
faixas que seguram as atletas presas à cadeira, além de uma rodinha
na parte traseira para dar mais firmeza no chão.
O
principal objetivo do programa é promover a inclusão social por
meio do esporte.
Apesar
disso, Lilian não descarta a possibilidade de investimento em
atletas de alto rendimento.
"O
projeto não serve apenas para o lazer, mas também como um
caça talento", avaliou a secretária.
Segundo
Lilian Fernandes, não há restrições de idade para participação
no projeto, mas os interessados devem morar em São Caetano.
Para
participar das aulas, basta fazer inscrição na sede da Secretaria
de Esportes e Turismo, que fica na rua Osvaldo Cruz, 2010.
Beatriz
aprovou os treinos e já sente reflexo no corpo.
"Antes
não tinha muita mobilidade, andava mais devagar.
Além
disso, agora tenho uma cabeça melhor, porque tem pessoas com
problemas muito piores do que os meus que conseguem se superar",
avaliou a garota, que nasceu com problema na espinha.
ADAPTAÇÃO
O
tênis adaptado praticamente não sofre alterações em suas
estruturas ou regras.
A
única diferença, explicou o professor Luiz Otavio Martins França,
é que a bola pode dar dois quiques no chão antes de ser rebatida
pelo jogador.
Isso
porque os atletas levam mais tempo para se locomover, pois precisam
empurrar a cadeira e ainda segurar a raquete.
O
treinador também explicou que não sente diferença na hora da aula.
"Para
mim, não vejo dificuldade gritante ou acentuada ao ensinar.
A
única coisa é que passamos por expectativas diferentes com cada um
dos alunos.
Como
qualquer um, eles têm suas dificuldades", disse Luiz.
Além
disso, o professor encara as aulas com uma grande troca de
experiências.
"A
própria superação de estarem aqui diz tudo sobre essas alunas.
São
muito esforçadas, alegres.
Depois
de uma aula a gente sai diferente da quadra", declarou o
treinador.
Modalidade
ajuda recuperação de aluna
Modalidade
é responsável pela recuperação da aluna Ana Ribas Dalcollina, 53
anos, daquelas pessoas que contagiam qualquer um a sua volta.
Quem
a vê hoje nas aulas de tênis adaptado em São Caetano nem imagina o
que ela passou há 22 anos.
Um
acidente de carro no trajeto entre Curitiba e São Paulo foi
responsável por impedir que a aposentada voltasse a andar.
Na
época, ela atuava como instrutora de tênis.
A
modalidade estava presente em sua vida desde os onze anos, quando
começou a jogar.
"Passei
quatro meses hospitalizada com uma série de problemas para superar."
Ana
até esboçou retorno às quadras algumas vezes, mas sem sucesso.
"Não
tinha tempo porque cuidava da minha mãe que estava doente e também
tinha meu filho.
Mas
agora estou numa fase que posso pensar em mim", comentou.
O
segredo da superação?
Ana
explicou:
"Todo
mundo diz que sou uma pessoa alto astral, mas passei por problemas e
fui em frente.
Devo
tudo isso ao tênis, porque quando fui atleta aprendi a ter
disciplina, determinação.
Foi
isso que meu deu forças para continuar", declarou.
Fonte
– www.dgabc.com.br
O mercado de trabalho deveria abrir mais vagas de empregos para os deficientes dando-lhes mais oportunidades para mostrarem sua capacidade e inteligência profissional e também oportunidades em cargos de liderança conforme seus conhecimentos, promovendo assim a real e concreta inserção e inclusão dos deficientes no mercado de trabalho e na sociedade tendo os mesmos direitos de cidadão membro desta sociedade, sem nenhum preconceito ou discriminação. Assim teremos uma sociedade mais justa e humana para com todos.
ResponderExcluirOlá..eu li o seu blog achei mto relevante pois aborfa um tema que não é tão lembtado pelas autoridades.
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